HOMILIA DO 21º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO C

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A PORTA DA SALVAÇÃO É ESTREITA, MAS ESTÁ ABERTA PARA TODOS

SEMANA DE ORAÇÃO PELAS VOCAÇÕES LEIGAS

Virão homens do oriente e do ocidente, do norte e do sul, e tomarão lugar à mesa no Reino de Deus.” (Lc. 13,29)

 

A Palavra de Deus deste domingo, através da parábola da Porta Estreita, nos ensina que a salvação não se trata de uma propriedade comprada ou adquirida pelos nossos méritos, mas é verdadeiramente um dom oferecido por Deus a humanidade. A porta é estreita, mas é oferecida a todos a passagem por ela. Todos aqueles que se decidiram a seguir Jesus e vivem a Sua proposta de salvação, terão acesso à casa de Deus, independentemente da sua raça, de sua língua ou cultura.  Pois, sendo um dom, a salvação não pode ser uma posse exclusiva de um pequeno grupo privilegiado, mas é uma realidade oferecida a todos, sem fazer distinção de pessoas. Celebramos também hoje o início da semana de oração pelas Vocações Leigas, deste modo, entendemos que todos os batizados são chamados igualmente a missão de anunciar o Evangelho a todas as criaturas.

Na primeira leitura (Is,66,18-21) um profeta anônimo revela que embora a semente do projeto salvífico de Deus tenha se iniciado com os judeus, sua conclusão é para toda a humanidade. O presente texto foi escrito na época do retorno do Exílio da Babilônia, época em que havia muito conflito entre os judeus que permaneceram em Judá e aqueles que foram exilados e retornaram depois do fim do cativeiro. O povo judeu sempre considerou o único destinatário das promessas messiânicas feitas pelos Profetas, por isto instalou-se a dúvida se aqueles que retornaram do cativeiro babilônico com família constituída de estrangeiros pagãos, ainda deveriam ser “admitidos” como herdeiros da Aliança. O profeta, buscando sanar as divisões e deturpações da fé, revela que a vontade de Deus é reunir em Jerusalém, a cidade da fraternidade e da paz, todos os homens e mulheres numa comunidade universal de salvação. À luz desta imagem desenhada pelo profeta, entendemos que esta é a meta final da nossa peregrinação pela terra, formar uma só nação, pelo Evangelho anunciado a todo o planeta

Na segunda leitura (Hb 12,5-7.11-13), o autor da carta aos Hebreus exorta e aconselha os fiéis a descobrir o sentido dos sofrimentos, perseguições e adversidades que são obrigados a suportar, na busca pela fidelidade a Jesus Cristo. Enquanto caminhamos neste mundo, somos abordados por diferentes caminhos que muitas vezes nos levam a uma luta interna em nosso coração. A porta da salvação é estreita porque nem tudo que nos é oferecido nestes caminhos são para honra e glória de Deus e para nossa santidade. Em meio aos perigos das perseguições e das sedutoras tentações da infidelidade na fé, aqueles que se decidirem pela firmeza e perseverança no seguimento do Evangelho poderão atravessar a porta em direção à vida definitiva.

No Evangelho (Lc 13,22-30) continuamos caminho de Jesus para Jerusalém, rumo à sua paixão, morte e ressurreição. E enquanto passava por diversos povoados, Jesus foi abordado por alguém anônimo que lhe trouxe uma pergunta acerca da quantidade de pessoas que se salvam. Embora a resposta buscada pareça ser exigida na forma de números, Jesus aproveita a oportunidade para fazer uma advertência vital. Pouca diferença faz ou fará saber se são muitos ou poucos os que se salvam. Mas cabe a cada um contemplar o presente de sua vida para verificar como está conduzindo a própria vida a luz dos valores do Reino de Deus.

A verdade é que depois de dois mil anos, muitos ainda acham que ser cristão é uma garantia mágica de salvação. Ignoramos que a salvação além de um dom divino, é também a conclusão do encontro entre a liberdade humana e o Graça de Deus. Para aderir a oferta de salvação, não é suficiente ser batizado, mas querer entrar todos os dias pela “porta estreita” da fidelidade à mensagem de Cristo e do seu Evangelho. As palavras ditas na parábola (“comemos e bebemos diante de ti, e tu nos ensinastes em nossas praças.” Cf: Lc 13,26) nos ensinam também que pouco importa as nossas pretensas “credenciais”: Sou católico desde o ventre materno; sirvo em muitas pastorais e movimento; frequento todos os sacramentos; sou de Missa diária; oferto o dízimo; sou amigo pessoal do Padre e do Bispo, etc. Nada disto terá valor se não for acompanhado com a verdade sincera de nosso coração. É preciso entender que a vivência sacramental, eclesial e pastoral nos ajuda “a saborear já aqui na terra, os dons reservados para o céu” (Cf: Prefácio das Santas Virgens e Religiosos), no entanto, este ato deve ser acompanhado de um esforço diário de conversão pessoal, pastoral e comunitário. Em suma, o que experimentamos através dos sacramentos e serviço pastoral, deve ser manifestado através da bondade de um coração manso, na promoção da justiça e da paz, na proclamação da verdade e na prática da misericórdia e do perdão.

Esta parte da parábola constitui uma advertência, um aviso, para aqueles que aceitando o convite de Deus para a festa do Reino, acolheram e se decidiram pela proposta de Jesus e receberam o Batismo. Tanto Lucas como Mateus (cf: Mt. 7,13-14) utilizaram a imagem da porta em suas catequeses para lembrar aos cristãos do século I e a nós também, que a condição exigida para atravessar a porta e permanecer na casa é a prática dos ensinamentos de Jesus Cristo, isto é, a coerência na vivência da fé cristã. Quem foi batizado respondeu ao convite ao “banquete” do Reino. No entanto, se se recusar a viver no amor, na partilha, no serviço, na misericórdia e continuar na prática do egoísmo, arrogância, orgulho, injustiça e corrupção, não pode permanecer na festa da comunhão com Deus. Deus chamou todos os homens e mulheres para participar no “banquete”. Todavia, serão admitidos e só permanecerão aqueles que respondendo ao convite, mudarem completamente a sua vida para adequá-la ao plano salvífico de Deus. Assim, aprendemos que no reino dos Céus há espaço para “todos”, mas não para “tudo”. É preciso entender que na história humana existem situações que são incompatíveis com os valores do Reino. Deus a todos convida, no entanto, para permanecer em sua Graça, se faz necessário ter a disposição de coração para abandonar tudo que não condiz com os planos de Deus.

Pe. Paulo Sergio Silva

Diocese de Crato.

Paróquia Nossa Senhora da Conceição – Porteiras.

Paróquia Nossa Senhora das Dores – Jamacaru.

 

 

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