DIA MUNDIAL DOS POBRES
NÃO TENHAMOS MEDO, O SENHOR ESTÁ CONOSCO!
“… nascerá o sol da justiça, trazendo a salvação em suas asas.” (Ml 3,20)
Ao aproximar-se das últimas semanas do Ano Litúrgico, o Tempo Comum começar a passar sua voz para a mística e a pedagogia do Advento. Será ele, o Tempo do Advento, que nos introduzirá na vida celebrativa do novo ano litúrgico aos nos preparar para a chegada do Messias, Deus Menino e Salvador. Por isto, somos convidados a refletir sobre o sentido da história da salvação que nos ensina pela sua continuidade que a nossa morada final para onde Deus nos conduz é o novo céu e a nova terra da vida definitiva e que deve ser vivida desde já, no hoje de nossa história.
Na primeira leitura (Ml 3,19-20a), ouvimos um oráculo proclamado pelo profeta Malaquias. O seu nome significa “o meu enviado”. Malaquias exerce ser ministério profético na época do fim do exílio babilônico quando acontece a reconstrução do Templo, autorizada pelo imperador persa. O culto a Deus volta a ser realizado, todavia o povo continua ainda sobre dominação estrangeira (o império Persa). Esta situação levou o povo eleito a se tornar indiferente e preguiçoso a ponto de perder a confiança em Deus e duvidar do seu amor e sua justiça. A apatia acabou repercutindo na vida religiosa e litúrgica fazendo surgir um culto descuidado e sem vida. Sem um rito celebrativo vivo, o povo acaba também vivendo o desleixo na observância da Lei (a injustiça e a faltas morais e éticas aumentam). Ainda assim, o profeta exorta o povo a se levantar e recobrar ânimo. Deus já fez muito por eles no passado e por isto, eles não têm direito de duvidar do seu amor, da sua justiça e do seu zelo. O Templo foi reconstruído, agora a reconstrução do povo em si depende da dedicação e envolvimento de cada fiel. O Deus que os libertou do Egito e da Babilônia interferirá novamente no mundo. Ele fará nascer “o sol da Justiça” que derrotará as forças que oprimem e roubam a dignidade da vida. E a humanidade contemplará a salvação. Com o amadurecer da fé, este oráculo do profeta se tornou, para as comunidades cristãs, um forte anúncio da vinda do Messias. Em nosso tempo atual, para evitar que oráculo se torne propaganda de seitas que pregam somente o fim dos tempos, se faz necessário entender o que é “o Dia do Senhor” anunciado por Malaquias. Não se trata de evento cataclísmico, que atingirá o mundo, causando a destruição do mundo e eliminação de todos que trilham os caminhos de maldade. O Dia do Senhor anuncia a ação de Deus para trazer a vida definitiva na pessoa do Messias.
Se na primeira leitura ouvimos um oráculo da primeira vinda do Messias, na segunda leitura (2Ts 3,7-12) ouvimos do Apóstolo Paulo, prudentes e sensatas orientações sobre a segunda vinda do Messias (a Parusia que falamos no Profissão de fé quando afirmamos: Ele virá para julgar os vivos e os mortos). Paulo escreve para os Tessalonicenses numa época em que muitas comunidades cristãs estavam ansiosas pelo tempo da Parusia. Esta ansiedade se tornou tão forte dentro das comunidades a ponto de fazer muitas pessoas decidirem parar de trabalhar, vivendo de forma acomodada e negligenciando os seus deveres civis e religiosos. Paulo cita a si mesmo como exemplo para combater este desvio na caminhada das comunidades. Ele nunca viveu às custas de ninguém; trabalhou para ganhar o próprio sustento até mesmo nas viagens missionárias. O Apóstolo usa de sua autoridade para reconduzir os cristãos ao caminho do Reino. Caso as comunidades permaneçam assim na ociosidade, perderão a fé. Pois, numa comunidade onde aproveitadores vivem às custas do serviço dos outros, será instalada a divisão, os conflitos por poder e as acusações levianas. O verdadeiro e fiel discípulo que deseja esperar a nova vinda de Jesus, deve viver como ele viveu: colocando a serviço dos irmãos os seus dons e contribuindo para a construção do Reino de Deus que traz vida em plenitude para todos. Assim o escrito paulino reforça a certeza de que, enquanto esperamos a vida definitiva e o tempo da parusia, não temos o direito de nos instalarmos na apatia, na preguiça e no comodismo, ignorando as necessidades de mudança no mundo e evitando contribuir na construção do Reino de Deus já aqui na terra.
