“Há cento e quarenta e dois anos, um homem muito feliz

O grande [Dom] Antonio Luiz, que não tinha desenganos

Fez Seminário com planos para ficar na memória

E hoje a sua glória, diz no meu vocabulário,

Hoje nosso seminário comemora a sua história…”*

 O Seminário São José de Crato completa hoje, 07 de março, 142 anos de existência. A casa de formação para sacerdotes católicos, no decurso desse tempo, destaca-se como a primeira instituição de ensino no interior do estado. O imponente prédio, frontispício da cidade do Crato, em bom estado de conservação, acomoda 42 seminaristas oriundos das dioceses de Crato e Iguatu. É no Seminário que funciona o Instituto Diocesano de Filosofia e Teologia, onde se desenvolve o ensino destes dois cursos.

Da inauguração do Seminário

Contam-nos os registros do “Álbum do Seminário do Crato: 1875-1925” que por volta de 1872, os padres lazaristas, missionários enviados à nossa região a pedido de Dom Luiz Antonio dos Santos, primeiro bispo do Ceará, compreenderam a necessidade de fundar uma “casa de ensino” para servir a zona do Cariri e dos sertões vizinhos.

Essa necessidade já havia sido constatada e sugerida tempo antes por Padre Cícero Romão Batista, recentemente ordenado. Desejava o jovem padre cratense que o bispo do Ceará instituísse um seminário congênere ao de Fortaleza, Seminário da Prainha. Com a constatação dos padres lazaristas, Dom Luiz deu-se pressa em lançar os fundamentos deste Casarão. A mando do mesmo bispo, Padre Lourenço Vicente Enrile, missionário lazarista em Fortaleza, professor de teologia moral, foi destinado à vir adiantar a construção do Seminário – ele também foi o primeiro reitor do Seminário.

Ao Crato, Dom Luiz chega em 31 de dezembro de 1874, para alegria dos cristãos caririenses. O bispo do Ceará já havia prestigiado a cidade em duas outras visitas. E, com o coração ardoroso pela presença do animado e respeitável pastor, logo os fiéis não mediram esforços, colocando-se ao lado do bispo nesta grande empreitada. Relata-se que Dom Luiz encorajava o povo e “com sua palavra apostólica, as paredes subiram com relativa presteza”. Na construção, muitos homens cooperaram: patrões mandavam seus trabalhadores para ajudar como operários, todos sob o comando de Pe. Enrile, a qual prestavam as mais vivas demonstrações de respeito. Ressalte-se a grande contribuição de Padre Cicero e do povoado de Juazeiro, que juntos, fizeram encher muitos metros de alicerce, em um único dia.

Por mais esforços que tivesse empenhado na obra, esta se demorava. Sem querer retardar o início das aulas, pensou o bispo em inicia-las num prédio alugado. Em carta datada de 08 janeiro de 1865, com objetivo de pedir mais missionários lazaristas para o Crato, Dom Luiz relata a situação das obras ao padre visitador dos Lazaristas no Brasil:

“Estou na cidade do Crato para onde vim tratar do Seminario, cuja fabrica está bem principiada, donde não ‘sahirei’ sem deixa-lo funcionando, no novo edifício, situado no mais aprazível e salubre bairro desta cidade. Como não é possível concluir já uma parte da nova casa, vou nos princípios de março abrir o Seminario em um prédio alugado, a fim de aproveitarem os estudantes, que esperam a abertura do Seminario e não ficar o ‘anno’ letivo defeituso”.

O bispo do Ceará possuía espírito tenaz, cuja somente a fé era possível alimentar tamanha coragem. Não se encontrou nenhum prédio que pudesse ser alugado para receber os alunos, sendo necessário então improvisar-se um. Assim, o bispo mandou construir nas dependências do mesmo terreno, uma capelinha de taipa, sob o teto de palha. Ao redor, uns barracões que serviriam de salas de aula e dormitórios. Foi nessas condições que se abriu a primeira escola de ensino do interior do Ceará.

“Já passaram por aqui, foi muito dos sacerdotes

No qual Deus já deu os dotes do Vale do Cariri

Para nunca desistir, ficar nessa trajetória

Dizer que aqui não ignore, nem dizer ao contrário

Hoje nosso Seminário comemora a sua história…”

Enquanto o seminário funcionava nos barracões, o prédio logo terminou parte da conclusão. Em julho deu-se então a inauguração da parte sul do Seminário. Da capelinha de palha, uma estaca foi plantada, dando origem a uma copada sombra de pau d´arco, presente ainda hoje num dos átrios do Seminário. Assim, em agosto do mesmo ano, o grande bispo do Ceará cumpriu sua palavra: o Seminário estava edificado. E pode, então, regressar à capital.

Curiosidades do Seminário

A existência do Seminário é anterior à criação da Diocese de Crato, sendo inicialmente apenas uma extensão do Seminário de Fortaleza – Diocese do Ceará. Depois da criação de nossa Diocese (1914), em março de 1922, é que o Seminário passou a ser chamado Seminário Maior da Diocese de Crato.

No regulamento do Seminário havia algumas determinações práticas, como por exemplo, o ano letivo iniciava em 1.º de março e só terminava em 30 de novembro, com descanso domiciliar quinzenal, no mês de julho.

O exigente estudo geral abrangia as matérias de Filosofia, História universal e natural, Física e Química. Os estudos teológicos abrangiam: Teologia moral e dogmática, Direito canônico, História eclesiástica, Escrituras sagradas e Eloquência sagrada. Além disso, o canto gregoriano era estudado continuamente por todos os alunos, assim como os idiomas: Português (6 anos), Latim (5 anos), Francês (4 anos) e Inglês (2 anos). Era preciso aprender Aritmética, Álgebra, Geometria e Trigonometria, Geografia, História da Pátria, Literatura, História Sagrada, Catecismo e Civilidade.

Tradicional Festa de São José

O aniversário do Seminário de Crato é comemorado em meio às festividades em honra do santo patrono, São José, que geralmente se iniciam no dia 1.º de março e se estendem até o dia 19. Hoje, o bispo diocesano, Dom Gilberto Pastana, celebrará a sétima noite dos exercícios espirituais de São José, rendendo graças também pelo “Casarão de São José”.

Bicentenário de Nascimento de Dom Luiz

Neste ano, enriquece-nos mais ainda esta comemoração por fazermos a memória, no próximo dia 13, do Bicentenário de Nascimento de Dom Luiz. Em louvor ao “Jubileu Bicentenário”, a ADSUM – Associação dos Ex-alunos do Seminário de São José de Crato comemorará com uma rica e intensa programação, com um encontro dos ex-alunos nos dias 10, 11 e 12.  O evento contará ainda com uma exposição na Sala Magna do Seminário, de documentos, objetos e paramentos usados por Dom Luiz, pertencentes à Diocese de Crato; e ainda, com a inauguração da “Praça Dom Luiz”, obra do Governo do Ceará, localizada na Encosta do Seminário, em frente ao Casarão.

“Dizendo com mais vontade, com o momento exato,

Foi lá no alto do Crato, para dizer a verdade,

Que esta nossa cidade vai ficar nessa memória

Usando da trajetória, com linha, data e horário

Hoje nosso Seminário comemora a sua história…”

É com muita alegria e honradez que primamos pelo nosso Casarão. Não apenas na conservação do histórico prédio, mas pelos sacerdotes e outros homens de bem que aqui estudaram. Por toda essa graça, Louvado seja Deus!

*Hoje nosso Seminário comemora a sua história. Poesia do Seminarista Cicero da Silva, O repentista.