CRIADOS PARA O AMOR, FIDELIDADE E COMUNHÃO
“No entanto, desde o começo da criação, Deus os fez homem e mulher; Assim já não são dois, mas uma só carne.” (Mc. 10,7-8)
Estamos iniciando o Mês Missionário, tempo propício para compreender nossa vocação de Discípulos Missionário de Jesus Cristo. Em paralelo à esta catequese sobre a vida matrimonial compreendemos nossa missão fundamental: anunciar o Evangelho criando comunhão fraterna. O amor matrimonial feito de doação e fidelidade é a imagem do Reino de Deus, comunidade de amor, estável e indissolúvel.
Na primeira leitura (Gn. 2,18-24) enxergamos os laços iniciais entre o Criador e sua criatura. Em seu olhar compassivo, Deus percebe a solidão do homem. Apesar da companhia das outras criaturas, ele não encontrou entre os animais ninguém com quem pudesse fazer comunhão, continuando a sentir-se incompleto, solitário e infeliz. Assim compreendemos que Deus nos criou – o homem e a mulher – para nos ajudarmos reciprocamente através da comunhão e do amor que nos completa. O modo como a mulher é formada – de um pedaço do lado do homem – revela a sua igualdade e dignidade. Unidos pelo amor ambos formarão “uma só carne”. Em um mundo onde as relações de afeto estão perigosamente se tornando “fluídas ou líquidas”, como se tornar e permanecer nesta união perfeita e perene? Qual é e onde vem tal força? Para o autor sagrado, esta força misteriosa é o amor que vem de Deus. Este mesmo Deus que fez o homem e a mulher de uma só carne e também semelhante a Ele. Por isso, homem e mulher buscam ansiosamente essa unidade e permanecem inclinados, a viver em comunhão um com o outro.
A segunda leitura (Hb.2,9-11) nos recorda a solidariedade de Cristo à humanidade e sua fidelidade ao Pai. Deus Pai tanto nos amou que enviou ao mundo o seu Filho único para santificar a todos nós. Jesus, o Filho, aceitou partilhar de nossas fragilidades, se entregando na cruz para nos revelar até onde o verdadeiro amor é capaz de ir para salvar o ser amado. À luz desta revelação compreendemos que o casal cristão deve buscar testemunhar também uma entrega total na convivência familiar, transparecendo no amor matrimonial, o amor de Deus pela humanidade. Para que isto ocorra, o casal deve sempre ter como arquétipo ou modelo para seu amor conjugal, o amor oblativo de Cristo pela humanidade.
O Evangelho (Mc.10,2-16) de hoje faz parte dos últimos encontros que os discípulos, fariseus, mestres da lei e pessoas anônimas tiveram com Jesus na sua última peregrinação à Jerusalém. Buscando confrontá-lo e encontrar nele algo de reprovável, os fariseus o indagam sobre a legitimidade do divórcio. O coração que o indaga não tem pretensões de aprender com Jesus, pelo contrário, a pergunta é maliciosa porque eles pretendem utilizá-la para acusar Jesus de infidelidade a lei de Moisés. Jesus recorda que a lei do divórcio não estava nos planos originais de Deus. O projeto divino sempre foi a formação de uma comunidade estável e indissolúvel; fundamentada no amor, na partilha e na doação. A lei do divórcio era injusta porque a culpa e as consequências recaíam sempre sobre a mulher, que poderia ser abandonada e até mesmo apedrejada; a lei não possui quase nenhuma consequência para o homem. Para Jesus, tanto Marido como Esposa, possuem igualdade de direitos e deveres e são responsáveis pela edificação e manutenção da comunidade familiar.
Se a comunhão fez parte dos planos divinos desde o início a ponto de o próprio homem sentir-se incompleto sem a presença da mulher (Gn. 2,18-24), o ato de separar, se torna uma expressão daquele errôneo desejo de trilhar caminhos que destoam do plano divino e que foi causa da queda do coração humano. A mentalidade modernista do mundo nas suas múltiplas expressões (novelas, mídias sociais, materialismo, hedonismo, etc.), apresenta o divórcio como algo normal e como solução rápida e eficaz para as dificuldades que duas pessoas encontram quando tentam construir e partilhar o seu projeto de amor. No entanto, o fracasso do amor não deve ser aceito como remédio mágico. Como imagem da Igreja, o casal cristão deve se esforçar para realizar a sua vocação de amor. Ao longo da vida, dificuldades, crises, conflitos e problemas – muitas vezes diários – irão surgir. Eles, o casal, assim como Igreja, é chamado a ser no mundo, testemunhas do Reino de Deus, comunidade de amor fundamentada na doação da própria vida feita por Jesus Cristo.
O ensinamento termina quando Jesus acolhe e abençoa crianças diante dos ouvintes. As crianças são apresentadas como modelo de discípulo porque são simples, transparentes e confiam em quem as ama. Assim deve ser o amor matrimonial e também o nosso discipulado: baseado e fundamentado na fidelidade, na doação e na confiança. Afinal esta é nossa missão: Anunciar o Amor de Deus!!!
Pe. Paulo Sérgio Silva
Diocese de Crato.