A estudante Mariana Severo, como uma boa jovem cristã, tenta viver a quaresma conforme a Santa Igreja conclama: piedosamente. Além de ser um tempo onde dedica-se mais à oração, meditando o terço, fazendo jejum e penitência, também busca algumas mortificações, como, por exemplo, comer algum legume ou verdura que não aprecia ou tomar café sem açúcar, deixar de comer aquele doce de sua predileção e até mesmo dormir sem travesseiro (que, para ela, é apenas para ajudar a não perder o sentido do sacrifício ao longo do dia).
Ir à missa aos finais de semana e comungar é compromisso sério para a oficiala de Justiça, Sandra Barbosa Duarte, que não come carne na Sexta-feira e, junto com os apóstolos do Movimento Sacerdotal Mariano, faz a Via-Sacra na sua paróquia, uma vez por semana. Diz ainda que procura ser mais misericordiosa, ajudando aos mais necessitados, abre mão de algumas coisas que gosta de fazer, para viver a penitência, e procura relevar as ofensas e perdoar quem a magoa.
Professora aposentada, Mirtes Leal, de igual modo, busca viver este tempo litúrgico à risca. “Tento viver o que Jesus Cristo nos pede: a oração, a penitência e o jejum. Também já há alguns anos faço o roteiro do “Retiro Espiritual Popular” de Dom Alberto Taveira. Me ajuda muito na vivência desse tempo. Faço minhas Penitências vivendo a prática do dia a dia e assim vou procurando ficar mais íntima de Deus e mais próxima do próximo. Acho muito importante – e deve ser trabalhado em todos os setores da sociedade e no dia a dia, nas nossas próprias casas, nas famílias, nas pequenas coisas – a Campanha da Fraternidade (CF).
E esse, talvez, seja o maior desafio do cristão na atualidade, diz o bispo diocesano, Dom Gilberto Pastana que, em comunhão com toda a Igreja do Brasil, abriu oficialmente a CF deste ano, nesta quarta-feira (01).
De acordo com o pastor, cuidar, guardar e proteger os biomas como um dom de Deus (tema da Campanha) também podem – e devem – ser tomados como um exercício espiritual (caminho de oração e discernimento que possibilitam configurar a vida a Jesus Cristo, segundo Santo Inácio de Loyola), não apenas neste período, mas a vida toda.
“Uma vez que este ano nós vamos refletir sobre os biomas, é necessário que a gente proteja, cuide, para que a vida seja preservada. Cuidar do bioma, é cuidar também da vida humana, afinal, a vida humana depende dos biomas. Então, cuidemos para que possa ter sempre vida em abundância para todos”, orienta o bispo.
Propósito da Campanha
A cada ano, a Igreja destaca uma situação da realidade social que precisa ser mudada. Este ano, o objetivo é dar ênfase à diversidade de cada bioma e criar relações respeitosas com a vida e a cultura dos povos que neles habitam, especialmente à luz do Evangelho.
Em mensagem enviada aos brasileiros sobre a Campanha da Fraternidade 2017, que tem como tema “Fraternidade: biomas brasileiros e defesa da vida” e o lema “Cultivar e guardar a criação” (Gn 2,15), o papa Francisco exalta que “o criador foi pródigo com o Brasil. Assim, comunidades, famílias e cidadãos são conclamados à conscientização e à profunda conversão interior.
Para saber sobre os biomas brasileiros, clique na entrevista produzida pela Rádio Vaticano:
Leia a mensagem do Papa Francisco dedicada à Campanha da Fraternidade 2017
Queridos irmãos e irmãs do Brasil!
Desejo me unir a vocês na Campanha da Fraternidade que, neste ano de 2017, tem como tema “Fraternidade: biomas brasileiros e defesa da vida”, lhes animando a ampliar a consciência de que o desafio global, pelo qual toda a humanidade passa, exige o envolvimento de cada pessoa juntamente com a atuação de cada comunidade local, como aliás enfatizei em diversos pontos na Encíclica Laudato Si’, sobre o cuidado de nossa casa comum.
O criador foi pródigo com o Brasil. Concedeu-lhe uma diversidade de biomas que lhe confere extraordinária beleza. Mas, infelizmente, os sinais da agressão à criação e da degradação da natureza também estão presentes. Entre vocês, a Igreja tem sido uma voz profética no respeito e no cuidado com o meio ambiente e com os pobres. Não apenas tem chamado a atenção para os desafios e problemas ecológicos, como tem apontado suas causas e, principalmente, tem apontado caminhos para a sua superação. Entre tantas iniciativas e ações, me apraz recordar que já em 1979, a Campanha da Fraternidade que teve por tema “Por um mundo mais humano” assumiu o lema: “Preserve o que é de todos”. Assim, já naquele ano a CNBB apresentava à sociedade brasileira sua preocupação com as questões ambientais e com o comportamento humano com relação aos dons da criação.
O objetivo da Campanha da Fraternidade deste ano, inspirado na passagem do Livro do Gênesis (cf. Gn 2,15), é cuidar da criação, de modo especial dos biomas brasileiros, dons de Deus, e promover relações fraternas com a vida e a cultura dos povos, à luz do Evangelho. Como “não podemos deixar de considerar os efeitos da degradação ambiental, do modelo atual de desenvolvimento e da cultura do descarte sobre a vida das pessoas” (LS, 43), esta Campanha convida a contemplar, admirar, agradecer e respeitar a diversidade natural que se manifesta nos diversos biomas do Brasil – um verdadeiro dom de Deus – através da promoção de relações respeitosas com a vida e a cultura dos povos que neles vivem. Este é, precisamente, um dos maiores desafios em todas as partes da terra, até porque as degradações do ambiente são sempre acompanhadas pelas injustiças sociais.
Os povos originários de cada bioma ou que tradicionalmente neles vivem nos oferecem um exemplo claro de como a convivência com a criação pode ser respeitosa, portadora de plenitude e misericordiosa. Por isso, é necessário conhecer e aprender com esses povos e suas relações com a natureza. Assim, será possível encontrar um modelo de sustentabilidade que possa ser uma alternativa ao afã desenfreado pelo lucro que exaure os recursos naturais e agride a dignidade dos pobres.
Todos os anos, a Campanha da Fraternidade acontece no tempo forte da Quaresma. Trata-se de um convite a viver com mais consciência e determinação a espiritualidade pascal. A comunhão na Páscoa de Jesus Cristo é capaz de suscitar a conversão permanente e integral, que é, ao mesmo tempo, pessoal, comunitária, social e ecológica. Reafirmo, assim, o que recordei por ocasião do Ano santo Extraordinário: a misericórdia exige “restituir dignidade àqueles que dela se viram privados” (Misericordia vultus, 16). Uma pessoa de fé que celebra na Páscoa a vitória da vida sobre a morte, ao tomar consciência da situação de agressão à criação de Deus em cada um dos biomas brasileiros, não poderá ficar indiferente.
Desejo a todos uma fecunda caminhada quaresmal e peço a Deus que a Campanha da Fraternidade 2017 atinja seus objetivos. Invocando a companhia e a proteção de Nossa Senhora Aparecida sobre todo o povo brasileiro, particularmente neste Ano mariano, concedo uma especial Bênção Apostólica e peço que não deixem de rezar por mim.
Vaticano, 15 de fevereiro de 2017





