As irmãs Maria Iris Ribeiro e Aldemir Correia vivem sozinhas numa casa de corredor estreito, localizada à Rua Pedro II, no Centro do Crato. A única visita que recebem é da vizinha Raimunda Félix da Silva, professora aposentada, que tomou para si a doce obrigação de bater à porta das duas, diariamente, para saber se estão bem.

Há muito preocupada com a solidão das duas, suspira, como que aliviada, ao avistar o pároco da Catedral de Nossa Senhora da Penha, Padre Edimilson Neves, e a ministra extraórdinaria da Eucaristia, Celia Gomes, na manhã desta terça, dia 29.

O olhar ressabiado e o sorriso tímido com que as irmãs os recebem são justificados pela vida solitária numa cidade grande, barulhenta e apressada que rouba momentos significativos, entre eles, a convivência com outras pessoas. Mesmo assim, ainda acolhem, de bom grado, o sacramento da confissão, acompanham o hino à padroeira do Crato e se inclinam para receber a bênção.

Enquanto aguarda no banco de madeira, no corrdedor estreito da casa, a visinha diz que este é mesmo um momento de misericórdia. “É como se ela se aproximasse ainda mais de nós. As pessoas doentes não podem ir ao encontro de Deus, na Igreja, mas Deus vem até elas através dos ministros e, agora, também através do Padre”.

Na casa ao lado, está Dona Maria Gonçalves da Silva, de 97 anos. Diferente das outras, vive rodeada do cuidado das filhas. Não tem boa audição e a fala tropeça em algumas palavras, mas ainda consegue responder cada parte do Pai-Nosso, da Ave-Maria e até arrisca alguns trechos do bendito da “Mãe da Penha”, acompanhada do olhar brilhante de uma das filhas.

Outras sete visitas foram feitas aos enfermos residentes nas ruas que cortam o centro do Crato, cada um com a sua dor e o seu lamento. Assisti-los é parte da programação da Semana da Misericórdia, aberta no último domingo, dia 27, durante celebração eucarística da Páscoa, na Catedral de Nossa Senhora da Penha.

De acordo com o Padre Edimilson Neves, visitar algum doente é, também, uma oportunidade para refletir sobre a vida, além de ser uma das obras de misericórdia. Até a próxima sexta-feira, dia primeiro, manhãs e tardes serão reservadas ao cuidado espiritual daqueles que têm o corpo e a alma fatigados pelo tempo.