HOMILIA DO 19º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO B

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FORTALECIDOS PELO PÃO VIVO QUE DESCEU DO CÉU

“Todo aquele que ouviu o Pai e Dele aprendeu, vem a Mim”. (Jo. 6,45)

A liturgia deste domingo, dando continuidade às reflexões iniciadas nos domingos anteriores, revela a sempre solícita preocupação de Deus em oferecer vida plena e definitiva à humanidade. Mediante os dois exemplos apresentados – o profeta Elias e a multidão que murmura contra Jesus Cristo – somos convidados a abandonar o orgulho, a prepotência e acolher, com reconhecimento e gratidão, os dons oferecidos por Deus.

A Primeira Leitura (1Rs. 19,4-8) representa um recomeço para a fé do povo de Deus. Assim como aconteceu com o povo de Israel no tempo de Moisés, o profeta Elias se encontra no deserto em meio a perseguição, ao desespero e a desolação. Apesar do sofrimento atravessado, o profeta compreende que está diante de um período de graça que favorece o amadurecimento e fortalece o vínculo com Deus. O momento vivido por Elias apresenta novos horizontes para sua vocação e missão. O pão e a água, alimentos através dos quais o profeta recupera as forças e que prenunciam a Eucaristia, manifestam a bondade e o amor de Deus que anima os seus profetas, dando-lhes força para testemunhar mesmo nos momentos de dificuldade e de desânimo.

A Segunda Leitura (Ef. 4,30-5,2) continua apresentando as exigências da fé em Jesus Cristo, através da Carta aos Efésios. Sabemos que se trata de uma comunidade vinda da cultura pagã e que ainda estava conhecendo a caridade cristã. Por isto, o Apóstolo lhes ensina que relações sociais baseadas em “amarguras, irritações, cóleras e toda espécie de maldade” devem ceder lugar a relações fraternas, pois a ação do Espírito Santo deve necessariamente gerar novos comportamentos humanos. Era costume na cultura grega marcar o servo com um sinal que indicava sua pertença ao patrão. Paulo aproveita-se desde dado cultural para lhes falar sobre sua pertença a Deus. Pelo Batismo, todos em Cristo, se tornaram morada de Deus pelo Espírito Santo que os marcou com um selo indelével e invisível. Acolher Jesus Cristo e o seu projeto do Reino de Deus significa torna-se um Homem Novo e isso exige renúncia à vida de egoísmo e de pecado para transformar-se em doação e caridade, a exemplo de Cristo.

O Evangelho (Jo. 6,41-51), nos coloca na sinagoga de Cafarnaum, lugar onde Jesus discute com os líderes judeus. Conduzidos por cada frase, percebemos paulatinamente que o discurso do Pão da Vida que temos meditado se trata de uma catequese eucarística e cristológica. Imersos em um sistema ritualista que enxergava a presença de Deus apenas mediante o cumprimento de numerosas regras normativas, os judeus se instalaram em suas seguranças. Por isto, mesmo Deus vindo ao seu encontro, eles não conseguem reconhecê-lo na ação de Jesus. O coração escravizado pelo ritualismo acabava por impor a Deus também o mesmo ritualismo, negando a liberdade divina. Assim, nasce a recusa em aceitar que Deus pode encontrar sempre formas novas de vir ao nosso encontro para oferecer vida em abundância.

Jesus proclama-se como o Pão Vivo que desceu do Céu para dar a Vida ao mundo. A multidão – que já havia visto a milagrosa multiplicação dos pães e os outros diversos sinais operados por Jesus – não aceita a sua humanidade, acusando-o da pretensão de assumir para si algo que pertence somente a Deus. Jesus informa que embora o maná houvesse saciado a fome física dos israelitas no deserto, não deu a eles a vida definitiva. O alimento passageiro não transformou os seus corações nem os tornou capazes de caminhar para a vida plena, livre e verdadeira. Somente o “o Pão Vivo que desceu do Céu” fará isso.

Naquela multidão que seguia Jesus muitos não O reconheceram como o Filho de Deus, Deus de Deus verdadeiro, vindo até eles. Pelo contrário, por não compreenderem a real intenção de Jesus na multiplicação de pães, ficaram entorpecidos pelos sinais visíveis, e acabaram por projetar n’Ele a visão de um líder político que deveria corresponder aos seus anseios espirituais, materiais e psicológicos. Nós, atuais discípulos missionários, não estamos isentos ou imunes deste risco. Se reduzirmos nossa ação eclesial a um meio para alcançar nossos anseios de fama e fortuna; Se frequentamos a Igreja para aparentar reputação ilibada; Se rezamos somente para obtermos favores divinos como forma de pagamento pelo nosso bom comportamento, estaremos também nos afastando de Jesus como muitos na multidão fizeram na conclusão do seu discurso do pão da vida.

Todavia, para que esse pão sacie plenamente a fome de vida e dignidade que habita no coração humano é preciso “acreditar” na Vida e na Palavra de Jesus. Acreditar não apenas no sentido de afirmar, mas de verdadeiramente crer, isto é, acolher as suas propostas e viver na vida diária o que Ele ensinou e viveu. A Eucaristia celebrada por nós é o memorial da sua Vida de doação que culminou na Cruz. Cada vez que comungamos do Pão Eucarístico, estamos acolhendo o dom de sua vida no desejo de que nossa vida também seja transformada em dom de amor. Encontramos no Corpo e no Sangue do Senhor a força para permanecer de pé diante dos desafios, das perseguições e dos sofrimentos. Esse alimento gera a vida eterna em nós e nos faz viver, já aqui na terra, a eternidade para a qual fomos criados.

Recordamos que neste domingo celebramos a Vocação Matrimonial, o Dia dos Pais e o início da Semana da Família. Que a Palavra proclamada e meditada, juntamente com o “Pão Vivo” partilhado, torne nossas famílias capazes de acolher o Reino de Deus em nossos lares. Celebrar bem a liturgia significa vivenciar o que aprendemos na Palavra de Deus e praticar o que suplicamos por meio de nossas orações.

Pe. Paulo Sérgio Silva.

Diocese de Crato.

 

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