O VERDADEIRO TESOURO É JESUS CRISTO
“ele vai, vende todos os seus bens e compra aquela pérola.” (Mt.13,46)
Continuando a apresentação das características e originalidade do Reino dos Céus, a liturgia deste domingo nos questiona, a partir de nossa vocação cristã, quais são as prioridades e os valores que fundamentam a nossa existência. Afinal, quem carrega o honroso nome de cristão, para ser verdadeiramente discípulo de Jesus Cristo, deve permanecer disposto a construir a sua vida sobre os valores proposto no Evangelho.
A primeira leitura (1Rs. 3,5.7-12) apresenta-nos o diálogo entre Deus e o rei Salomão, que sucedeu a Davi, seu pai, no trono de Israel. Se Davi passou a história como modelo de rei forte, organizado e compassivo, seu filho, Salomão, tornou-se a imagem do homem sábio. Em um sonho, Deus toma a iniciativa e procura o rei. Indaga o que seu coração busca e oferece para lhe conceder o que desejar. Neste encontro podemos perceber três coisas. 1ª) Mais do que um comandante de guerra, o rei é visto como o instrumento através do qual Deus conduz o seu povo. 2ª) Salomão não enxergou o trono como um posto privilegiado, mas como um ministério/serviço que ele deveria exercer com responsabilidade afim de conduzir o povo eleito conforme a vontade de Deus. 3ª) O rei não se deixou engolir pela avareza dos altos postos de governo, pois não pede fama, riqueza ou glória, mas suplica que lhe sejam concedidas as habilidades necessárias para discernir entre o bem e o mal e assim ser capaz de cumprir a missão que Deus lhe confiou.
Com estas atitudes diante de Deus, Salomão, se tornou é o protótipo do homem “sábio”, que consegue perceber e escolher o que é importante e que não se deixa seduzir por valores passageiros ou superficiais. Deste modo, ele próprio poderia aconselhar ao povo eleito a escolher os valores eternos e essenciais que somente Deus pode oferecer. As atitudes e escolhas do rei Salomão são as mesmas que Jesus Cristo espera dos seus discípulos diante das parábolas narradas no evangelho de hoje.
A segunda leitura (Rm. 8,28-30) depois de afirmar que a salvação é dom universal que Deus oferece na pessoa do seu Filho, Jesus Cristo e que o Espírito Santo é a sabedoria divina que guia o coração humano para que possa acolher e viver na fidelidade o dom da graça salvífica, o Apóstolo Paulo reafirma que o caminho vivido por Jesus é a conclusão do plano de amor de Deus. Uma falha na interpretação pode levar a pensar que São Paulo está afirmando a predestinação no sentido de que a salvação é direcionada apenas a um grupo de predestinados e que Ele escolheu uma parte da humanidade para ser salva e ou não. Afirmar tal coisa conhecendo a teologia paulina se torna um erro grotesco e absurdo. Para o Apóstolo, o plano salvífico de Deus é gratuito e aberto a todos que desejam acolhê-lo. Ele é dom preparado por Deus desde toda a eternidade para toda a humanidade, no entanto, quem opta pela salvação em Jesus Cristo deve estar pronto para renunciar tudo aquilo que não se adequa ao seu projeto chamado Reino dos Céus.
No Evangelho, continuamos acompanhando a catequese de São Mateus que visa revelar o mistério do Reino dos Céus. Depois de apresentar o Reino como uma realidade que é oferecida pela graça a toda a humanidade (Mt. 13,1-23) e que possui uma força transformadora, irreversível e que cresce à medida que é acolhido e vivido pelo coração humano (Mt. 13-24-43), Mateus agora o apresenta como uma preciosidade inestimável, um bem incalculável oferecido por pura gratuidade, mas que exigirá a renúncia de todos os outros valores que podem querer tomar conta do nosso coração (Mt. 13,44-52). Com estas parábolas, Jesus indica aos discípulos que para permanecer seguindo-o, eles deverão fazer do Reino de Céus o centro de suas vidas como sua prioridade fundamental e vital.
As duas primeiras parábolas apresentam o mesmo ensinamento: o Reino é uma realidade fundamental que todos devem estar dispostos a viver e acolher plenamente como seu bem mais precioso. As parábolas nos guiam por meio de três verbos presentes nas atitudes dos personagens: encontrar, vender/renunciar e alegrar-se.
