HOMILIA DO 19º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO A

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CONFIANTES RESPONDAMOS AO SENHOR QUE NOS CHAMA

coragem! Sou Eu. Não tenhais medo!” (Mt. 14,27)

Com a celebração de hoje, iniciamos a semana de oração pela vocação matrimonial, sendo que, a Pastoral Familiar realiza a Semana Nacional da Família, além de ser Dia dos Pais. De modo semelhante a um casal que compreende a relevância de sua vocação, somos exortados pela Palavra de Deus a tomar consciência das exigências da missão de colaborar na edificação do Reino de Deus. É justo e necessário ter convicção, coragem e coerência para seguir a voz de Cristo, para não se desviar da missão.

Na primeira leitura (1Reis 19,9a.11-13a) somos colocados diante da missão do profeta Elias. Induzido pelos erros e infidelidade do rei Acab e sua esposa Jezabel, o povo eleito esquece os benefícios realizados por Deus no passado, começa a abandonar a Aliança e ergue altares aos deuses pagãos. No monte Carmelo, o profeta Elias lança um desafio aos sacerdotes pagãos e os vence, revelando a fidelidade de Deus. Ameaçado pela rainha Jezabel, Elias foge e busca refúgio junto ao monte Sinai/Horeb.

A peregrinação do profeta Elias ao Horeb é um recomeço para a fé do povo eleito. Com ele, todo povo regressa às suas origens que fundamentam sua fé. Ao retornar ao lugar do seu compromisso inicial com Deus, Israel precisa de se encontrar de novo com Ele e redescobrir a sua vocação de Povo da Aliança, Povo Sacerdotal que é sinal da santidade divina. O encontro de Elias com Deus recorda a revelação de Deus a Moisés por ocasião da entrega do Decálogo. Todavia, surgem diferenças. Enquanto a Moisés, Deus revelou-se em sinais grandiosos e portentos espantosos (Ex. 19,16-19; Dt. 4,10-13; Sl. 49,3; Sl. 77,15-21), a Elias, sua presença é revelada por meio de uma brisa leve e quase imperceptível. Assim se percebe que nem só de prodígios e sinais estupendos se vive a fé. O encontro pessoal com Deus acontece também na intimidade, na tranquilidade, no silêncio que nasce da simplicidade e que adentra no coração de quem o procura na fidelidade que faz nascer a familiaridade e a comunhão. Como Elias, Pedro (no evangelho) e todos os vocacionados precisam retornar as origens de sua vocação para retomar àquela mesma confiança que os levou a deixar as redes de pesca para trás e caminhar com Jesus Cristo até a Cruz e a Ressurreição.

Na segunda leitura (Rm. 9,1-5) continuamos acompanhando as palavras do Apóstolo Paulo aos cristãos da comunidade de Roma. Depois de apresentar sua catequese sobre a salvação universal e gratuita que Deus Pai oferece na pessoa do seu Filho, Jesus Cristo, São Paulo revela que em seu coração habita ainda um sentimento de pesar relacionado ao Povo de Israel por causa da sua recusa em aceitar e acolher o Redentor. O Povo Eleito foi adotado por Deus para se tornar sinal de sua santidade. Eles são o Povo da Aliança, dos antepassados que presenciaram e testemunharam as grandiosas ações de Deus e viveram em comunhão com Ele. E agora se recusam a aceitar o Filho de Deus cujo nascimento embora realizado na simplicidade e discrição, na verdade, revele o maior sinal do amor divino: a Encarnação, Deus se tornou homem. Ao finalizar suas palavras com uma benção, o apóstolo revela que acredita que tudo concorre para a realização da vontade salvífica de Deus “que está acima de todas as coisas” e que um dia esta recusa de Israel em aceitar o Redentor servirá para proclamar a misericórdia e a paciência de Deus.

No Evangelho (Mt. 14,22-33) depois de realizar a milagrosa multiplicação dos pães e peixes, Jesus Cristo retira-se para rezar e envia os discípulos à outra margem do mar para anunciar as maravilhas que eles viram e ouviram da Boa nova, pois eles devem levar o banquete do Reino a toda terra. Em meio a travessia, os discípulos sofrem os ataques de um mar revolto que ameaça afundar o barco. Os discípulos são tomados pela preocupação, medo e inquietação, pois Jesus não está fisicamente com eles. Como Senhor de toda a criação, Jesus vai ao seu encontro caminhando sobre as águas revoltas que diante de sua presença silenciam e serenam. Pedro, em nome da comunidade, deseja caminhar com o Senhor, mas antes deverá provar se sua fé está alicerçada em si mesmo ou em Deus.

