HOMILIA DO 1º DOMINGO DO ADVENTO – ANO A

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VIGIAR PARA ACOLHER A SALVAÇÃO QUE VEM DE DEUS

Por isso, também vós ficai preparados! Porque na hora em que menos pensais, o Filho do Homem virá”. (Mt 24,44)

            Como esta celebração iniciamos o Advento, tempo litúrgico que possui como característica o inegável apelo a conversão, a vigilância e a esperança. Serão quatro semanas que nos conduzirão até Belém. Naquele pequeno povoado, enfim, contemplaremos a salvação que vem de Deus. Sendo assim, a liturgia da Palavra nos convida a analisar e avaliar a nossa caminhada pelos caminhos da história, enquanto nos indica ações e atitudes concretas que nos orientam sobre o modo correto de vivenciar esse tempo de espera.

            A primeira leitura (Is 2, 1-5) anuncia um novo começa para o eleito. As palavras do profeta falam da possibilidade do povo de Israel, que está cativo na Babilônia, novamente se encontrar com seu Deus libertador e salvador. No seu oráculo, Isaías apresenta o caminho reverso do episódio da Torre da Babilônia: no início dos tempos por causa da sua arrogância, ganância, orgulho e a autossuficiência, a humanidade recusou o projeto de Deus e se perdeu na violência, na guerra e na imbecilidade que resulta na dispersão de todos os povos pelo mundo. No futuro, quando se arrependerem dos erros do passado, os seres humanos escutarão novamente ao Senhor e seguindo os seus divinos caminhos, se reunirão outra vez como um só povo, e alcançarão a sabedoria que produzirá a paz universal. Assim, Deus é visto com características de pai e redentor, no sentido de vir ao encontro para libertar do pecado e para recriar um Povo de coração convertido e santo. Este oráculo de Isaías traz algo inovador porque apresenta não apenas o povo de Israel, mas sim todas as nações se encaminhando a Jerusalém para lá se deixar moldar pelos ensinamentos de Deus. O profeta sabe que é através do encontro com o Senhor e com a sua Palavra que surgirá um mundo de fraternidade e de paz sem fim. O seu oráculo revela que esta paz infinita não acontece como em um passe de mágica, mas em um processo percorrido na história. Ao encontrarem-se com Deus e ouvirem sua Palavra, as nações compreenderão a inutilidade das guerras e transformarão as armas (até então instrumentos de morte) em instrumentos de trabalho que produzirão alimentos. A essência de Deus é amor e misericórdia, por isto a convivência com Deus produzirá uma vida sem conflitos e de paz em abundância. Olhando para o nosso mundo atual, estamos dispostos a acolher Jesus, nos converter e aceitar as propostas que Deus, através d’Ele, nos faz?

            São Paulo, na segunda leitura (Rm 13, 11-14) e em comunhão com o profeta Isaías, reconhece que a ação redentora de Deus, concretiza-se através de seu Filho, Jesus, e das propostas que Ele veio fazer aos seres humanos. Em vista disto, o Apóstolo faz uma exuberante exortação para que os cristãos despertem da apatia e do desinteresse que os mantém escravos da influência das trevas (gula, egoísmo, bebedeira, injustiça, orgias, imoralidade, guerras mentira e tudo mais que é sinal do mal e do pecado). Provavelmente com estas palavras, o Apóstolo está vislumbrando a iminente segunda vinda de Jesus Cristo, a fim de concluir a história da salvação. Todavia, podemos perceber que Paulo não está preocupado em quando, onde ou como acontecerá isto. Ele está apreensivo é com o “hoje” dos cristãos, ou seja, ele sabe que Jesus ao encerrar sua missão, incumbiu os discípulos de serem testemunhas da salvação até os confins do mundo. Ao serem batizados, os cristãos renasceram para uma vida nova, por isto, não podem viver apáticos e de olhos voltados para o vazio do espaço enquanto vivem uma vida ainda marcada pelo pecado vivido no dia a dia.  Eles devem renunciar a tudo aquilo que a humanidade viveu antes de Cristo e uma vez revestidos da dignidade dada pelo Batismo que os introduz na filiação divina, viver concretamente o amor e o serviço que são a base da fé. Parafraseando São João Maria Vianey, os cristãos devem viver a sua vida como se fosse o primeiro dia, o único dia, o último dia[1]. Estamos renunciando àquilo que é sinal da presença do mal e que nos é “oferecido” diariamente pelo mundo? Estamos nos esforçando para viver no dia a dia aquilo que já somos na essência, isto é, vivemos como filhos de Deus?

