HOMILIA DO 3º DOMINGO DO ADVENTO – ANO A – “GUADETE”

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ALEGRAI-VOS, POIS SOMOS PROFETAS CHAMADOS A ANUNCIAR O SALVADOR!

É Ele que vem para vos salvar”. (Is 35,4)

           Enquanto nos aproxima a cada domingo da vila de Belém, nossa caminhada espiritual do Advento nos recorda que Deus tem um plano de salvação e de vida plena para oferecer a toda humanidade afim de fazê-la passar das trevas do pecado à luz da Graça divina (Cl 1,12-13 / 1Pd 2,9). Aprofundando a reflexão sobre a vocação dos profetas iniciada no domingo passado, o Evangelho nos convida novamente a voltar nosso olhar para João Batista, a “voz” que prepara os homens para acolher Jesus Cristo, a “luz” do mundo. O objetivo de João nunca foi centralizar em si as atenções; ele, ciente de sua missão, deseja levar os seus ouvintes a acolher, “conhecer” e “reconhecer” Jesus, o Messias de Deus Pai, que traz a revelação definitiva do amor divino com uma proposta de vida e liberdade plena para os seres humanos.

            Na primeira leitura (Is 35,1-6a.10), o profeta Isaías apresenta-se aos habitantes de Jerusalém como mensageiro do “ano da graça” vinda de Deus. Depois de nos delinear, nos domingos anteriores, as transformações radicais que a presença do Messias realizará na humanidade e em toda a criação, Isaías convida todos os seres humanos a exultarem por tão grande redentor. Não é à toa que Isaías foi chamado pelos Santos Padres da Igreja de “ProtoEvangelho”, pois ele, dentre todos os 18 livros proféticos, destaca-se por apresentar oráculos messiânicos em abundância. Este profeta, ungido pelo Espírito, reconhece que sua missão é anunciar um tempo novo, de vida plena e de felicidade sem fim, um tempo de salvação que Deus vai oferecer aos “pobres”. No contexto bíblico, o termo “pobre” não significa meramente uma categoria sociológica, mas sim uma categoria espiritual. Por isto, são citados como exemplo os fracos, deprimidos, cegos, surdos, coxos, mudos e exilados. Os pobres são os carentes de bens, e que tiveram sua dignidade, liberdade e direitos violados; e que por isto, são considerados os preferidos de Deus e o objeto de sua especial proteção e ternura (Cf: salmo 145).

            E se somos objetos da ternura e da misericórdia de Deus, devemos nos esforçar para viver a altura de tão sublime afeição. Assim, na segunda leitura (Tg 5,7-10), São Tiago explica aos cristãos da sua comunidade – e para nós também – qual é a atitude vital que precisamos assumir enquanto esperamos o Senhor que vem ao nosso encontro. Tiago afirma ser necessário que sejamos uma comunidade de corações fortalecidos pela prática da fé; uma comunidade santa e irrepreensível. Como um agricultor que espera e contempla o fruto de seu labor, nós cristãos devemos viver alegres, em atitude de louvor, de adoração e com verdadeiro testemunho da fé, abertos aos dons do Espírito e aos desafios que o anúncio do Evangelho nos impõe. Só assim estaremos aptos a esperar a segunda vinda do Senhor.

            O Evangelho de hoje (Mt 11,2-11), ao apresentar os últimos momentos da missão de João Batista e os primeiros passos da missão de Jesus, parece querer realizar o desejo do profeta precursor que clamava pelas terras da Galiléia: “É preciso que Ele cresça e eu diminua.” (Jo 3,30) Em meio a sociedade em que vivemos, sobrecarregados de ansiedades, complexos e tão preocupados em sermos vistos e valorizados numa perigosa estrada egocêntrica, a atitude de João Batista é um grito ensurdecedor que nos recorda que não somos o Messias, somos também anunciadores de sua vinda e de sua presença redentora. Não somos a Luz, nós apontamos para a Luz.

            João Batista retira de si a centralidade e envia os seus discípulos até Jesus. Eles já não mais serão seus discípulos. Uma vez encontrando o Messias, passarão a ser seus discípulos; serão cristãos. Infelizmente, mesmo depois de transcorridos tantos séculos, aparentemente ainda não conhecemos Jesus Cristo. Por isto, andamos tão preocupados em defender nossas ideologias mesmo sabendo que elas não nos trarão nunca a salvação que nossos anseios desejam. É o batismo do Messias (batismo no e do Espírito Santo) que transformará totalmente os corações dos seres humanos. Somente Ele nos fará livres e nos dará a vida em abundância.

Anunciado por João Batista, Jesus Cristo já está presente, realizando e atualizando a sua obra libertadora e redentora. Em consequência disto, o evangelho de hoje nos recorda que a exigência essencial de nossa fé é que procuremos conhecê-lo e amá-lo. Portanto, para viver nossa missão, é justo e necessário, escutá-lo e acolher a sua proposta de vida e de libertação redentora.

            A resposta que Jesus envia a João por meio de seus discípulos sobre os sinais do Reino sendo realizados revelam o alvorecer da salvação descrita pelo profeta Isaías na primeira leitura e cantada pelo poeta no salmo 145, meditado hoje. Como uma terra sequiosa e estéril que é transformada em manancial e oásis florescente pela chuva abundante, a humanidade marcada pelo sofrimento das doenças, guerras e morte, é curada e convertida em povo exultante cujas palavras e vida são sinais de que o Reino dos Céus chegou. Sem que os poderosos percebam, a salvação já desabrochou e se encontra misteriosamente presente em um Deus-Homem, mas ainda se prepara para ser realizada em plenitude no dia de sua Morte e Ressurreição.

Diante da atitude de submissão que João tem ante a sua presença, Jesus o exalta por seu serviço que preparou o caminho para o início do seu ministério. Suas últimas palavras permanecem sendo uma advertência para nossa sociedade repleta de corações aspirantes a grandiosidade autorreferencial. Para aqueles que desejam ser “grandes” não existe outro caminho a não ser a estrada apresentada por João Batista (cf: Mt 20,25-28; Mc 10,42-45; Lc 22,24-27; Jo 13,1-17), pois todos aqueles que trabalham para o Reino de Deus serão um dia tão grandes quanto João e até maiores que ele.

Pe. Paulo Sergio Silva

Paróquia Nossa Senhora da Conceição – Porteiras

Paróquia Nossa Senhora das Dores – Jamacaru.

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