ENCONTRAR-SE E PERMANECER COM O MESTRE PARA EDIFICAR O REINO DE DEUS
“Foram, pois, ver onde Ele morava e, neste dia, permaneceram com Ele.” (Jo. 1,39)
Irmãos e irmãs.
Ao longo da semana que encerramos, o evangelista Marcos nos apresentou os primeiros passos da missão de Jesus e suas atitudes como sementes de uma nova humanidade. A liturgia deste Domingo nos oferece uma reflexão sobre a nossa disponibilidade para acolher os chamados que Deus nos faz para seguir seu Filho Jesus.
A primeira leitura (1Sm. 3,3b-10.19) apresenta-nos a história de uma das mais belas vocações bíblicas: o chamado de Samuel. A história mostra de modo claro que a vocação é sempre uma iniciativa de Deus que vem ao encontro do ser humano e o chama pelo nome (“o Senhor chamou Samuel” Cf: 1Sm 3,4). A nós, que ouvimos o chamado, nos é pedido que nos coloquemos numa atitude de total disponibilidade para escutar a voz de Deus e seguir os seus apelos (“fala, Senhor; o teu servo escuta” (Cf: 1Sm 3, 10). A atitude de Samuel é um testemunho para todos nós que tantas vezes estamos mais preocupados, em nossas orações, em falar do que em escutar o que Deus deseja nos falar. No mundo bíblico, “escutar” não significa apenas ouvir com os ouvidos. Significa, sobretudo, acolher no coração e transformar aquilo que se ouviu em compromisso concreto de vida.
Na segunda leitura (1Cor.6,13c-15a.17-20), a partir atitude de deixar-se transformar pela vocação, Paulo convida os cristãos de Corinto a viverem de forma coerente o chamado que Deus lhes fez. O cristão que vive em comunhão com Cristo deve manifestar sempre a vida nova de Deus. Isto significa que certas atitudes e hábitos desordenados devem ser totalmente afastados da vida do cristão. Para o Apóstolo Paulo, através do Batismo, o cristão torna-se membro de Cristo e forma com ele um único corpo. Sendo assim, os pensamentos, as palavras, as atitudes do cristão devem testemunhar, diante do mundo, o próprio Cristo. Não é à toa que ele proclamava em suas comunidades: “Tende em vós o mesmo sentimento que havia em Cristo Jesus” (Fl. 2,5)
No Evangelho (Jo.1,35-42), João narra os acontecimentos que se sucedem logo depois do Batismo de Jesus e descreve o seu encontro com os seus primeiros discípulos.
Mais do que a descrição dos acontecimentos sucedidos em um dia comum, o evangelista narra um processo catequético que culmina na total e irrestrita decisão de seguir Jesus Cristo. Este caminho catequético se faz justo e necessário para todos que foram batizados e carregam o honroso nome de cristão.
Para bem conhecer, percorrer e viver este caminho, temos que ter atenção as perguntas e aos verbos que aparecem na narração do Evangelho. “E vendo que o estavam seguindo”: Seguir significa caminhar atrás de Jesus, percorrer o mesmo caminho de amor e de entrega que Ele percorreu, ter as mesmas atitudes de Jesus e colaborar com Ele na missão. Neste seguimento não há lugar para dúvidas ou para desculpas que adiem a decisão. A pergunta de Jesus (“o que estás procurando?”) sugere que é necessário, para os discípulos, terem consciência do caminho e daquilo que Jesus lhes pode oferecer para que não o sigam por motivos errados, procurando n’Ele a realização de objetivos pessoais que não são a essência da missão de Jesus. Os discípulos respondem com uma pergunta: “Rabi, onde moras?” A indagação manifesta a sua vontade de aderir totalmente a Jesus, de aprender e estabelecer comunhão de vida com Ele. Eles desejam morar com Deus e partilhar da sua vida. Jesus os convida: “Vinde ver”. O convite de Jesus significa que Ele os convida a segui-l’O e a partilhar a sua vida. Os discípulos devem fazer a experiência de um encontro pessoal com o Cristo, pois a identificação com Jesus não acontece por informação, mas é algo que se alcança apenas através de uma experiência pessoal de comunhão e de encontro com Ele. “Permaneceram com Ele”: Para João o verbo “permanecer” significa uma atitude perene e eterna. Ele afirma a hora: quatro da tarde. Nasce naquele momento assim, a comunidade do Messias. É a comunidade daqueles que se encontram pessoalmente com Deus que vem ao nosso encontro. A família dos que procuram n’Ele a verdadeira vida e a verdadeira liberdade e que se identificando com Ele, aceitam segui-l’O no seu caminho de amor e de entrega. São aqueles que estão dispostos, em vida e me verdade, a uma vida de total comunhão com Ele.
O último passo do caminho vocacional é o testemunho. Os discípulos tornam-se testemunhas. O encontro verdadeiro com Jesus, conduz sempre a uma vida missionária. O encontro com Jesus nunca é um caminho fechado e individual. Mas é um caminho que leva ao encontro dos irmãos e que deve tornar-se sempre anúncio e testemunho. Quem experimenta a vida e a liberdade que Cristo oferece, sente a incontrolável necessidade de a partilhar com os outros, a fim de que também eles possam encontrar o verdadeiro sentido para a sua existência. O grito “Encontramos o Messias!” deve ser o anúncio alegre de quem fez uma verdadeira experiência de vida nova e que anseia por levar os irmãos a fazer esta mesma experiência libertadora, salvadora e transformadora.
Pe. Paulo Sérgio Silva
Diocese de Crato.