No Evangelho (Mt 24,37-44), por meio de uma parábola apresentada em três quadros, Jesus Cristo exorta os discípulos a enfrentar a história com coragem, determinação, coerência e esperança, animados pela certeza de que Deus vem ao seu encontro. Assim, ensina que esse tempo de espera deve ser um período de atenta prudência e sensatez.  Esta vigilância não deve ser entendida como um momento de inércia ou de acomodação, pelo contrário dever ser vivida como um tempo de compromisso ativo e coerência com a fé para que se possa realizar a construção do Reino já agora no hoje da história.

Para entender bem a perspectiva do advento é preciso ter em mente de que se trata de um tempo de espera e preparação para bem celebrar o nascimento do Messias (Natal), mas também tempo de espera e conversão tendo em vista a esperança da segunda vinda de Jesus Cristo (Parusia). Por isto, o texto que nos é hoje proposto como Evangelho nos transporta para Jerusalém, nos dias que antecederam a Paixão e Morte e Ressureição de Jesus. Depois da sua entrada em Jerusalém, Jesus inicia os dias de catequese escatológica com os discípulos e das polêmicas com os líderes judaicos como aparece também nos outros evangelhos (cf: Mc 11,1-33/12,1-44/13,1-37 e Lc 19,1-47/20,1-47/21,1-38).

 Para Mateus, mesmo que ninguém saiba o dia nem a hora da segunda vinda de Cristo, todos devem viver necessariamente vigilantes e coerentes. E esta necessidade ele apresenta em três imagens que englobam os três períodos que formam o tempo histórico: A humanidade na era de Noéo Passado – lembra aos cristãos que não devem fazer da busca pelo prazer a prioridade de sua vida, pois podem se perder na autossatisfação e no egoísmo e acabar não cumprindo sua missão no mundo; A vida cotidianao Presente – recorda que nem mesmo os compromissos e trabalhos necessários à sobrevivência devem levar a negligência do essencial: a preparação da vinda do Senhor; E o dono da casa e a imprevisibilidade do ladrãoo futuro – mesmo marcados pelos erros do passado e a rotina cansativa e tentadora do presente, os cristãos não devem, nunca, adormecer (viver na acomodação), pois isto pode levar à perda da oportunidade de encontrar o Senhor que vem de modo imprevisível.

Sendo assim, a atitude de vigilância que é expressão de esperança nas palavras de Jesus e também necessário testemunho de fé, nos convida a viver nossa missão de modo semelhante a quem prepara sua casa para receber uma estimada e amada visita familiar. Estejamos atentos a vida cotidiana porque do mesmo modo que Jesus Cristo apareceu de modo imprevisível na vida dos apóstolos naquela manhã na beira do mar da Galileia, ele poderá surgir novamente em nossa história em qualquer momento ou dia de nossa vida.

Se na época de Jesus o povo de Israel, por repetir os erros e pecados do passado e viver no comodismo letárgico da rotina cotidiana, perdeu a oportunidade de contemplar Deus nascido em Belém, na atualidade, nós não estamos muito diferentes deles. Guerras em abundância ao invés de vida em plenitude, idolatria a políticos e milionários, e cristãos se afirmando-se a favor do aborto, da tortura ou da pena de morte.

O cristão deve se esforçar para não deixar os erros do passado conduzirem sua vida, nem se deixa distrair ou cativar pelos bens deste mundo atual a ponto de viver obcecado com eles e os tornando o centro de sua vida e do seu coração. Mas, sim, no dia a dia, realizar a vocação que Deus lhe confiou, com coerência, testemunho de fé, empenho e responsabilidade, permanecendo vigilante com os olhos fixos no sempre presente amor de Deus.

Pe. Paulo Sergio Silva

Diocese de Crato.

Paróquia Nossa Senhora da Conceição – Porteiras.

Paróquia Nossa Senhora das Dores – Jamacaru.

 

[1] É atribuída ao Cura D’Ars a seguinte frase: “Sacerdote de Jesus Cristo, celebra esta missa como se fosse a tua primeira Missa, como se fosse a Única, como se fosse a Última.”

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