A URGÊNCIA DA CONVERSÃO PARA QUE O REINO DE DEUS ADENTRE EM NOSSA VIDA
“O tempo já e completou e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc. 1,15)
A liturgia deste Domingo do Tempo Comum propõe-nos novamente a reflexão da vocação como iniciativa do amor de Deus e caminho de conversão para os seres humanos. Percebemos que a resposta do homem ao chamado de Deus passa por um caminho de conversão pessoal e de seguimento ao seu Filho, Jesus Cristo.
Na primeira leitura (Jn. 3,1-5.10), através da vocação do profeta Jonas compreendemos que Deus ama todos os seres humanos e a todos chama à salvação. Ao ouvir e atender aos apelos do profeta que convida a uma urgente mudança de vida, os ninivitas escutam os apelos de Deus e percorrem um caminho imediato de conversão constituindo um modelo de resposta adequada aos chamados de Deus.
Na segunda leitura (1Cor. 7,29-31), São Paulo ao reconhecer a brevidade desta vida, revela que as realidades e valores deste mundo são passageiros e que, portanto, não devem ser idolatrados. Deus, em seu amor misericordioso, convida cada filho e filha, a viver com os olhos no mundo futuro dando prioridade aos valores eternos, e convertendo-se aos valores do “Reino”. Para Paulo, por mais cativantes que sejam, os valores deste mundo, não devem se tornar o centro de nossa vida. Não se trata de desprezar as coisas boas deste mundo, mas trata-se de não colocar nelas, a nossa esperança, a nossa segurança, como se fossem o objetivo central da nossa vida.
No Evangelho, São Marcos (Mc. 1,14-20), apresenta o convite que Jesus faz a todos (as) para se tornarem seus discípulos(as) e para constituírem a sua comunidade, semente do Reino de Deus. No entanto, Marcos proclama, que a entrada para a comunidade do Reino exige um caminho de “conversão” e de adesão a Jesus e ao Evangelho. Ser cristão não se trata apenas de aceitar e acreditar em um conjunto de verdades doutrinais, mas é, sobretudo, aderir à pessoa de Jesus, escutar a sua proposta, acolhê-la no coração, vivê-la na vida cotidiana. Pois, como nos ensina o Papa Bento XVI, “ao início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo” (encíclica Deus Caritas est nº1)
Marcos inicia o relato da pregação de Jesus com a seguinte expressão: “O tempo já se completou e o Reino de Deus está próximo.” (Mc. 1,15) O que ela significa? Não se trata de um “horário do tempo cronológico”, mas do que a teologia chama de “Kairós” e que poderíamos chamar de “tempo de Deus”. Poderíamos traduzir como Jesus falando: “chegou o momento propício e determinado por Deus para o pleno cumprimento de suas promessas.”
O Reino de Deus, centro da vida e da missão de Jesus, não se trata de um território geográfico ou de uma cidade mágica e perfeita que Deus fará descer do espaço. Tão pouco é um mito ou um sonho. Ele, o Reino, não é uma visão, metáfora nem uma utopia; Não é uma fábula, mas um acontecimento único e irrepetível. É uma realidade encarnada na história. O Reino é Jesus de Nazaré. Por isto que o convite realizado por Jesus aos discípulos não é para morar com Ele em algum lugar, mas para seguí-lO.
Este chamado, que é iniciativa de Deus, exige uma resposta imediata, total e incondicional. Os discípulos não exigem garantias, não solicitam tempo para pensar, para organizar seus negócios, para se despedir do pai ou dos amigos, mas, diante do chamado deixam tudo e a seguem Jesus.
O chamado a viver no seu “Reino” e a acolher a salvação não é um privilégio de um grupo especial de pessoas, mas é algo que Deus oferece a cada homem e a cada mulher, sem exceção. Todos são seus filhos, logo, todos são chamados a ser discípulos de Jesus, a “converter-se” e a “acreditar no Evangelho”. Todos são chamados a participar do Reino, mas para que este convite se torne realidade na vida dos que ouviram o chamado de Cristo, se faz necessário a conversão, isto é, a renúncia de todas as realidades que não estão conforme a vontade de Deus (Mc. 1,15). Converter-se significa reorientar a vida de modo de que nossa peregrinação histórica nesta terra nos conduza ao encontro de Deus. Se trata de, mediante os valores do Evangelho, transformar a mentalidade e mudar o comportamento de modo que Deus se torne o centro de nossa existência e o objetivo e a motivação de nossas ações. Pelas palavras e ações concretas do próprio Jesus Cristo, podemos compreender que este mundo novo de justiça, paz e amor não se concretizará sem que o ser humano renuncie ao individualismo, egoísmo e autossuficiência. “Crer no Evangelho” não se trata de decorar uma coleção de verdades doutrinais, intelectuais e morais, mas aderir concretamente a pessoa de Jesus e fazer de sua Palavra o centro de sua existência.
O que precisamos converter ainda em nossa vida para que o Reino se faça cada vez mais realidade concreta em nossa história? Já colocamos Jesus e o seu Evangelho como centro de nossa vida?
Pe. Paulo Sérgio Silva
Diocese de Crato.