A cena narrada por Mateus permanece atual porque é a realidade de toda comunidade cristã, tanta da época do evangelista que a escreve quanto da nossa própria época. Vejamos os elementos que compõem a cena. As diferentes realidades vividas no mesmo momento por Jesus e pelos discípulos revelam a necessidade de “Oração”. Jesus está rezando em comunhão serena com o Pai mesmo com proximidade da Cruz em sua vida, ao passo que os discípulos, na primeira dificuldade, são tomados pelo medo e pela convicção de que Deus os abandonou. Não era assim com o povo de Israel no Antigo Testamento e conosco ainda hoje? Sem oração facilmente o coração é tomado pelo medo que é expressão da falta de confiança em Deus. “As trevas” que envolvem os discípulos não são apenas frutos da escuridão noturna, mas representam as incertezas, medo e inseguranças de todos que ao longo da história se deixam tomar pela desconfiança, perdem o caminho vocacional indicado por Deus e ficam sem saber para qual estrada seu coração deve se inclinar. “As Ondas” que atingem ferozmente o barco tentando afundá-lo representam as perseguições e hostilidade que ao longo da história tentaram impedir os vocacionados de alcançar o objetivo de sua vida que é fazer a vontade de Deus. Os “Ventos Contrários” de modo semelhante as ondas, representam tudo aquilo que deseja mover o coração dos discípulos para trás e os levar abandonar a ordem do Senhor para chegar a outra margem e anunciar as maravilhas do Reino. O conjunto das ações dos discípulos revelam uma fé fraca, superficial, insuficiente para resistir aos desafios diários do anúncio do Evangelho.

A presença de Jesus que caminha sobre um mar que emudece diante de sua presença traz à lembrança a ação de Deus no Antigo Testamento que utiliza toda a criação para realizar seu plano salvífico (Ex. 14,21-31; Sl. 77,20; Sl. 107,25-30). Jesus Cristo zela pelo seu Povo como outrora a ação divina o fez em meio a deserto e que não deixa que as forças da morte os atinjam. Sua expressão “Eu Sou” recorda o Deus que assume a missão de salvar seu povo escravizado e os conduzir a terra da libertação (Ex. 3,6).

O diálogo que acontece logo após Pedro fraquejar na fé revela a pedagogia e a paciência salvífica de Deus. Pedro é a imagem de todos os discípulos que navegam no barco que é a Igreja. Aquilo que é aparentemente impossível Pedro realiza quando confia em Jesus e segue sua voz que clama: “Vem!”. Pedro afunda quando deixa de ouvir a voz de Deus e a confia demais somente em si mesmo. Nos últimos anos o Papa Francisco inclusive tem nos falado dos perigos de uma igreja que tem a si mesmo como referência de salvação ao invés de Jesus Cristo. Uma Igreja que está mais preocupada em falar de si mesma do que do Senhor Jesus, que está mais preocupada em tornar a humanidade membro de si do que do Reino, acabará por esquecer qual a sua missão: Anunciar Jesus Cristo ao mundo.

E o Senhor novamente nos chama. O faz todos os dias. Como o fez naquele mar serenado, o faz hoje em nossa vida. Os cristãos são permanentemente exortados a assumir uma atitude de confiança corajosa e suplicante naquele que conduz sua Igreja. Jesus convida seus discípulos a ter a ousadia e a coragem em meio ao mundo que os ameaça e a manter viva a fé em meio às tribulações. Mas para isto, como nos recorda Santa Tereza D’ávila, nossa vida deve permanecer fixa no Cristo, e não nas dificuldades que enfrentamos em nossa missão de anunciar o Evangelho. A Igreja sabe, pela própria história, que não existe dificuldade que não pode ser enfrentada quando a comunidade permanece alicerçada na convicção de que o Senhor a acompanha nas tribulações nos caminhos da história. É este o caminho que Pedro e os discípulos precisam aprender para poder chegar a outra margem e fazer o anúncio da salvação se realizar. É este também o caminho que precisamos permanecer reaprendendo a cada dia em nossa peregrinação vocacional. Mais à frente esta confiança será ainda mais necessária na fé dos discípulos, pois não será apenas o mar que será vencido, pelo Cruz de Cristo, será o pior e mais temido dos inimigos que sucumbirá ante a confiança de Jesus Cristo em Deus Pai. O mal e a morte serão definitivamente vencidos pela doação de sua vida na Cruz e na sua Ressurreição (1Cor. 15,26-28).

Pe. Paulo Sérgio Silva.

Paróquia Nossa Senhora as Conceição – Farias Brito.

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