HOMILIA DO 12º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO A

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ENVIADOS EM MISSÃO, CONFIAMOS NAQUELE QUE NOS CHAMOU

Não tenhais medo daqueles que matam o corpo, mas não podem matar a alma!” (Mt. 10,28)

A liturgia deste domingo continua nos apresentando a escola de catequese na qual Jesus formou os discípulos nos valores do Reino dos Céus. Hoje, os discípulos são confrontados com as dificuldades em viver a fé e dar testemunho do Evangelho no mundo. Assim como acontecera com os profetas, a perseguição será sempre uma companhia ao longo do caminho do discipulado. No entanto, a fidelidade e a confiança os farão perceber também que a solicitude e o amor de Deus jamais abandonam quem a Ele se confia.

A primeira leitura (Jr. 20,10,13)) apresenta-nos o profeta Jeremias e sua difícil missão. Deus concedeu a ele a espinhosa missão de anunciar e denunciar ao povo de Jerusalém  que as injustiças e maldades enraizadas nas suas vidas acabarão por levar a destruição.  O profeta compreende que foi chamado realmente “para arrancar e para derrubar, para devastar e para destruir” afim de com isto poder “edificar e plantar” (Jr.1,10) um novo recomeço para o povo de Deus. A sua fidelidade e radicalidade na missão o tornaram objeto da rejeição e do ódio em toda parte. Todos (familiares, amigos, líderes políticos e religiosos, etc.) se afastaram dele. O texto que meditamos faz parte do conjunto chamado de “confissões de Jeremias”, onde ele, com o coração límpido, sincero e sensível, desabafa sua solidão, frustração, amargura e desengano diante de Deus.

Jeremias passou por grandes sofrimentos e perseguições, mas não deixou que a própria segurança, a aceitação social ou profissional o impedisse de viver sua missão. Pois, o centro de sua vida se tornou anunciar com fidelidade a vontade de Deus. E por causa de sua fidelidade, o Senhor, veio em seu socorro. Jeremias nunca pretendeu atacar ou magoar ninguém. Deseja somente proclamar fielmente a Palavra. É interessante perceber como o texto de hoje muda repentinamente o tom. O lamento de alguém inocente que se sente solitário, abandonado e atacado por todos, se torna um hino de louvor e de confiança que expressa a única certeza de seu coração: ele não está só; confiou e continuará confiando no Deus do amor e da justiça. O salmo 68 (69) meditado hoje na liturgia expressa plenamente o coração do profeta Jeremias.  É esta atitude que Jesus Cristo recomenda de modo semelhante aos seus discípulos no evangelho de hoje. No sacramento do batismo, o Espirito Santo nos ungiu como “profetas”, discípulos de Jesus. Estamos vivendo esta vocação a que Deus nos elegeu?

Na segunda leitura (Rm. 5,12-15), nestas duas semanas anteriores temos acompanhado o Apóstolo Paulo em seu diálogo catequético com os cristãos, advindos dos judeus e do paganismo. Nestes textos, o Apóstolo revela a unidade e gratuidade da salvação. Todos infelizmente vivem mergulhados no mal. O essencial para a fé não é cumprir a lei de Moisés – instância que nunca foi capaz de trazer a plenitude da salvação. O fundamental é e permanecerá sendo tornar-se discípulo de Jesus e acolher a plenitude da salvação que Deus realizou através do seu Filho (Jo. 14,6-7).

Em sua pedagogia singular, Paulo apresenta sua célebre analogia das figuras opostas. Adão é citado como modelo de humanidade que escolheu afastar-se de Deus e percorrer caminhos egoístas e autossuficientes. E esta escolha “desgraçou” sua descendência por produzir frutos de destruição, injustiça e morte. Cristo é apresentado como imagem de uma nova humanidade que escolheu permanecer em atenta, obediente e sincera escuta dos planos divinos. Aquilo que foi vivido de modo limitado pelos profetas – como Jeremias na primeira leitura – foi levado a plenitude durante toda sua vida por Jesus Cristo. E por isto, Ele tornou-se fonte de Vida e Verdade para todos. Em sua graça benevolente, Cristo, libertou-nos das garras da “economia da morte e do pecado” e nos reinseriu na “economia da graça e da salvação” que sempre foi a vontade do Pai desde o início da criação.

