HOMILIA DO 24º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO B

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CONHECER QUEM É JESUS CRISTO E SEGUI-LO EM SUA MISSÃO

Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga.” (Mc. 8,34)

            Quem é Jesus Cristo? Qual a sua missão? Estamos dispostos a segui-lo mesmo sabendo das implicações e consequências deste discipulado? A liturgia deste Domingo se move em torno do reconhecimento da identidade da pessoa de Jesus e da sua missão enquanto nos exorta a aceitar que o caminho da salvação se percorre somente através da obediência aos planos de Deus, cujo ápice é a doação da vida aos irmãos.

Na Primeira leitura (Is.50,5-9a), nos é apresentado um profeta desconhecido, que recebe a alcunha de “Servo do Senhor” e que foi chamado por Deus para testemunhar a sua Palavra. Em meio ao período final do Exílio da Babilônia, num ambiente contaminado pelo pecado, enquanto cumpre sua missão, o profeta enfrenta a perseguição, a tortura, a morte. Apesar dos perigos e perseguições, o “Servo” permanece inabalável na sua decisão de completar a missão que lhe foi confiada. De onde lhe vem tamanha força, fé e a confiança? Do Senhor Deus. Ele está consciente de que a sua vida e missão não foram um fracasso. Afinal, ele sabe que quem confia no Senhor e procura viver na fidelidade a sua divina vontade, vencerá a perseguição e a morte. Mas quem é este “Servo”? Seria Jeremias? Daniel? Oséias? Ou o próprio Isaías? Seria ele uma pessoa ou uma imagem ilustrativa unificada de todos os líderes judaicos que colaboraram com o plano salvador divino ao longo das eras. Apesar de não ser nomeado, ao longo dos séculos, os primeiros cristãos aprenderam a enxergar neste “Servo do Senhor” o anúncio de Jesus Cristo e sua missão.

Na Segunda leitura (Tg.2,14-18), São Tiago, lembra aos cristãos (discípulos e conhecedores da missão cristã) que o verdadeiro seguimento de Jesus não se realiza com belas palavras, mas com gestos concretos de amor, de serviço e de solidariedade para com os irmãos. Assim compreendemos que além de confessar e professar a fé com palavras é necessário traduzir/ecoar/frutificar esta fé em obras. Para além das palavras afáveis que seduzem e encantam os ouvidos, é preciso assumir um compromisso com as pessoas mais necessitadas. No início de sua missão, quando a Igreja não conseguia anunciar o Evangelho no idioma do ouvinte nos primeiros encontros, ela o fazia através do testemunho da Caridade, atitude que cativa o coração.

O Evangelho de hoje (Mc.8,27-35), nos faz perceber que nos aproximamos do coração da catequese de Marcos. Ao realizar o primeiro anúncio da Paixão, em um momento crucial que antecede a decisão de subir a Jerusalém, Marcos revela que Jesus é o Messias, salvador e libertador, enviado ao mundo por Deus Pai para anunciar a humanidade o caminho da salvação.  Grande parte do povo já compreendia e afirmava que Jesus falava em nome de Deus. Apesar de O enxergar como um profeta enviado da parte de Deus, faltou a eles o passo decisivo que levava ao encontro pessoal como aconteceu com Zaqueu, o cego Bartimeu ou a Samaritana. Por isso,  permaneceram como “discípulos da curiosidade”. Os discípulos caminhavam com Ele há quase 3 anos e mesmo assim muitos ainda não sabiam quem ele era e qual sua missão como Messias.

Quem é Jesus, de fato? A multidão, por não vivenciar um encontro pessoal com Jesus, o confunde com vários profetas (João Batista, Jeremias, Elias, etc.) Aos discípulos ele pergunta: “E vós, quem dizeis que eu sou?” Pedro, inspirado por Deus, em nome dos discípulos responde: “Tu és o Messias?” A confissão de fé de Pedro é a mesma que se espera de todo aquele que acompanhou os passos de Jesus Cristo.

Todavia, apesar da revelação que recebe, Pedro não aceita como se realizará a missão de Jesus. Isto demonstra que toda a comunidade dos discípulos ainda possuía uma compreensão limitada da missão de Jesus Cristo. Este fato se dá porque a figura do Messias ainda estava ligada a desejos políticos nacionais. Para eles, os primeiros discípulos, a missão do Messias deveria ser gloriosa e triunfante. Por pensarem com a lógica do mundo, soava absurdo que a vitória que eles tanto esperavam, viesse por meio do sacrifício na cruz (Cf:1Cor. 1,27-28). O Mestre então afirma que todo aquele que não aceita sua missão, fará parte daqueles que se opõem a Deus e infernizam a vida da humanidade. Hoje, muitos cristãos ainda repetem aquele erro da primeira comunidade. Professam sim a fé na pessoa do Cristo, todavia, quando ouvem que é preciso sofrer e renunciar, já não demonstram estar dispostos a ser discípulo de alguém cujo destino era sofrer e morrer.

Nas palavras que se seguem, os ouvintes compreendem que para permanecer como seus discípulos, é preciso renunciar a si mesmo, tomar a cruz e acompanhá-lo na decisão de se doar pelos irmãos, até a morte se for necessário. Aqui se faz necessário entender que negar a si mesmo não quer dizer negar as alegrias da vida, viver emburrado e em constante atitude azeda. Tomar a cruz não significa aceitar o sofrimento que emerge em nossa vida e na sociedade na forma da fome, doença, violência e injustiça. Tomar a cruz é descentralizar-se de si mesmo. É constituir uma relação fundamental na qual o centro de nossa vida é Jesus Cristo, como o centro de sua vida foi e permanece sendo Deus Pai.

Ao cumprir plenamente o plano de Deus Pai, Jesus revela aos discípulos que o caminho da salvação não passa pelos triunfos e sucessos humanos – que muitas vezes são alcançados à custa de egoísmo, corrupção e violência -, mas pelo amor e pela doação da vida. Jesus decididamente irá abraçar a cruz e com ela concluir sua missão. É preciso entender que a cruz não foi um “instante” na vida de Jesus. Ela é a conclusão de uma vida de doação. Assim como a decisão dos primeiros mártires de permanecer na fidelidade não foi uma escolha momentânea, mas o resultado de uma vida. Nós, batizados, discípulos e missionários, precisamos entender que não existe meio termo ou rota alternativa. Quem quiser ser seu discípulo, tem de aceitar percorrer corajosamente o mesmo caminho. Pois, “quem quiser atravessar com segurança o mar da existência, deverá ter como barco a Cruz de Jesus Cristo” (Santo Agostinho).

Compreendamos que ser cristão é bem mais do que ser batizado, ter casado na Igreja, organizar a festa do santo padroeiro, etc. Ser cristão é, essencialmente, seguir Jesus e fazer dele o centro de nossa vida. É renunciar a si mesmo e tomar a mesma cruz de Jesus. E permaneçamos na certeza de que ser cristão não se trata de viver um luto eterno, o testemunho cristão exige ser sinal da alegria, pois a outra face da cruz é a ressurreição.

Pe. Paulo Sérgio Silva

Diocese de Crato.

 

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