HOMILIA DO 6º DOMINGO DA PÁSCOA – ANO B

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PERMANECER NO AMOR DE CRISTO PARA SER PRESENÇA DIVINA NO MUNDO

Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor”. (Jo.15,9)

Se aproxima a conclusão do tempo pascal e com isto muitas festas e solenidades: Ascenção, Pentecostes, Santíssima Trindade, Corpus Christi. As semanas anteriores nos introduziram nas catequeses onde Jesus busca formar os discípulos na espiritualidade da unidade que servirá como testemunho e atrativo que encantará os pagãos que receberão o anúncio do Evangelho. Jesus ensina aos discípulos aquilo que recebeu e viveu na Trindade. As celebrações que iremos vivenciar nos próximos domingos visam preparar – nós, os atuais discípulos – para viver e experimentar a mesma existência de Deus, isto é, a comunhão e unidade. Assim, continuando a catequese pascal que visa fortalecer nossa união e pertença a Jesus Cristo, a liturgia deste Domingo convida-nos a contemplar o amor de Deus, manifestado na pessoa, nas palavras e ações de Jesus, que permanece presente na vida da humanidade através da ação dos seus discípulos.

A primeira leitura (At.10,25-26.34-35.44-48) nos ensina que a salvação oferecida por Deus através do seu Filho Unigênito Jesus Cristo (e levada ao mundo pelos discípulos) se destina não a um grupo privilegiado ou seita, mas a toda humanidade, sem exceção. Deus em seu infinito amor, não pertence –  como se fosse propriedade –  a uma raça ou a um determinado grupo social, por isto, a condição decisiva para pertencer ao seu Reino é a disponibilidade para acolher a oferta salvífica que Ele faz. Com a manifestação do Espírito Santo e a decisão de Pedro de batizar o centurião Cornélio e sua família, a comunidade cristã expressa sua compreensão de que a salvação, oferecida por Deus e entregue por Cristo, não era um patrimônio dos judeus ou dos cristãos, mas um dom oferecido a todos que permanecem com o coração dócil a benfazeja Graça de Deus.

A segunda leitura(1Jo.4,7-10), aprofundando a imagem da benevolente graça divina, apresenta uma das mais profundas definições de Deus: “Deus é amor”. A encarnação do Verbo Divino e a sua morte na cruz revelam a infinita grandeza do amor de Deus pela humanidade. Para São João, ser “filho de Deus” e “conhecer a Deus” são frutos de uma transformação que acontece quando nos deixamos envolver pela dinâmica do amor divino e nos tornarmos manifestação concreta deste Amor, amando os irmãos e irmãs.

O Evangelho (Jo.15,9-17), nos coloca como testemunhas privilegiadas das últimas catequeses que Jesus realizou com sua comunidade, na quinta-feira, antes da páscoa. O tom das palavras manifesta um clima de despedida e ao mesmo tempo de preparação para os acontecimentos vindouros: Jesus será preso, julgado injustamente e morto.  Ressuscitará e ordenará o anúncio do Evangelho até os confins do universo. Os discípulos, fiéis à missão, também serão perseguidos e mortos. A comunidade precisará de alento e força para não se desvanecer diante de tantas dificuldades.

Se na semana passada, na parábola da Videira e dos Ramos, os discípulos aprenderam que devem “permanecer em Jesus”, agora ouvem que devem “permanecer no seu amor”, pois o vínculo do amor é a perfeição que os manterá unidos indissoluvelmente a Cristo. No futuro, dirá São Paulo: “Revesti-vos do amor, que é vinculo de perfeição. Reine em vossos corações a paz de Cristo, para a qual fostes chamados em um só corpo.” (Cl. 3,14-15).

Jesus define o caminho que os seus discípulos devem percorrer, para serem transformados pelo amor de Deus: Viver o mandamento do Amor. Pois, o amor partilhado é a condição para permanecer unido a Jesus e para dar frutos de salvação. Os discípulos são os “amigos” que conheceram o amor do Pai revelado por Jesus Cristo. Assim sendo, a missão da comunidade cristã é testemunhar o amor de Deus a humanidade. Através desse testemunho, concluir-se-á o projeto salvador de Deus e nascerá uma Nova Humanidade. Para São João, o verbo “Permanecer” (do grego – méno; utilizado 40 vezes no seu evangelho) é de suma importância para a compreensão da indissolúvel união existente entre Cristo e sua Comunidade. O discipulado não é baseado em uma união meramente moral. Trata-se de uma união vital, que gera vida espiritual naquele que crê. No Batismo, tornamo-nos “outros cristos”, pois a vida de Cristo passa a ser gerada em nós. Em cada Eucaristia, comungamos do seu Corpo e Sangue. Nossa vida é unida à Sua vida. Vida divina esta que deve transbordar para a humanidade através de nós. De modo espiritual e sacramental, isso é um fato. Mas como isso transborda e se realiza em nosso dia a dia? É uma pergunta que não deve ser respondida de uma só vez. Esta é uma reflexão para todos os dias e para toda a vida.

Assim como no Evangelho do domingo passado, Jesus Cristo nos oferece o critério para sabermos se estamos ou não permanecendo Nele e com Ele: se guardamos ou não seus mandamentos, ou seja, se vivemos ou não praticando a sua Palavra. E ao mesmo tempo, Ele nos oferece a confirmação de que permanece conosco: O Espírito Santo que d’Ele recebemos, é permanentemente derramado em nossos corações.

Pe. Paulo Sérgio Silva.

Diocese de Crato.

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