No Evangelho (Mt 10,26-33), permanecemos – como no domingo passado – reunidos com os demais discípulos ao redor de Jesus Cristo em meio ao seu “discurso da Missão” que visa preparar-nos para ir ao mundo anunciar a sua libertação e salvação.

Mateus escreve para uma comunidade com notável ardor missionário e cujos membros em grande maioria são cristãos vindos do judaísmo. Por isto, Jesus Cristo é apresentado em atitudes, palavras e lugares que remetem aos grandes momentos da história de Israel. Como Deus escolheu Israel para ser seu Povo Santo, Cristo elege os apóstolos e discípulos e lhes confia uma missão. Aos eleitos é necessário ter consciência da seriedade e dos riscos advindos da missão. De modo semelhante aos antigos profetas, eles passarão por inúmeros sofrimentos e perseguições. No entanto, profeticamente também necessitarão permanecer confiantes na fidelidade Daquele que os chamou (1Ts. 5,24) e que se fará presente e os auxiliará em toda e qualquer situação.

Deve ser por isto que a frase exortativa para que “não temam” surge incólume como centro da catequese. Utilizada três vezes neste texto por Mateus, a expressão é uma velha conhecida na história da salvação. Apareceu abundantemente já no Antigo Testamento (Cf: Gn. 15,1.21,17.46,3; Dt. 3,2; Dt.31,6; Js. 19. 8,1.10,8; Jr. 1,8; Jr 30,10; Is. 41,10. 13-14; Jl. 2,21) e no Novo Testamento (Mc.5,36; Lc.1,13.1,30. 5,10; Jo12,15; At.18,9.27,24; Ap.1,17.2,10). E esta mesma expressão foi usada em alegres exortações pelo, agora santo, Papa João Paulo II.

Jesus Cristo no texto exorta três vezes, os discípulos a não ter medo e confiar. Primeiro: para não ter medo daqueles grupos que usam de subterfúgios ardis e maquinações para tentar silenciar a força do Evangelho. Os discípulos, enfrentando as perseguições e calúnias, devem anunciar de modo coerente e convicto até mesmo de cima dos telhados se for necessário. Segundo: do mesmo modo, não devem se deixar vencer pelas ameaças de morte física. O Discípulo que percorre fielmente o caminho do evangelho, ainda que perca a vida física chegará a vida plena e abundante na ressurreição. Terceiro: Por isto, os discípulos devem encontrar dentro si a mesma confiança absoluta em Deus que alimentou a fé de Abraão, Moisés, Davi, Jeremias, Ezequiel e do Filho, Jesus Cristo.  Se Deus cuida com ternura, zelo e amor daquelas criaturas consideradas indefesas e irrelevantes como os pássaros citados como exemplo por Mateus, quanto mais cuidará dos filhos e filhas que se confiam a Ele. Deus que nos deu a vida e nos chamou a santidade, cuida de cada um e de todo aquele que a Ele se confia, pois Ele conhece nossas dificuldades, fragilidades e angústias. Sendo assim, Ele cuida de nós com tal amor, primor e atenção que nem mesmo um ínfimo fio de cabelo nos é perdido sem que Ele não saiba.

Como esta confiança que desafia a lógica racional permanecerá no coração do discípulo? Pela intimidade com Jesus Cristo. Ele nunca duvidou de sua filiação e proximidade com o Pai. Vivendo assim, temos certeza de nada nem ninguém nos separarão Dele. Nem a “morte, tribulação, angústia, perseguição, nudez, perigo ou espada nos separarão do amor de Deus e da graça que Ele nos ofereceu em Cristo Jesus, Nosso Senhor e Salvador” (Rm. 8, 35-40).

Pe. Paulo Sérgio Silva.

Paróquia Nossa Senhora da Conceição – Farias Brito.

 

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