PROFETAS CHAMADOS A ANUNCIAR O SALVADOR
“Eu vos batizo com água;mas no meio de vós está aquele que vós não conheceis.” (Jo. 1,26)
Amados irmãos e amadas irmãs!
Nossa caminhada espiritual no advento nos recorda que Deus tem um plano de salvação e de vida plena para oferecer a toda humanidade a fim de fazê-la passar das trevas do pecado à luz da Graça divina. O terceiro domingo do advento é chamado de “gaudete” (alegrai-vos). Somos assim convidados a preparar o caminho para o Senhor que vem. A liturgia deste modo nos propõe hoje a alegria como uma atitude interior e fundamental para receber o Cristo neste Natal. Vivendo este tempo de expectativa e de esperança, guiados pela descrição e idoneidade dos profetas, devemos mover o coração para acolher a vinda do Senhor. Nossa missão de anunciar o evangelho dever permeada de alegria tal qual foi a de João Batista quando ele pressentiu a presença do Messias ainda oculto no ventre de Maria.
Aprofundando a reflexão sobre a vocação dos profetas iniciada no domingo passado, o Evangelho de hoje (Jo. 1,6-8.19-28) nos convida novamente a voltar nosso olhar para João Batista, a “voz” que prepara os homens para acolher Jesus Cristo, a “luz” do mundo. O objetivo de João não é centralizar em si as atenções; ele, ciente de sua missão, deseja levar os seus ouvintes a acolher, “conhecer” e “reconhecer” Jesus, o enviado de Deus Pai, que traz a revelação definitiva do amor divino com uma proposta de vida e liberdade plena para os seres humanos.
Na primeira leitura (Is. 61,1-2a.10-11), o profeta escreve para consolar aos repatriados – que retornam para Jerusalém depois do exílio – diante do desafio de reconstruir a cidade santa. Conhecemos assim a vocação e missão do profeta. Como “ungido” de Deus, ele recebe a plenitude do Espírito e é enviado para anunciar uma “boa notícia: o Ano da Graça. Este profeta, ungido pelo Espírito, reconhece que sua missão é anunciar um tempo novo, de vida plena e de felicidade sem fim, um tempo de salvação que Deus vai oferecer aos “pobres”. No contexto bíblico, o termo “pobre” não significa uma categoria sociológica, mas sim uma categoria espiritual. Os pobres são os carentes de bens, de dignidade, de liberdade e de direitos; e que por isto, são considerados os preferidos de Deus e o objeto de sua especial proteção e ternura. Para as primeiras comunidades cristãs, o ano da Graça definitivo realizou-se na vida e missão de Jesus Cristo.
E se somos objetos da ternura de Deus, devemos nos esforçar para viver a altura de tão sublime afeição. Assim, na segunda leitura (1Ts. 5,16-24), São Paulo explica aos cristãos da comunidade de Tessalônica – e para nós também – qual é a atitude vital que precisamos assumir enquanto esperamos o Senhor que vem ao nosso encontro. Paulo afirma ser necessário que nos tornemos uma comunidade “santa” e irrepreensível, isto é, que vivamos alegres, em atitude de louvor, de adoração e com verdadeiro testemunho da fé, abertos aos dons do Espírito e aos desafios que o anúncio do Evangelho nos impõe.
Como já percebemos, João Batista é consciente da essência de sua missão. Na idade adulta, ele cumpre a risca aquilo que tem feito desde o primeiro encontro com o Messias ainda no ventre de Isabel. Assim sendo, ele não aceita nenhuma tentativa de ser manipulado ou centralizar a atenção na sua própria pessoa. Quando indagado se é o Messias, oferece três respostas negativas. Ele não busca a glória ou auto-afirmação. Sabe que a sua missão é meramente dar testemunho da “luz” e tem consciência de que é para essa “luz” que os olhos e corações devem ser apontados. Em meio à sociedade em que vivemos onde estamos sobrecarregados de ansiedades e tão engajados em se tornar o centro das atenções, vistos e pseudovalorizados pelas “curtidas” nas redes sociais numa perigosa estrada egocêntrica, a atitude de João Batista é um grito ensurdecedor que nos recorda que não somos o Messias. Somos também anunciadores de sua vinda e sua presença redentora. Não somos a luz, apontamos para a luz.
Depois de tantos séculos, aparentemente ainda não fomos alcançados pela voz que grita no deserto e não conhecemos Jesus Cristo. Por isto, andamos tão preocupados em defender nossas ideologias mesmo sabendo que elas não nos trazem a salvação que nossos anseios desejam. É o batismo do Messias (batismo no e do Espírito Santo) que transformará totalmente os corações dos seres humanos. Somente Ele nos fará livres e nos dará a vida em abundância. Anunciado por João Batista, Jesus Cristo já está presente, realizando e atualizando a sua obra libertadora e redentora. Em conseqüência disto, o evangelho de hoje nos recorda que a exigência essencial de nossa fé é que procuremos conhecê-lo e amá-lo,ou seja, para viver nossa missão, é justo e necessário, escutá-lo e acolher a sua proposta de vida e de libertação redentora.
Encerremos rezando com nossa Santíssima Mãe: “O Poderoso fez por mim maravilhas, e Santo é o seu nome! Seu amor, de geração em geração, chega a todos que o respeitam.”
Pe. Paulo Sérgio Silva.
Diocese de Crato.





