APLAINAI OS VOSSOS CORAÇÕES PARA ACOLHER O SALVADOR
“Preparai o caminho do Senhor, endireitai suas estradas!” (Mc. 1,3))
Amados irmãos e amadas irmãs!
Como acolher a presença de Deus em nossa vida? Apresentando o último dos profetas, João Batista, a liturgia deste domingo deseja nos ajudar a responder esta pergunta uma vez que traz um inegável apelo ao reencontro do homem com Deus e à conversão. Deus está sempre disposto a oferecer aos seres humanos um mundo novo de justiça e de paz, no entanto esse mundo apenas se tornará uma realidade quando o homem aceitar reestruturar o seu coração, conduzindo-o por meio dos valores divinos.
O texto que hoje nos é proposto é o prólogo ao Evangelho segundo Marcos. Nele, o evangelista Marcos introduz os motivos fundamentais do seu Evangelho. Trata-se, de apresentar uma “Boa Notícia” (“Evangelho”) aos cristãos perseguidos e com dúvidas na fé. Qual é essa “Boa Notícia” que revigorará a fé dos cristãos? É a certeza de que Jesus é o Messias libertador (“o Cristo”) e o Filho de Deus. Por meio destes dois títulos conferidos a Jesus Cristo, Marco revela a Missão e a Identidade de Jesus.
No Evangelho (Mc. 1,1-8), nos é apresentado, de modo sucinto, a missão profética de João Batista, a sua pregação, a reação dos ouvintes ao ouvi-lo, o seu modo de vida e o mais importante, o seu testemunho sobre Jesus. João Batista convida o povo de Israel e também toda a humanidade a acolher o Messias. João compreende que a missão do Redentor será oferecer a todos os seres humanos, o Espírito de Deus que gera vida nova alimentada pela vivência do amor e da liberdade. No entanto, só receberá esta vida nova quem se atrever a percorrer o audacioso caminho da conversão que realiza a verdadeira mudança de vida e de mentalidade.
Qual é a missão de João? É ser a “voz que grita no deserto” conduzindo aqueles que querem saciar sua sede de salvação no oceano da misericórdia divina. É ser o “mensageiro” que prepara o caminho para o “Messias”, o “Filho de Deus”. Qual o conteúdo de sua pregação? Reconduzir o povo de Israel a santidade desejada por Deus para assim poderem acolher o Messias. Esta santidade se realizará através de um caminho de purificação e de conversão. Assim entendemos que o “batismo de penitência” anunciado por João Batista é um “batismo de conversão”. Este rito penitencial representa um convite à mudança radical de vida, de comportamento, de mentalidade.
Para nos ajudar a compreender a missão de João Batista, a primeira leitura (Is. 40,1-5.9-11), nos fala do profeta Isaías que na época do Exílio garante aos escravos que Deus é fiel a sua Aliança e que irá novamente conduzir o Povo de volta à terra da liberdade e da paz. Ao Povo, todavia, é pedido que abandone o seu orgulho e desobediência e seus costumes de egoísmo e de auto-suficiência e aceite ser renovado e transformado pelos desígnios de Deus. Israel precisa recordar que somente Deus é a salvação. Precisa reconhecê-lo como seu pastor que “apascenta o seu rebanho, reúne, com a força dos braços, os cordeiros e carrega-os ao colo”. Quais são os vales e montanhas que precisam de ser nivelados, os caminhos que precisam de ser endireitados para que Deus venha ao nosso encontro? Para os Padres da Igreja, o convite para nivelar os vales e rebaixar as montanhas, se refere na verdade, ao apelo que João Batista também irá fazer para que o ser humano se afaste e abandone tudo o que impede de viver verdadeiramente a vontade de Deus. O que é que dificulta percorrer o caminho que Deus nos propõe? O que nos impede de nascer para uma vida nova? Os bens materiais? A posição social? O comodismo? O medo? O pecado? A frieza espiritual? O desânimo? O Advento é o tempo favorável para limparmos nossos corações, de tal modo de forma que este Deus que nasceu por nós para redimir e libertar o mundo, permaneça realizando esta salvação através de nossa vida e nosso testemunho.
A segunda leitura (2Pd. 3,8-14) apontando para a segunda vinda de Jesus (que a teologia chama de a Parusia) nos convida a manter a atitude de vigilância, vivendo cotidianamente os ensinamentos de Jesus, transformando o mundo e construindo o Reino. Se os cristãos conduzirem suas vidas num esforço contínuo de conversão, contemplarão no final da sua caminhada terrena “os novos céus e a nova terra onde habitará a justiça”. Ser “vigilante” não significa ficar olhando para o céu à espera do Senhor, ignorando os problemas e sofrimentos da humanidade. Significa viver, no nosso dia a dia, um testemunho coerente com os ensinamentos de Jesus. Pois, os cristãos vivem a esperança de um futuro que deve ser conquistado já aqui nesta terra, por meio da fé e com amor, mas, como um dom de Deus ofertado a humanidade.
Por que a pregação de João é feita no deserto se na cidade é onde se encontra o povo? Por que o “deserto” foi o lugar onde Deus encontrou o seu Povo, logo é o lugar da purificação e da conversão. Foi no deserto que os israelitas abandonaram a mentalidade de escravos e acolheram vida de pessoas livres. Foi no deserto que os israelitas deixaram a mentalidade de egoísmo e encontram sua identidade de Povo para viver a partilha e solidariedade. A pregação de João lembra aos israelitas (e a nós também) a necessidade de voltar ao “deserto” para ser novamente encontrado e liberto por Deus. No entanto, no modo incisivo e duro pelo qual realiza sua missão, a proposta que João faz demonstra que não é mais um mero e repetitivo convite à conversão, mas sim o último e definitivo apelo de Deus ao seu Povo. Afinal não se trata de mais um profeta, rei ou sacerdote que exorta o povo a mudar e se converter, é o próprio Deus que vem em direção a humanidade, se tornando um de nós pela Encarnação do seu Filho Unigênito. Este Messias, por ser o Filho de Deus, manifestará a força da Misericórdia e da Graça de Deus e a sua missão será comunicar e doar o Espírito de Deus, que transforma, renova e recria os corações dos homens. Por isto, João reconhece que seu batismo não possui a força que o batismo de Jesus Cristo realizará na alma do ser humano.
Neste tempo de preparação para a celebração do Natal do Senhor, precisamos ter a certeza de que preparar a vinda de Jesus exige de nós uma transformação radical da nossa vida, dos nossos valores, da nossa mentalidade. Nossos pensamentos e comportamentos estão impedindo o nascimento de Jesus em nosso coração e em nossa vida?
Encerremos como esta exortação do profeta Isaías: “Buscai ao Senhor enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto. Deixe o ímpio o seu caminho, e o homem maligno, os seus pensamentos e se converta ao Senhor, que se compadecerá dele; torne para o nosso Deus, porque grandioso é em perdoar”. (Isaías 55, 6-7)
Pe Paulo Sérgio Silva.
Paróquia Nossa Senhora da Conceição – Farias Brito.





