HOMILIA DO 19º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO C

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VIGILANTES COM O SENHOR E NO SENHOR

Que vossos rins estejam cingidos e as lâmpadas acesas.” (Lc 12, 35)

            Em nossa peregrinação ao lado de Jesus somos exortados a permanecer na fidelidade através da atitude de Esperança e de Vigilância e a viver a mística do Mês Vocacional onde somos convidados a rezar pela riqueza espiritual das inúmeras vocações suscitadas pelo Espírito Santo no coração da Igreja como um serviço de amor para toda a humanidade. Neste primeiro domingo rezaremos pela paternidade espiritual do Sacramento da Ordem: bispos, presbíteros e diáconos. No segundo domingo, rezaremos a Semana Nacional da Família, em especial pelos Pais. No terceiro domingo, rezaremos pela Vida Religiosa e Consagrada, e, por fim, no último domingo rezaremos pelas vocações leigas principalmente a vocação dos(as) catequistas.

A primeira leitura (Sb 18,6-9) apresenta-nos as sábias palavras de um judeu escrevendo ao seu povo na época em que este estava sob a dominação política, econômica, cultural e religiosa do império macedônio. Por estarem acomodados em um ambiente de idolatria e de imoralidade, o sábio autor aconselha o povo a fugir da “sabedoria grega” e buscar alicerçar-se na sabedoria israelita, fruto da presença de Deus em seu meio. Se para os judeus contemporâneos ao texto, o perigo foi aderir a “moda” da divinização das forças da natureza (como ocorreu com os egípcios e gregos) em nossa época atual, o risco é a divinização não apenas da natureza e dos astros cósmicos, mas também dos líderes políticos e dos bens materiais. Onde podemos encontrar a sabedoria que buscamos? Na fidelidade aos caminhos de Deus que geram vida e libertação? Nos valores do Evangelho? Temos coragem de nos opor aos caminhos contrários à nossa fé?

Na segunda leitura (Hb 11,1-2.8-19) o autor escreve aos cristãos de origem judaica que diante de perseguições e hostilidades do mundo pagão, começavam a se deixar vencer pelo desânimo, medo e cansaço cotidiano. Em uma catequese cristológica (isto é, centralizada na pessoa de Cristo), ele apresenta Jesus como o verdadeiro e único sacerdote que intercede pelo povo. Nele e com Ele, os cristãos são um povo sacerdotal que deve caminhar em espírito de fé, louvor e sacrifício. Em face disto, Abraão e Sara, são apresentados modelos de fé. Mesmo que não tenha visto todas as promessas cumpridas em vida, Abraão continuou acreditando e sua fé pavimentou a estrada para aqueles que viriam depois.

O Evangelho (Lc 12,32-48) de hoje apresenta uma catequese sobre a vigilância. Enquanto sobe para Jerusalém, Jesus percebe o medo e a insegurança no coração dos discípulos. Ele jamais os iludiu e com muita firmeza buscou os preparar para todos desafios internos e externos que iriam enfrentar na missão. O medo que ronda nosso coração de discípulo não é apenas o medo advindo dos possíveis perigos, perseguição, rejeição e morte, mas também o medo da infidelidade e perda da vocação caso nos desviemos do caminho do anúncio do Evangelho. Para Jesus, o verdadeiro discípulo é aquele que permanecendo atento e sereno, se prepara para acolher os tesouros de Deus, e transformá-los em dons para a construção do “Reino”.

O tema do medo não é um tema desconhecido na Sagrada Escritura. Diante da consciência de pecado, ele é o primeiro a aparecer no coração humanidade (“Ouvi teus passos no jardim, por isso tive medo…” Gn 3,10). No N.T. tanto Zacarias, como José, Maria e os pastores são alertados para confiar e não temer (Mt 1,20-23/ Lc 1,13 /Lc 1,30/ Lc 2,10), pois, não ter medo significa confiar, ter convicção e fé na ação de Deus. Os discípulos aprenderam que o medo é o primeiro obstáculo a se vencer para se aproximar de Jesus (Mt14,31/ Mt28,10/ Lc24,36). E ainda hoje, nós, cristãos, temos medo: Medo de Deus; de comprometer-se com o Evangelho; medo do passado; medo do novo; medo de assumir-se cristão em uma sociedade sem fé.

O evangelista São Lucas reúne em um só capítulo, três parábolas sobre tema da vigilância.  A primeira alegoria narra a viagem de um patrão que deixa em casa os seus empregados. Nela, Jesus exorta os discípulos a se manterem como os serviçais em uma espera vigilante e permanente para receber o Senhor que vem. A segunda metáfora nos fala de alguém que guarda dinheiro na sua casa e fica aflito diante da possibilidade de ser assaltado. Nela, a comunidade é convidada a se preparar para acolher o Senhor a qualquer hora e em qualquer circunstância. É necessário então ser otimista, esperar e vigiar. Diante da indagação de Pedro sobre quem deve vigiar, Jesus responde com outra parábola sobre um empregado, que deslumbrado com autoridade concedida pelo patrão ausente, age de modo arrogante e dominador. Assim entendemos que todos os cristãos devem permanecer fiéis e responsavelmente dignos da confiança que Jesus depositou em nós.

            Em uma sociedade centralizada no egoísmo e vazia de valores cristãos e éticos, somos impulsionados pelo medo em direção a um caminho de ansiedade e que leva a um abismo niilista[1]: medo de doenças, dos erros, da impotência, dos fracassos, da violência, da guerra, do mal, etc. Necessitamos entender que mesmo que o medo faça parte de nossa condição existencial, não deve ser ele a mover nossa vida e missão. O que nos deve impulsionar é o desejo vital de encontrar o Senhor ali, logo adiante na nossa vida. Como o oxigênio e a água são os combustíveis vitais para o corpo, a Esperança e Fé devem nos impulsionar no exercício da Caridade.  Se Jesus repete ao longo Evangelho de modo tão insistente o convite para não temer, é para que compreendamos a fidelidade e a verdade das promessas divinas. Permaneçamos, pois, vigilantes na caridade, na oração e com a certeza de que já vivemos o cumprimento de sua última promessa: “Eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos” (Mt 28,20).

Pe. Paulo Sérgio Silva.

Diocese de Crato.

Paróquia N. S. da Conceição – Porteiras

Paróquia N. S. das Dores – Distrito de Jamacaru

[1] Niilismo (Nihil, do latim “nada”): Se trata de uma doutrina filosófica que indica pessimismo, negação ou descrença absoluta em relação a princípios, sejam eles religiosos, morais, políticos ou sociais. O niilista acaba afirmando que não há qualquer sentido ou utilidade na existência.

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