HOMILIA DO 4º DOMINGO DO ADVENTO – ANO C

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JESUS: A ALEGRIA DO DEUS CONOSCO

Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre!” (Lc. 1,42)

Nestes dias que precedem o Natal, através da alegria advinda do encontro de Maria com Isabel, a Palavra de Deus revela e define a missão de Jesus: realizar o plano de salvação e de libertação que levará a humanidade ao encontro da verdadeira felicidade e da vida em plenitude. Somos convidados a reconhecer e acolher a Jesus Cristo, o Deus Menino, como o Messias esperado por todas as gerações.

Na primeira leitura (Mq. 5,1-4a), o profeta Miquéias anuncia que aquele “cuja origem vem desde os dias da eternidade” nascerá de Belém, menor povoado de Judá. Ele fará surgir um novo mundo que é manifestação e dom do amor de Deus. A profecia afirma que o Messias será o verdadeiro Pastor da humanidade. E para o espanto de muitos que se dizem cristãos na atualidade, mas anseiam por construir a paz através da guerra e da morte, o profeta anuncia que seu reino não será fruto da violência das armas e muito menos das manipulações ideológicas das políticas partidárias. Os cristãos aprenderam a enxergar nesta profecia, a vida e a missão de Jesus Cristo, o rei da Paz cujo poder do serviço se estenderá até os confins do mundo.

Na segunda leitura (Hb. 10,5-10), o autor da Carta aos Hebreus, afirma que a missão libertadora de Jesus tem como essência realizar a comunhão entre Deus e a humanidade. Esta reaproximação entre as criaturas e seu Criador, não foi resultado de meros ritos, mas sim da encarnação de Jesus, o Filho de Deus. Jesus é o verdadeiro e sumo sacerdote porque ofereceu a si mesmo como oferta para o perdão dos nossos pecados. A encarnação realiza a oferta total da vida necessária para realizar a vontade do Pai e concretizar a redenção da humanidade. Torna-se então justo e necessário não apenas que a humanidade acolha a sua proposta com liberdade e obediência, mas que também decida começar a reconstruir sua história num “sim” radical e completo aos planos de Deus.

No Evangelho (Lc. 1,39-45), o Espírito Santo, pessoa que conduz o encontro entre Maria e Isabel, nos ajuda a compreender a verdadeira identidade de Jesus Cristo. Conforme as palavras exultantes de Isabel, compreendemos que Maria se tornou a primeira discípula porque ouviu e acreditou. Maria é modelo de fé para os cristãos porque em sua liberdade e vontade, ela permite que a Palavra de Deus se realize e se encarne na sua vida e no seu ventre. Como disse outrora Santo Agostinho, “Maria, antes de conceber Cristo fisicamente no seu ventre, concebeu-O pela fé no seu coração; Maria acreditou e realizou-se n’Ela aquilo em que acreditava” (cf. Sermão 215, 4: PL 38, 1074). Deste modo, tal qual a Arca da Aliança no Antigo Testamento, mas em uma condição inesperada, excepcional e singular, ela se torna a portadora da Graça de Deus para o seu povo eleito.

Nas atitudes de Maria e Isabel, cuja alegria no encontro é fruto da presença de Jesus Cristo, compreendemos que Ele é o Deus que vem ao encontro da humanidade e cuja ação promove o encontro entre todos. Sua presença causa a exultação de todos os que esperam a feliz realização das promessas de Deus e que enxergam na sua chegada a concretização das esperanças de um mundo de justiça, de amor, de paz e de felicidade plena. Maria e Isabel estremecem jubilosas de alegria porque sabem que Nele e com Ele a humanidade verá o alvorecer da nova história de libertação, de paz, de justiça e de felicidade que foi anunciada pelos profetas.

Pela sua singular contribuição na história da salvação que alcançou seu ápice no Mistério de Cristo, a Virgem Maria representa a imagem e o modelo da Igreja. Deste modo, assim como a simplicidade, humildade e caridade fizeram Maria ir ao encontro de Isabel para colocar-se a seu serviço e assim anunciar a presença de Cristo, a Igreja, corpo vivo de Cristo, tem a missão de prolongar na terra a ação salvadora de Deus, através do seu serviço evangelizador que se estende em todas e por todas as dimensões da humanidade. E para que isto permaneça uma realidade concreta como o Verbo encarnado no seio da Virgem Maria, a Igreja jamais deve esquecer o seu papel de indicar a presença Daquele que Era, que É e que Vem, e evitar se tornar autorreferencial.  Autorreferencial é a atitude de quem se coloca no centro de si mesma. Essa, muitas vezes, se torna a prática de algumas pastorais, serviços e movimentos. Promovem encontros, eventos, homenagens, shows e até missas para reunir somente as pessoas dos mesmos círculos de interesses e passar momentos agradáveis que beiram ao narcisismo. E então, o encontro deveria promover a evangelização, se torna momento de exclusão. Como Maria, a Igreja deve sempre ter consciência de que é lugar de encontro, cujo centro é e permanece sendo Jesus Cristo.

O mistério da Encarnação, mostra-nos também a dignidade incomparável de cada vida humana. Pelo exemplo de nossa Mãe Maria, compreendemos que não cabe a nós escolher a quem iremos direcionar ou realizar nosso serviço.  O mundo precisa do testemunho de nossa fidelidade, da nossa unidade, da nossa capacidade de acolher a vida humana, especialmente a mais indefesa e necessitada.

Como cristãos somos os continuadores da missão de Jesus. Estamos levando ao mundo a sua Boa Nova? Neste mundo marcado por realidade cheias de sofrimento, estamos anunciando a esperança e promovendo a fraternidade, a paz, a justiça e solidariedade?

Pe. Paulo Sérgio Silva

Diocese de Crato.

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