FELIZ OS CONVIDADOS PARA A CEIA DO SENHOR
“Porque a minha carne é verdadeira comida, e o meu sangue é verdadeira bebida”. (Jo. 6,51-58)
“Terra, exulta de alegria, Louva o teu pastor e guia, Com teus hinos, tua voz”. Assim inicia-se a primorosa sequência composta por São Tomás de Aquino especialmente para a festa de hoje. Qual o sentido desta festa? Celebrar, proclamar, professar, expressar a nossa fé inabalável em Jesus Cristo, presente em corpo, alma e divindade no seu augusto Sacramento! Deste modo, enquanto retomamos nossa peregrinação espiritual através da vivência da liturgia do tempo comum, a solenidade de hoje nos recorda que se desejarmos percorrer este caminho até a sua conclusão, não poderemos ter outro alimento senão aquele que fortalece para a vida eterna: a Eucaristia.
Na primeira leitura (Dt. 8,2-3.14b-16ª), Moisés celebra com o povo de Israel, antes de entrar na terra prometida. Faz um memorial dos 40 anos de peregrinação no deserto, lugar onde o povo através das provações, foi preparado para começar vida nova. Recorda-se que Deus não só permaneceu ao lado do seu povo como saciou sua sede e o alimentou com o maná. Assim sendo, Israel deve viver a gratidão na lembrança do que o Senhor fez: libertou, acompanhou, guiou, protegeu e alimentou o seu Povo. O Maná enquanto fruto da providência se tornou uma antecipação da Eucaristia. Todavia, o Maná era um alimento perecível e transitório porque visava fortalecer apenas a vida transitória deste mundo em que estamos. Agora que vivemos a plenitude da revelação com a Encarnação do Filho de Deus e fomos redimidos por sua Morte e Ressurreição, caminhamos pressurosos para o Reino de Deus e a vida eterna. Por isto, recebemos – ainda que sem mérito algum da nossa parte – o “pão dos anjos” como alimento, pois se caminhamos para a vida eterna, o alimento deve ser então imperecível e eterno (Jo. 6,58).
Na segunda leitura (1Cor. 10,16-17), fazendo um paralelo entre Antigo e o Novo Testamento, Paulo recorda aos cristãos da comunidade de Corinto que a redenção humana foi realizada não com derramamento do sangue de animais, mas com o sangue do próprio Deus. Cientes deste sacrifício único, somos convidados a fugir do perigo de esvaziar a essência da celebração eucarística.
No Evangelho (Jo. 6,51-58), João nos apresenta a catequese oferecida por Jesus para a multidão que o segue depois que ele multiplicou os pães e os peixes e saciou sua fome de alimento perecível e aguçou a fome de alimento eterno.
Jesus, a Palavra viva de Deus que se tornou carne, se reúne na última ceia com seus discípulos. Antes de oferecer-se na Cruz, oferece-se como Pão que dá vida nova ao mundo. A oferta que Ele faz de si mesmo na Cruz foi antecipada na oferta da Eucaristia e a oferta da Eucaristia expressa sua doação plena na cruz pela nossa redenção. A celebração é encerrada com salmos e com a decisão de ir ao Monte das Oliveiras lugar onde Jesus iniciará sua Paixão. Os discípulos o acompanham como expressão de que a Igreja deve sofrer e se doar pelo seu Mestre como Ele próprio o fez pela Igreja e por toda humanidade. Permanece em Jesus quem o comunga e permanecer em Jesus significa viver o seu projeto do Reino.
Na festa de Corpus Christi, a cada ano, a Igreja atualiza o mistério vivido na Quinta-feira Santa, mas o celebra com uma espiritualidade marcada pela Ressurreição. Se na Última Ceia, depois de partilhar o pão, os apóstolos seguem em procissão com Jesus para o Horto das Oliveiras para uma noite de agonia, traição e perseguição rumo a via cruz, na noite de Corpus Christi, retomamos esta procissão, mas na alegria da Ressurreição rumo a vida eterna.
As celebrações suntuosas, onde se instalam as divisões e nas quais alguns são privilegiados e outros humilhados esvaziam a força e o sentido deste amor que lava os nossos pés enquanto se prepara para lavar nossos pecados na cruz. Tais “celebrações repletas de ritos, mas vazias de amor por estão tomadas por ambição e egocentrismo, destroem a Unidade que a comunhão do Corpo de Cristo exige. Comungar o Senhor, seu Corpo e seu Sangue, significa comungar seu desejo de alimentar a vida plena da humanidade. Assim, compreendemos que para verdadeira experiência da Eucaristia, é necessário, que aqueles que comungam, ofertem a própria vida conforme o coração divino presente na Eucaristia. Não apenas receber a comunhão – não importando se foi recebida por meio da mão ou na boca – é necessário se tornar também comunhão. A Eucaristia é o princípio da comunhão na vida da Igreja e convoca a todos para a mesma missão em busca da unidade. O mundo com suas divisões ideológicas e culturais, não deve influenciar a caminhada da Igreja. Devemos acolher a todos, mas sem renunciarmos aos compromissos e exigências que a fidelidade ao Evangelho impõe.
Somos convidados a adorar o Senhor. Somos convidados a receber a Eucaristia e nos tornarmos também Eucaristia. Quando comungamos nos tornamos sacrários vivos, onde Cristo se faz realmente presente em nós na Hóstia consagrada. Na procissão que realizamos depois da comunhão levamos o ostensório onde apresentamos ao mundo nosso Salvador, no entanto não esqueçamos que na mesma procissão somos testemunhas vivas de sua presença pela Eucaristia que comungamos e pelo testemunho que damos através da vivência da fé cotidiana.
Hoje, quando o sacerdote depois de elevar sagrado Corpo e o sagrado Sangue e afirmar: “Eis o mistério da fé”, plenos de alegria afirmemos com fé e coração eucarístico: “Todas as vezes que comemos deste pão e bebemos deste cálice, anunciamos, Senhor a vossa morte, enquanto esperamos vossa vinda.” Que nós, em nossa vida e missão, tenhamos certeza de que a Igreja nasce e vive da Eucaristia e que a Eucaristia realiza em nós, ainda aqui na terra, a comunhão que viveremos no céu com Deus que é: Pai, Filho e Espírito Santo.
Pe. Paulo Sérgio Silva
Paróquia Nossa Senhora da Conceição – Farias Brito




