Homilia do 28º Domingo do Tempo Comum – ANO A
Amados irmãos e amadas irmãs!
Depois de três semanas nos apresentando parábolas que manifestam o Reino de Deus como uma realidade que nasce do convite de Deus e da resposta do ser humano, a liturgia deste domingo usa a imagem do “banquete” para retratar esse mundo de felicidade, de amor e de alegria sem fim que Deus oferece a todos os seus filhos e filhas.
Na Primeira Leitura, o profeta Isaías, em mais um de seus poemas, anuncia o “banquete” que Deus, um dia, na sua própria casa, vai oferecer a toda a humanidade. Para acolher esse convite e participar desse banquete, faz-se necessário aceitar viver em comunhão com o pensar e com o agir de d’Ele.
Dessa comunhão, surgirá para a humanidade a felicidade total, a vida em abundância. A bíblia usa amplamente a imagem do “banquete”. No contexto bíblico, o “banquete” é o momento, por excelência, da partilha, da comunhão, da formação de uma comunidade e da instituição de laços familiares entre os convidados. Possui uma dimensão inegavelmente religiosa, pois celebra a comunhão do povo com Deus e marca a criação de laços familiares entre Deus e os fiéis. As expressões usadas pelo profeta (ricas iguarias, vinho puro, pratos deliciosos, etc.) indicam a abundância de vida – plena e feliz – com que Deus vai agraciar os seus convidados. O profeta anuncia o que chamamos de “Tempos Messiânicos”. É o anúncio do início da nova era de paz e de felicidade sem fim, dizendo que “Deus vai eliminar para sempre a morte”, que enxugará “as lágrimas de todas as faces” e exterminará a desonra do pecado em toda a terra.
No Evangelho, continuamos em Jerusalém nos dias que antecedem a Morte e a Ressurreição de Jesus. Os líderes religiosos aumentam as ofensas e perseguição contra Jesus. Permanecem nas suas certezas e seguranças e decidem que a proposta de Jesus não vem de Deus, por isso rejeitam o Reino que Ele anuncia. O Mestre, então, conta-lhes outra parábola.
A imagem do banquete, usada tanto pelo profeta Isaías como pelo próprio Cristo, recorda-nos que Deus tem um projeto de vida e quer oferecê-lo a todos os seres humanos, sem exceção e sem exclusão. O Evangelho sugere-nos que é preciso estar atentos e não deixar o convite de Deus passar por nós sem uma resposta. Os interesses e as conquistas mundanas não devem nos distrair. A opção que fizemos no dia do nosso batismo não pode ser palavra momentânea, mas expressão de um compromisso sério, que deve ser vivido de forma coerente. Afinal, o Apóstolo Paulo nos exorta a “não receber a graça de Deus em vão.” (cf: II Coríntios 6, 1-2).
A parábola manifesta uma situação gravíssima. Recusar o convite era uma ofensa direta a honra de quem promove o banquete. Todavia, é apresentado um agravante: os convidados indignos não apenas desprezam o rei, como também matam os seus servos. O Rei, então, convida todos que são encontrados nas estradas. O sentido da parábola é claro: Deus é o rei que convidou Israel para o banquete do encontro, que manifesta a chegada dos tempos messiânicos. Os sacerdotes, os escribas, os doutores da Lei recusaram o convite e preferiram ficar com seus esquemas de autossalvação e seus preconceitos que levam a exclusão. Então, Deus convidou para a festa do Messias os pecadores que, na perspectiva dos líderes religiosos, estavam afastados e excluídos da comunhão com Deus e com o Reino.
A segunda parte da parábola mostra a situação de um convidado que foi encontrado dentro do banquete sem usar a roupa adequada. O convidado é expulso. Mas por que o Rei age assim, uma vez que convidou a todos? Essa parte da parábola constitui uma advertência e um aviso àqueles que aceitaram o convite de Deus para a festa do Reino, acolheram e decidiram pela proposta de Jesus e receberam o Batismo. O Evangelista Mateus lembra aos cristãos do século I – e a nós também – que a roupa é a prática dos ensinamentos de Jesus Cristo. Quem foi batizado e respondeu ao convite do “banquete” do Reino, mas se recusa a vestir o traje do amor, da partilha, do serviço, da misericórdia, do dom da vida e continua vestindo egoísmo, arrogância, orgulho, injustiça e corrupção não pode participar da festa da comunhão com Deus, que chamou todos os homens e todas as mulheres para participarem do “banquete”. No entanto, serão admitidos e só permanecerão aqueles que responderem ao convite e mudarem completamente a sua vida.
Como exemplo disso, temos a Segunda Leitura na qual São Paulo escreve aos filipenses pela prática da caridade expressa na ajuda que eles enviaram ao próprio apóstolo e às comunidades mais pobres. Com esse gesto concreto, a comunidade cristã de “Filipos” manifesta que é uma comunidade generosa e solidária com a vivência do amor e empenhada em testemunhar o Evangelho diante de todos os homens.
Jesus falou certa vez que “a quem muito é dado, muito será cobrado” (Lc. 12,48). A nós cristãos foi dada a plenitude da Graça. Portanto, a responsabilidade nossa é maior. Como convidados que acolheram o convite para o banquete, devemos oferecer o melhor testemunho e vivência da fé possíveis. Não pensemos que, por termos respondido “sim” por meio do Batismo, podemos viver fora dos ensinamentos do Evangelho como se o batismo fosse uma garantia de que nossos pecados ou nossos erros não terão consequência na vida agora ou no nosso futuro. À humanidade, basta aceitar o convite de Deus para ter acesso a essa festa de vida eterna. Aceitá-lo significa renunciar ao egoísmo, ao orgulho e conduzir a vida em harmonia com os valores de Deus. Implica dar prioridade ao amor, testemunhando os valores do Reino que Jesus ensinou e viveu. Implica construir, já aqui, “novos céus e uma nova terra, nos quais habitará a justiça” (cf: 2 Pedro 3,13). Uma nova terra de justiça, de solidariedade, de partilha, de amor.
No dia do nosso Batismo, aceitamos o convite de Deus e comprometemo-nos com Ele. Essa decisão não pode ser incoerente, inconstante e volúvel. Deve ser permanente e manifestada diariamente em nossos pensamentos, palavras, atos e ações.
Encerremos aqui com o Salmo: “Felicidade e todo bem hão de seguir-me por toda a minha vida. E na casa do Senhor habitarei pelos tempos infinitos”. Amém.

Padre Paulo Sérgio Silva
Paróquia São Sebastião – Mangabeira, distrito de Lavras – CE





