HUMILDES, BUSCAI A DEUS E ALEGRAI-VOS
“Pois grande é o poder do Senhor, mas ele é glorificado pelos humildes.” (Eclo3, 21)
Concluindo nossas celebrações no Mês Vocacional, somos convidados a rezar por todas as vocações leigas tendo especial atenção pela vocação dos(as) Catequistas. Os leigos que colaboram com a missão de anunciar o Evangelho possuem grandes dons, mas necessitam também de virtudes que os auxiliem em sua missão. Talvez por isto a Palavra de Deus deste domingo nos convide a refletir sobre valores que são necessários para anunciar e testemunhar a chegada do Reino de Deus: a humildade, a gratuidade, modéstia e a caridade.
Na primeira leitura (Eclo 3,19-21.30-31), o sábio autor do livro Eclesiástico, em tom paternal, aconselha a vivência da simplicidade e humildade. Para ele, estas são as qualidades fundamentais que o ser humano deve cultivar, uma vez que a humildade sempre vem acompanhada da paciência e da gentileza, qualidades que se opõem a soberba de coração. Em suas palavras, o autor contrapõe ou compara a humildade com o orgulho. O orgulho é visto como erva daninha que ao criar raízes no coração humano, o danifica e o leva a produzir amargura e maldade. A humildade não se trata da atitude de considerar-se inferior ou indigno. Ser humilde é assumir com simplicidade o nosso lugar no mundo, colocando nossos dons a serviço com abnegação, simplicidade e amor. Em suma, todo aquele que vive a humildade há de alcançar a admiração dos seres humanos e a graça diante do Senhor.
A segunda leitura (Hb 12,18-19.22-24a) continuando sua catequese, o autor da Carta aos Hebreus faz uma comparação com a experiência de Deus que Israel fez no deserto do Monte Sinai e a experiência das comunidades cristãs com seu Filho, Jesus Cristo. Para o autor, a experiência de Israel no deserto, ainda que tenha tido a presença constante de Deus, foi marcada pelo medo que eles sentiam do divino. Em Cristo o medo que levava a humanidade a afastar-se de Deus é enfim superado, pois a experiência do batismo ao realizar a filiação adotiva, promoveu uma aproximação nunca antes vivida entre o humano e o divino uma vez que marcou de modo indelével a alma de quem tornou-se cristão. E esta vida divina e a proximidade com Deus se manifestam quando cultivamos determinados valores como a abnegação e doação e praticamos as virtudes da humildade, do serviço, da simplicidade e do amor.
No Evangelho (Lc 14,1.7-14), Jesus aproveita o contexto de um banquete frio na casa de um fariseu para ensinar sobre os valores necessários para nos tornar participante do “banquete do Reino”. O contexto narrado, mas do que um ambiente para partilhar alimento e memórias afetivas e estreitar laços fraternos, parece descrever um tabuleiro de xadrez onde cada convidado deseja ser a peça mais importante ou cobiçada. A atitude crítica de Jesus tem como intuito promover mudanças radicais na espiritualidade, mas também na convivência social e comunitária. Os momentos de refeição que deveriam ser locais privilegiados de unidade, afeto e partilha, se tornavam facilmente em um evento para se autopromover, crescer socialmente, reafirmação de poder e vanglória.
O mestre então apresenta a humildade, a modéstia e a gratuidade na perspectiva de serem “ingressos ou convites” que nos abrem as portas do banquete do Reino de Deus. Neste banquete divino, o dono da casa é Deus/Jesus Cristo; o local é o Reino de Deus; o Reino é abundância, logo todos são convidados; A mesa é o espaço para estreitar/fortalecer as relações de partilha. Não é um evento apenas para de alimentar-se, mas para alimentar o outro; é momento para viver a intimidade, reconhecendo o outro em seus projetos e sua dignidade. Em nossos encontros e relacionamentos, acolhemos com a caridade, respeito e diálogo?
As parábolas narradas são uma recomendação da humildade e ao mesmo uma denúncia da lógica de ambição e da luta pelo poder que anulam as relações humanas. Jesus lembra que o amor gratuito e desinteressado é imitação do amor de Deus. O ato de aproximar-se de alguém ou de convidá-lo para ingressar na Igreja deve ter como impulso o desejo de apresentar Jesus Cristo. A comunidade eclesial não deve se tornar um grupo de interesses, com amizades que visam obter vantagens ou troca de favores. Somos a Igreja de Jesus Cristo, não um círculo de lobbying[1].
A veracidade do amor gratuito é revelada pela pouca importância daqueles que Jesus sugere convidar: crianças, inimigos, marginalizados, enfermos (Mt 25,31-46). Os convidados são parte da “opção preferencial pelos pobres”, isto é, aqueles que aos olhos do mundo não possuem valor ou dignidade e não poderão retribuir o gesto de cortesia. É preciso entender que Jesus não está proibindo amar parentes, amigos e vizinhos. Mas está reforçando aquilo que já havia ensinado anteriormente em Mt 5,46 e Lc 5,32-35 quando disse: “se amais somente aqueles que vos amam, que recompensa tereis?”
Este evangelho de hoje é propício para nos questionarmos sobre os interesses ocultos que muitas interferem nossas ações pastorais: Quem e o que colocamos em primeiro lugar? São aqueles que possuem poder e influência na sociedade? Ou aqueles que são esquecidos pelo mundo, mas são sempre lembrados por Deus?
Queremos ser convidados para este banquete? Sejamos humildes e nos coloquemos a serviço dos outros, assim como foi a vida de Jesus que veio para servir. Afinal ele mesmo afirmou: “quem quiser ser o maior, no meio de vós, seja aquele que serve” (Mc 10,42-45).

Pe. Paulo Sérgio Silva
Diocese de Crato.
Paróquia Nossa Senhora da Conceição – Porteiras.
Paróquia Nossa Senhora das Dores – Jamacaru.
[1] Lobbying: ato de praticar lobby. Lobby é a atividade que visa influenciar as decisões do poder público em favor de interesses específicos. Essa atitude muitas vezes pode ser exercida por indivíduos, empresas, organizações da sociedade civil ou outros grupos de interesse.