O encontro com a pessoa de Jesus ao longo dos quatros evangelhos acontece de modo semelhante ao tesouro e a pérola apresentados nas parábolas. Assim como o homem que encontrou o tesouro no campo, alguns encontraram Jesus sem que estivessem o procurando especificamente (Mt. 4,18-22; Mc. 1,16-20; Lc. 5,27-28; Jo. 1,45-51; Mc. 15,39; At. 9,1-9) outros, como o comprador de pérolas, o encontraram depois de grande esforço e busca (Mt. 2,1-12; Lc. 8,43-48; Jo. 12,20-22). Para ser capaz de encontrar Jesus se faz necessário ter o mesmo anseio que Salomão (primeira leitura): um coração simples, compreensivo e com a sabedoria capaz de discernir entre o bem e o mal. Segundo o Papa Bento XVI, todos nós devemos estar prontos para duas atitudes quando encontramos o tesouro fundamental da nossa vida: “deixar todas as outras coisas vãs para trás e, ao ouvir a voz da Verdade, que é Cristo, segui-lo imediatamente!”
Se a busca é o impulso que movimenta a vida de quem anseia pelo Reino, o ato de renunciar é a segunda força norteadora do seu coração. Renunciar a tudo que tem para permanecer com o que foi encontrado. O tesouro escondido, a pérola preciosa é o próprio Jesus Cristo, pois é Ele que enche a nossa existência de sentido e significado. A atitude dos personagens das parábolas é a mesma dos discípulos ao encontrar Jesus: não relutam, não ficam contabilizando perdas e ganhos (Mc. 1,16-20). E uma vez feita a escolha não ficam se lamentando pelo que foi renunciado (Mc. 9,17-22; Fl.3,7-14[1]). Do mesmo modo deve ser conosco ao nos encontrarmos com Cristo: precisamos estar dispostos a sacrificar tudo aquilo que consideramos de mais valioso para permanecer com Ele. Devemos nos perguntar: qual é a renúncia que devo fazer e ainda não o fiz? Qual valor preciso sacrificar para que meu coração seja somente de Jesus? Tudo devo renunciar porque Ele renunciou a tudo por mim. Tudo precisamos sacrificar para que Ele seja o único tesouro de nossa vida (Lc. 14,25-27; Mt. 10,37-39).
Uma vez feita a escolha de renunciar tudo pelo tesouro (Cristo), a alegria deve tomar conta de quem o encontrou e escolheu segui-lo (Jo. 4, 28-30; Mc. 10,46-52). Nada deve nos alegrar mais do que a convicção de ter encontrado a Cristo e fazer parte da sua comunidade do Reino! Quem escolheu consagrar sua vida a Cristo deve ser sinal de alegria.
A última parábola que narra uma rede repleta de peixes possui semelhanças com a parábola do semeador e com a do joio e o trigo. As três parábolas ensinam que o Reino dos Céus é oferecido a toda humanidade que no final dos tempos será dividida entre aqueles que optaram pelo Reino ou não. A rede que recolhe os peixes é a Igreja, a Comunidade de Jesus que permanece como sinal do Reino que cresce. Um dia, no entardecer da existência, estaremos todos, diante do pescador de nossas almas, que fará então a separação dos bons e dos maus. Por isto, a escolha por Cristo deve ser diária afim de evitar que algum pretenso tesouro efêmero queira ocupar o nosso coração.
Pe. Paulo Sérgio Silva.
Paróquia Nossa Senhora da conceição – Farias Brito
[1] “E mais ainda: considero tudo uma perda, diante do bem superior que é o conhecimento do meu Senhor Jesus Cristo. Por causa dele perdi tudo, e considero tudo como lixo, a fim de ganhar Cristo, e estar com ele. E isso, não mais mediante uma justiça minha, vinda da Lei, mas com a justiça que vem através da fé em Cristo, aquela justiça que vem de Deus e se apoia sobre a fé. Quero, assim, conhecer a Cristo, o poder da sua ressurreição e a comunhão em seus sofrimentos, para tornar-me semelhante a ele em sua morte, a fim de alcançar, se possível, a ressurreição dos mortos. Não que eu já tenha conquistado o prêmio ou que já tenha chegado à perfeição; apenas continuo correndo para conquistá-lo, porque eu também fui conquistado por Jesus Cristo. Irmãos, não acho que eu já tenha alcançado o prêmio, mas uma coisa eu faço: esqueço-me do que fica para trás e avanço para o que está na frente. Lanço-me em direção à meta, em vista do prêmio do alto, que Deus nos chama a receber em Jesus Cristo. Portanto, todos nós que somos perfeitos devemos ter esse sentimento. E, se em alguma coisa vocês pensam de maneira diferente, Deus os esclarecerá. Entretanto, qualquer que seja o ponto a que chegamos, caminhemos na mesma direção”.




