CHAMADOS A SACIAR A FOME COM O PÃO DA VIDA
“Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim não terá mais fome e quem crê em mim não terá mais sede” (Jo. 6,35)
Em nossa peregrinação ao lado de Jesus somos exortados a permanecer na fidelidade enquanto vivemos a mística do Mês Vocacional onde somos convidados a rezar pela riqueza espiritual das inúmeras vocações suscitadas pelo Espírito Santo no coração da Igreja como um serviço de amor para toda a humanidade. Neste primeiro domingo rezaremos pela paternidade espiritual do Sacramento da Ordem: bispos, presbíteros e diáconos. No segundo domingo, rezaremos a Semana Nacional da Família, em especial pelos Pais. No terceiro domingo, rezaremos pela Vida Religiosa e Consagrada, e, por fim, no último domingo rezaremos pelas vocações leigas principalmente a vocação dos(as) catequistas. Toda vocação é um chamado de Deus para servir. Fomos chamados à vida e, na vida, chamados à santidade, fruto da fé em Cristo.
A liturgia da Palavra aprofunda e dá continuidade à reflexão iniciada no domingo anterior. As leituras trazem a imagem do pão, alimento mais comum e básico para todas as culturas. Assim, compreendemos que Deus, na pessoa do seu Filho, deseja oferecer ao seu povo e à humanidade não apenas o alimento material e passageiro, mas o verdadeiro alimento que sacia e concede a vida eterna, plena e definitiva.
Na Primeira Leitura (Êx. 16,2-4.12-15), o episódio do Maná apresenta a ternura e o cuidado de Deus para com o povo eleito, ao mesmo tempo em que revela a condenável ingratidão deste mesmo povo ao desejar o retorno à escravidão que o levava à morte e também à falta de alimento. Mesmo que este clamor seja expressão de um coração injusto e ingrato, Deus o escuta e sacia, muito embora não seja Sua vontade manter o povo na imaturidade e dependência. Enquanto conduz este povo à terra prometida, deseja ajudá-lo a crescer, a amadurecer, a superar o egoísmo e a tomar consciência de outros valores como a comunhão, a unidade e a partilha. De modo semelhante as palavras de Jesus Cristo no evangelho, comer o maná significa, portanto, acreditar na Palavra de Deus e, também, aceitar o projeto de vida apresentado pelo Senhor nos Mandamentos.
Na Segunda Leitura (Ef. 4,17.20-24), São Paulo continua as orientações de como viver a vocação cristã. E para viver algo é preciso primeiro discerni-lo. Por isto, aparecem logo de início os verbos que são centrais no anúncio do Evangelho: aprender, instruir/ensinar e ouvir. Em vista disto, lembra aos efésios que a fé em Jesus implica deixar de ser homem velho (pecado) e o passar a ser homem novo (batizado, convertido), isto é, exige o abandono das práticas do pecado e um esforço contínuo para viver a fé recebida no batismo. O encontro com Cristo deve significar, para todos nós, uma mudança radical, um jeito completamente diferente de se viver diante de Deus, diante dos irmãos, diante de si mesmo e do mundo. O antigo e o novo aqui apresentados são a vida velha no paganismo e a novidade da experiência com Cristo. Esta oscilação entre viver a vida nova em Cristo ou retornar a escravidão que apareceu implícita tanto na primeira leitura quanto aqui, são realidades que, no entanto, ainda se fazem também presentes em nós, no tempo atual. Desse modo, a celebração litúrgica constitui um momento oportuno para nossa autoavaliação, pois os cristãos são chamados a propagar, no mundo, a justiça e a santidade de Deus.
O Evangelho (Jo. 6,24-35) nos coloca na introdução do texto chamado “discurso do Pão da Vida”, por isso Jesus apresenta-Se como o “Pão” que desceu do Céu para dar vida ao mundo. São as palavras de Jesus que sucedem a sua ação de saciar o povo com o pão espiritual /a Palavra (Mc. 6,30-34) e com o pão físico (Jo. 6,1-15). Os que ouviram sua palavra e presenciaram a milagrosa multiplicação dos pães e peixes não compreenderam sua real intenção. À multidão que O segue, abismada depois de presenciar a milagrosa multiplicação do pão, Jesus pede que aceite o “Pão” verdadeiro. E o que isso significa? Em suma, que a multidão escute as Suas palavras, que as acolha no coração e as pratique transformando os valores do Reino em vida e verdade no concreto da vida cotidiana.
Se Jesus utiliza-se de analogias enquanto aponta o caminho correto para saciar a fome, a multidão, por sua vez, mesmo caminhando fisicamente direção a Cristo, está equivocada. Ela se maravilha com a ação de Jesus, no entanto, erroneamente a interpreta como uma vitória ou um espetáculo. Não é à toa que quer coroá-lo rei resumindo sua missão a um mero messianismo político. O pão físico que os levava a rastrear os passos de Jesus em uma busca incessante, é perecível e passageiro. Jesus agora oferece um outro alimento permanente que durará até na vida eterna.
Seus corações querem os milagres de Jesus, mas não aceitam acolher o Jesus dos milagres. Pois buscam Jesus Cristo apenas como meio para alcançar um fim. Verdadeiramente não procuram Jesus, mas a solução dos problemas materiais passageiros. Trata-se de uma procura imediata, interesseira e egoísta. Essa mentalidade não está muito distante de nossa atual sociedade marcada pela ansiedade, imediatismo e materialismo, que busca Deus na intenção de conseguir dinheiro, fama e abundância de bens materiais, não se esforçando para fazer com que todos tenham os mesmos direitos e as mesmas oportunidades – e as tenham em abundância. É preciso esforçar-se por conseguir não só o alimento que mata a fome física, mas sobretudo o alimento que sacia a fome de vida e dignidade.
O que nós devemos fazer para praticar as obras de Deus? É justo, necessário e nos faz todos ser mais santos acolher as propostas de Jesus, aceitar viver no amor e partilhar daquilo que se tem com os irmãos e irmãs no serviço a todos. É preciso deixar que a Eucaristia recebida por nós diariamente transforme a nossa vida e missão na presença real do Cristo, porque comungar do seu Corpo e do seu Sangue exige escutar a sua Palavra, acolher e vivenciar os valores do Evangelho, imitar o seu jeito de viver e fazer da nossa vida um dom de amor.
Que a Eucaristia, Pão da Vida Eterna, alimento de nossa vida espiritual, leve-nos a ser presença e sinal da comunhão com o Deus Vivo e Verdadeiro.

Pe. Paulo Sergio Silva.
Diocese de Crato.




