Quando a cura vem do coração

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“A Vida é Bela”, comédia dramática ambientada na dura realidade da Segunda Guerra Mundial, traz um pai preocupado em “distrair” o filho dos horrores que os rondam no caminho para o campo de concentração nazista. E por isso tenta fazer tudo parecer uma aventura, uma brincadeira, porque sabia que uma infância sem sonhos é terra fadada à infertilidade.

Parecido ocorrera em meados de 2002 quando Fátima Regina e um grupo de amigas buscaram fazer da oncologia pediátrica do Hospital Maternidade São Vicente de Paulo, em Barbalha, um chão encantado. Mas das visitações para incentivar leituras e entreter as crianças, elas viram a necessidade de ir além.

Com olhos atentos e acolhedores, perceberam que problema que atingia as crianças, atingia, com maior intensidade e pesar, as mães que tinham de deixar emprego, casa e os demais filhos para seguir um calvário silencioso. E o mais difícil: sem o amparo dos maridos. Muitos iam embora. Não aguentavam a travessia. Elas, entretanto, permaneciam, somatizando dor e sofrimento.

Foi vendo-as sem cama, pernoitando em cadeiras desconfortáveis e alimentando-se apenas da comida oferecida pelo hospital, que decidiram fundar o IACC – Instituto de Apoio à Criança com Câncer. Mas esse sonho, composto no cotidiano, só fora concretizado em 2010.

(Fátima Regina – a terceira da esquerda para a direita – e as meninas que ajudam a polvilhar esperança nos calvários silenciosos de muitas mães. Foto: Patrícia Silva)

Antes, com a ajuda de amigos, iam tentando amenizar os desconfortos com pequenos gestos. “A gente ia conseguindo ventilador, roupa, remédio. Mas aí a gente já tinha visto e somado tanta necessidade de uma acomodação, principalmente, praquelas que vêm de cidades distantes, passando, às vezes, mais de vinte dias sentadas, aquilo desgastava muito a mãe, porque ela ficava pensando naquilo que tinha deixado pra trás, porque ela deixa a vida dela”, Fátima recorda.

Assim, fizeram de uma preocupação um serviço aos seus irmãos. O gesto, de tão poético – e profético – até rima. A vida se ressignifica quando bem cuidada. Foi assim com aquele pai de “A Vida é Bela”. Foi assim com o IACC.

Oito anos depois, Fátima e tantas outras mulheres continuam a gastar a vida fazendo o bem, porque compreenderam que o remédio que faria amenizar tanta dor, tanto sofrimento estava no afeto, na solidariedade e na compaixão. “O projeto tem que nascer do coração. Se ele não nasce e busca vanglórias, reconhecimento, ele se torna o ferrugem da sociedade”.

Casa que acolhe

O IACC é, de longe, parecido com casa de vó. É grande (com 03 quartos, 02 banheiros, 02 cozinhas, 02 salas de tevê, 01 brinquedoteca, 01 sala de jogos, 01 pátio e 01 refeitório) bem arrumado, colorido, com jardim e camas povoadas por bichinhos de pelúcia e crianças (vindas dos mais variados recantos do Cariri e que, ao todo, somam 53) sendo elas mesmas: pulando, correndo, brincando.  As cores são formas de representar a variedade de histórias, tecidas por um mesmo sacrifício: cuidar. Por lá, são oferecidos serviços de hospedagem, alimentação e o mais importante: acolhida.

Vanda Lúcia que o diga. Mãe do José Felipe, de oito anos, conta que há três o leva para tomar medicação no hospital, três vezes por semana. Quando questionada sobre a presença do IACC na vida dela e do filho, suspira, cruza as mãos com força e as aperta contra o peito: “Ah, aqui é mesmo que a gente tá em casa!”.

(José Felipe que há três anos luta contra um linfoma. Foto: Patrícia Silva)

Mas, agora, com a notícia do fechamento da oncologia pediátrica (a única em toda região) as mães se veem em apuros. Por isso, o Instituto conta com a ajuda de uma porção de gente (de todos os credos e raças) para sensibilizar os governantes. Para formar uma grande força, capaz de ecoar Cariri a fora, é simples: basta dirigir-se à própria sede (que fica à Rua Divino Salvador, 222 – Centro, Barbalha – CE) ou ligar para o telefone: (88) 3532-3743. Também pelo site: http://www.iacccariri.org.br/

Às vésperas da semana que, tão santa, conclama todos os cristãos à oração, ao silêncio e à reflexão, a caridade de Cristo, que deu a vida pelos amigos, é que haverá de ser inspiração para o agir, acredita Fátima Regina. E valem doações de todo tipo (roupas, alimentos, principalmente frios, brinquedos, livros didáticos, etc). Vale até cabelo. “Arrumando direitinho, a gente manda para quem entende e sai uma bonita peruca, principalmente, para as adolescentes”, brinca Fátima Regina.

 

 

 

 

 

 

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