CONDUZIDOS À DEUS PELO BOM PASTOR
“Eu sou o bom pastor. Conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem.” (Jo. 10, 14)
Depois de apresentar Jesus Cristo como a Misericórdia Divina encarnada, a liturgia da Palavra o apresenta agora como Bom Pastor. Este título nos indica que Ele é o modelo de sacerdote e pastor para toda a humanidade. Significa reconhecer que Ele nos ama de forma incondicional a ponto de ser capaz de dar vida por nós. Aos fiéis redimidos pela ressurreição, para pertencer ao seu rebanho, é preciso permanecer na disponibilidade para escutar sua Palavra e segui-lo no caminho do amor e da doação total.
Na primeira leitura (At.4,8-12), a comunidade cristã, através do testemunho de Pedro, ao afirmar Jesus Cristo como único salvador, o reconhece como seu pastor e guia que nos conduz em direção à vida verdadeira. Os fatos narrados acontecem logo depois que Pedro cura o homem coxo na entrada do Templo. Diante da perseguição, a comunidade precisa decidir se irá calar o anúncio do Evangelho por ordem dos líderes e anciãos ou permanecer fiel a Jesus Cristo. Assim Lucas, autor do Atos dos Apóstolos, ensina a não nos deixarmos iludir por outras figuras, por outros caminhos ou por outras sugestões que nos apresentam propostas falsas de salvação. Pedro compara a insensatez dos que rejeitam o evangelho de Jesus à cegueira de um construtor que rejeita uma pedra que vem depois a ser aproveitada por outro construtor como pedra principal num outro edifício forte, inabalável e eterno.
Na segunda leitura (1Jo. 3,1-2), São João apresenta de forma poética e embevecida a redenção que nos tornou filhos adotivos de Deus. Convida-nos a contemplar o amor do Bom Pastor por toda humanidade. Nos amando com um amor imensurável, Deus se esmera em levar-nos a superar a nossa condição de fragilidade. Na missão do seu Filho Unigênito, Deus revela que o seu objetivo é integrar-nos na sua família e tornar-nos “semelhantes” a Ele pelo chamado à Santidade. A filiação divina é uma realidade que nos atinge no dia do nosso batismo, nos acompanha ao longo da peregrinação por esta terra, enquanto nos auxilia com a graça nos sacramentos e que implica uma vida de coerência com as obras e as propostas de Deus. Todavia, somente no céu, conheceremos e compreenderemos a sua realização plena. Este é o destino da humanidade! É o nosso destino: ser como Jesus ressuscitado e participar eternamente da sua glória!
No Evangelho (Jo. 10,11-18), João utiliza-se de uma das imagens mais emblemáticas da Sagrada Escritura para apresentar a identidade e missão de Jesus. Sendo assim, somos convidados a recordar o primeiro mandamento dado a Israel: a escuta. (Dt. 6,4). É através do ato de ouvir que as ovelhas identificarão o Pastor e é por meio do testemunho/vivência das ovelhas que Ele será identificado como Bom Pastor. Com o discurso que ouvimos hoje, os discípulos contemporâneos de Jesus puderam entender que fazer parte da comunidade cristã, ou seja, do rebanho de Cristo, é antes de tudo, escutar e se comprometer fielmente com sua proposta de nova humanidade. Proposta esta que se realiza com a doação da própria vida, através do amor e do serviço.
Cientes de nossas debilidades, precisamos confiar nossa vida e história aos cuidados daquele que é capaz de nos proteger e guiar, a ponto de “se entregar a si mesmo para dar a vida às suas ovelhas”. Eis o que distingue o bom e verdadeiro pastor do pastor mercenário. É a atitude diante do “lobo” (aqui, o lobo, simboliza tudo o que põe em perigo a vida das ovelhas: a corrupção, a injustiça, a violência, o pecado, o ódio do mundo). O pastor mercenário é contratado por dinheiro. O rebanho não é dele. Ele ama o dinheiro, não as ovelhas que lhe foram confiadas. Apenas cumpre o seu contrato. Foge quando percebe o perigo para ele e seus interesses pessoais. O verdadeiro pastor é aquele cuja fonte do serviço é o amor e não o dinheiro. Ele não é um mero cumpridor de contrato, mas faz com que as ovelhas tenham vida em abundância. O bem das ovelhas é a sua prioridade vital. Por isso, ele arrisca tudo em favor do rebanho e está disposto a dar a própria vida por essas ovelhas que ama. Quem gasta a vida servindo a vontade de Deus, não a perde, mas está a construindo o mundo e o caminho da vida eterna e verdadeira. Sua doação não termina em fracasso, mas em glorificação. Para quem ama, a morte não dá a última palavra, pois o amor gera vida verdadeira e definitiva.
Em nossa sociedade atual a figura do pastor já não atrai a nossa sensibilidade como fazia com as primeiras comunidades. Hoje se fala muito na palavra “líder” ou “coach” (que é pior ainda), função que muitas vezes transparece a presença de alguém que se impõe, que domina, que exige e que manda nos outros. Por isto, se faz tão necessário retornarmos à espiritualidade das primeiras comunidades cristãs que contemplavam o ícone de um jovem portando nos ombros uma ovelha resgatada como recordação de Jesus Cristo cuja vida revelou ação de um Deus que assumiu para si a responsabilidade de cuidar de todos, tornando-se o verdadeiro Pastor da humanidade através da coragem, serenidade, doação, simplicidade, serviço e amor gratuito.
Estamos verdadeiramente seguindo o Bom Pastor? Ou estamos seguindo pretensos líderes por estradas que ao invés de pastagens abundantes tem-nos levado a abismos e a terra árida? Como as primeiras comunidades cristãs fizeram com Pedro e os Onze, ainda escutamos o Papa e nossos Bispos que são sinal da Tradição e do Magistério que fizeram chegar até nós a presença de Cristo? De quem sãos as vozes que estamos escutando e deixando conduzir nosso coração? Será de um político corrupto, ganancioso e manipulador? Será de um artista narcisista? De um influenciador digital egocêntrico? De algum líder religioso que adultera e manipula a Palavra de Deus para impor seus devaneios anticristãos?
Busquemos conhecer e aderir a Cristo. Somente Ele pode preencher as nossas mais íntimas aspirações de Paz, de Verdade e de Vida plena.

Pe. Paulo Sérgio Silva
Diocese de Crato.




