“Jesus, porém, passando pelo meio deles, continuou o seu caminho.”
A liturgia deste domingo, ao narrar os primeiros passos da missão de Jesus, o apresenta como profeta percorrendo o caminho de todos os profetas anteriores. Assim como aconteceu com os autênticos profetas do A.T. a sua missão é vislumbrada como estrada de sofrimento, rejeição, solidão e perigo, mas também via de justiça, paz e de esperança, porque se trata de um itinerário que conduz a Deus. A Palavra proclamada e meditada assegura aos discípulos de Jesus que mesmo diante da morte, a última palavra será sempre de Deus: “não tenhas medo […] porque Eu estou contigo para defender-te.”.
A primeira leitura apresenta Jeremias, profeta não por iniciativa própria, mas por vontade de Deus. O Senhor o escolheu, consagrou, constituiu e o enviou como sua voz ao mundo. O profeta é alguém que deve viver em comunhão com Deus e confrontando seu projeto divino com a realidade humana. Cabe a ele, mediante este confronto, intervir em nome de Deus, avisar, denunciar, aconselhar e corrigir. Aos olhos humanos, Jeremias não teve sucesso. Todos os rejeitaram: Foi perseguido pela sua família, os amigos, o povo de Jerusalém, as autoridades e os sacerdotes. No entanto, da perseguição e sofrimento colhidos como rejeição do seu anúncio, o profeta deve permanecer fiel e convicto da essência de sua missão.
A primeira impressão que temos ao ouvir a segunda leitura é que ela não se encaixa no tema refletido neste dia. Todavia, ao falar poeticamente do amor – essência da vida e missão cristã – ela nos ensina porque Jeremias, Daniel, Ezequiel e nem Jesus Cristo nunca desistiram de sua missão por mais árduas que fossem suas vidas. Compreendemos então que apenas e somente se nos deixarmos guiar pelo amor altruísta cujo ápice é a doação da própria vida, a nossa missão terá e permanecerá tendo sentido.
No Evangelho, continuando os fatos narrados anteriormente, Lucas apresenta a atitude dos ouvintes de Jesus na sinagoga de Nazaré, após a proclamação do texto de Isaías e a sua afirmação de que essas profecias estão se cumprindo na sua pessoa. Ante a realidade deprimente e sofredora que viviam, muitos dos seus contemporâneos, esperavam um messias triunfante, que devolveria a soberania a seu povo. Alguns ficam maravilhados com o seu anúncio, enquanto outros ficaram desapontados. Diante dos seus anseios egoístas, Jesus continua seu “caminho”. A atitude de Jesus revela que ele não veio para atender as expectativas distorcidas que o mal e pecado geram no coração humano. Assim como aconteceu no seu tempo, muitos cristãos hoje estão mais interessados em presenciar um espetáculo de luzes, trovões e sentimentalismo do que em ouvir um ensinamento que os conduza a Deus. O “Não” recebido dos habitantes de Nazaré é o “não” da humanidade que não quer cumprir os desígnios divinos, mas deseja fazer de Deus um ídolo sempre pronto a atender seu egocentrismo como um solícito comerciante.
Ser profeta é ser continuador das palavras, sentimentos e atitudes de Jesus no tempo e no caminho de nossa própria história. Nossas atitudes cotidianas expressam isto? A rejeição, o comodismo, o mundanismo espiritual, a solidão ou alguma outra coisa estão nos impedindo de cumprir a missão que o nosso Deus nos confiou? A missão de Cristo se manifesta de diversos modos diante de nós: na sua Palavra; na Missa sob as espécies do pão e do vinho; na pessoa do sacerdote, na comunidade reunida celebrando, nos irmãos pobres e desamparados, etc. Estamos vivenciando e testemunhando isto enquanto Igreja?
O Papa Francisco, com palavras e obras, tem nos recordado que pelo batismo, participamos da missão profética de Jesus. Que o Senhor nos conceda a graça de profetizar e da fidelidade a missão profética. Assim estaremos atentos à mensagem dos profetas em nosso caminho, enquanto caminhamos pressurosos em direção ao Reino dos Céus.
Encerremos com a Oração pelo Sínodo: Aqui estamos, diante de Vós, Espírito Santo: estamos todos reunidos no vosso nome. Vinde a nós, assisti-nos, descei aos nossos corações. Ensinai-nos o que devemos fazer, mostrai-nos o caminho a seguir, todos juntos. Não permitais que a justiça não seja lesada por nós pecadores, que a ignorância nos desvie do caminho, nem as simpatias humanas nos torne parciais, para que sejamos um em Vós e nunca nos separemos da verdade. Nós Vo-lo pedimos a Vós que, sempre e em toda a parte, agis em comunhão com o Pai e o Filho pelos séculos dos séculos. Amém.
Pe. Paulo Sérgio Silva
Paróquia Nossa Senhora da Conceição – Farias Brito.