No Evangelho (Lc 21,5-19) a narração de Lucas nos coloca já em Jerusalém, nos dias que antecedem a Paixão e Morte de Jesus na Cruz. Ele, o evangelista, repete o que acontece nos outros evangelhos (cf. Mt 24-25; Mc 13), e conclui a pregação de Jesus com um discurso escatológico onde surge a profecia da destruição do templo de Jerusalém relacionado ao “fim dos tempos”. Os discípulos se assombram com as palavras e expressam preocupação sobre a data de tal acontecimento. A intenção de Jesus não era aterrorizá-los com a possibilidade do fim do mundo.
É preciso recordar que o discurso proferido por Jesus está em continuidade com os oráculos proféticos. Na primeira leitura de hoje ouvimos o profeta Malaquias. Mas além dele, também tivemos o profeta Ezequiel (cf. Ez 21,25-27), o profeta Miquéias (Mq 3,12) e o profeta Jeremias (Jr 7,11-15; 26,2-6) e outros profetas que falaram da necessidade de conversão para evitar a perda da presença de Deus.
Jesus aproveita para fazer-lhes uma catequese onde aparecem três momentos futuros da história da salvação: a destruição de Jerusalém, o tempo da missão da Igreja e a última vinda do Filho do Homem que concluirá a missão da Igreja e trará a plenitude do “Reino de Deus”. Assim, Ele afirma que a missão dos discípulos é comprometer-se na transformação do mundo, de forma a que a realidade antiga ceda seu lugar para o novo tempo e nasça o Reino. O caminho da Igreja na história será percorrido através de grandes dificuldades e perseguições, mas os discípulos terão sempre a ajuda e da graça de Deus. O centro da catequese de Jesus não é datar a destruição do templo ou o fim do mundo, mas convidar e preparar seus discípulos a viver na vigilância e na fidelidade, enquanto esperam os acontecimentos futuros.
A catequese cita situações que já aconteceram (a destruição do templo), mas também acontecimentos que se realizaram e ainda estão se realizando. Como exemplo concreto temos as catástrofes naturais (tsunamis, terremotos, etc.) e os falsos messias e visionários que de tempos em tempos surgem fazendo previsões do fim do mundo. E por isto, devemos permanecer atentos e vigilantes como as primeiras comunidades cristãs e não seguir estes mercadores da fé e manipuladores da consciência religiosa. Perseguições marcaram o caminho do cristianismo ao longo da história. Todavia, os primeiros cristãos permaneceram conscientes de que a graça de Deus os acompanhava. Por isto, eles enfrentaram as calúnias dos adversários, as prisões, torturas e até a morte através do martírio. Esta perseverança transformou o seu sangue em semente para o surgimento de novas comunidades. “O sangue dos mártires é a semente dos cristãos” (Tertuliano, Apologeticum /Apologético, 50,13).
E assim deveremos também permanecer. Nossa missão é apresentada e definida por Jesus Cristo na sua catequese de hoje: dar testemunho do Evangelho, construindo o Reino em nós e através de nós. Como os discípulos de outrora, enfrentaremos perseguições, catástrofes, dificuldades de todos os tipos e naturezas, todavia como eles, teremos sempre o auxílio da graça e do amor Deus.

Pe. Paulo Sergio Silva
Diocese de Crato.
Paróquia Nossa Senhora da Conceição – Porteiras.
Paróquia Nossa Senhora das Dores – Jamacaru.





