HOMILIA DO 2º DOMINGO DA PÁSCOA – ANO B – DOMINGO DA DIVINA MISERICÓRDIA

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A IGREJA REUNIDA EM TORNO DA DIVINA MISERICÓRDIA

A paz esteja convosco. Como Pai me enviou, também eu vos envio.” (Jo. 20,21)

Concluindo a oitava da Páscoa, celebramos hoje o Domingo da Divina Misericórdia que foi incluído no calendário litúrgico pelo Papa e agora santo, São João Paulo II, em 30 de abril de 2000, na Missa de canonização de Santa Faustina, religiosa cujas revelações particulares a tornaram conhecida como apóstola da Divina Misericórdia. Assim sendo, desde o ano 2000, as comunidades paroquiais de todo o mundo passaram a celebrar no segundo domingo da Páscoa, a Festa da Divina Misericórdia. A partir disto, compreendemos porque a liturgia da Palavra deste domingo revela a comunidade cristã como o lugar privilegiado do encontro com Jesus ressuscitado. A Igreja, cuja missão essencial é anunciar o Evangelho, é chamada a ser instrumento da Misericórdia Divina pelo testemunho da Caridade e pela comunicação dos sacramentos de Cristo. Eis a comunidade de Seres Humanos Novos, que nasce da cruz e da ressurreição de Jesus: a Igreja. A missão desta comunidade consiste em revelar a humanidade, a vida nova que surge da ressurreição.

Todos os anos, ao longo da semana da Oitava da Páscoa, a liturgia da Palavra convida a contemplar – através dos olhos de São Lucas e de sua obra – os primeiros anos da comunidade cristã. Todavia, ao contrário do que o livro de Atos dos Apóstolos nos apresenta, a Igreja já passava por grandes dificuldades internas e externas. Na década de 80 D.C – época na qual Lucas escreveu sua obra – a fé entusiasmada e dinâmica dos primeiros anos de cristianismo começava a esfriar e esmorecer. Vários sãos motivos que causaram este esfriamento e desânimo na fé. Dentre tantos podemos citar: a) os anos de espera ansiosa pelo retorno imediato e glorioso de Jesus que não se realizou; b) as perseguições que se tornaram cada vez mais frequentes; c) o surgimento de falsos mestres com doutrinas gnósticas que causou divisões e descrença no interior das comunidades.

Na primeira leitura (At.4,32-35), Lucas apresenta o rosto e o coração da comunidade cristã de Jerusalém, com os traços da comunidade ideal: é uma família formada por pessoas de raça e tribos diferentes, mas que vivem a mesma fé “num só coração e numa só alma” (At.  4,32). Se trata de uma comunidade que vive intensamente os ensinamentos do Senhor Jesus e se reúne para louvá-Lo na meditação da Palavra, na oração e na Eucaristia, e manifesta esta vivência com o amor fraterno que ecoa em gestos concretos de partilha, de doação e serviço, testemunhando desta forma a graça transformadora da Ressurreição de Jesus Cristo. Será este testemunho concreto do Evangelho vivido e praticado nas primeiras comunidades que inquietará e encantará os pagãos a ponto de eles afirmarem assombrados: “Vede como eles se amam!” (Tertuliano).

Na segunda leitura (1Jo. 5,1-6), São João, escrevendo para uma de suas comunidades, aprofunda a reflexão da primeira leitura enquanto recorda aos membros da comunidade cristã quais os critérios que definem a vida cristã autêntica: o verdadeiro discípulo é aquele que amando Deus, acolheu com convicção à proposta de salvação que, através de Jesus Cristo Ressuscitado, Ele faz a humanidade. Este amor a Deus é manifestado no amor vivencial e concreto para com os irmãos e irmãs.

 No Evangelho (Jo. 20,19-31), o apóstolo João, expressa a centralidade de Jesus, Vivo e Ressuscitado, na comunidade cristã.  É em torno d’Ele que a comunidade se estrutura e se reergue em meio as perseguições cotidianas que causam desolação. E é Ele que lhes doa a vida nova por meio do sopro do Espírito Santo, os animando e tornando-os capazes de enfrentar as dificuldades e a intolerância. Por outro lado, é na vida da comunidade (na sua liturgia, no seu amor, no seu testemunho) que os homens encontram as provas de que Jesus está vivo.

Mas como se chega à fé no Ressuscitado? Pode-se fazer a experiência da fé em Cristo vivo e ressuscitado na sua Comunidade. Ela é o lugar onde se irradia naturalmente o amor de Jesus Cristo. Com a sua momentânea postura de incredulidade, Tomé representa todos aqueles que vivem fechados em si mesmos e que não acreditam no testemunho da comunidade; se recusando a acreditar nos sinais de vida nova que se manifestam nela. Como Tomé, nossa atual sociedade contemporânea em constante e permanente atitude egoísta, se recusa a entrar e participar da mesma experiência comunitária do encontro com Cristo e exige obter (somente para si próprio) uma demonstração particular e privilegiada de Deus. Mas é o mesmo Tomé que vivencia a experiência de Cristo vivo no interior da comunidade. No entanto, isto só se torna possível porque no domingo seguinte ele volta a estar com a sua comunidade. Reunir-se com Jesus e sua comunidade é uma indicação que toda comunidade é convocada para celebrar a Eucaristia, pois somente no encontro com a fraternidade, com o perdão dos irmãos, com a Palavra proclamada, com o pão partilhado, é que se faz a experiência com Jesus Cristo ressuscitado.

Ao incrédulo Tomé – por viver na mesma época que Jesus Cristo – foi dada a graça de ao retornar ao seio da comunidade, experimentar de modo “palpável” Aquele que fora crucificado e ressuscitara para nossa salvação. Ele contempla, se aproxima e crê. Torna-se fiel. Aos cristãos ao longo das eras, no entanto, é transmitido o testemunho escrito das testemunhas oculares, para que nós creiamos e, crendo, tenhamos a vida em seu nome. Nós somos os felizes e bem-aventurados “que acreditam sem ter visto”! Nossa fé é, pois, Apostólica e Eclesial porque somos herdeiros daqueles que ouviram o Cristo e transmitiram sua Palavra e seu ensinamento fielmente a humanidade.

Para refletirmos: O que a nossa comunidade tem testemunhado? Aqueles que procuram Cristo ressuscitado, o estão encontrando em nós? O amor de Jesus transparece nos nossos gestos e nas vidas de nossas comunidades?

Pe. Paulo Sérgio Silva

Diocese de Crato.

 

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