“… pois sua boca fala do que o coração está cheio.”
A liturgia deste domingo, continuando a estrada percorrida ao longo dos domingos antecedentes, permanece nos colocando diante de Jesus Cristo no período de formação catequética-missionária com seus discípulos. Os discípulos de todas as épocas são convidados a viver na atitude de transparência e sinceridade em todo o seu modo de ser e de agir. É preciso ter em mente que na esfera civil será celebrado o período de Carnaval. E que, portanto, daqui a três dias iniciaremos um período de mudança de vida, de vigilância e de conversão com a vivência da Quaresma. À luz da Palavra devemos nos perguntar então: o que preenche nosso coração? Aquilo que nossa boca testemunha é a Verdade de Jesus? ou são os nossos interesses egoístas?
Na primeira leitura, o Livro do Eclesiástico, através de alegorias, nos oferece um conselho muito prático, sensato e útil que nos lembra os ensinamentos do evangelho da semana passada: não julgar alguém apenas pela primeira impressão. Utilizando-se de várias imagens (da peneira que revela as impurezas do trigo; do forno, que testa a qualidade da argila do vaso e a do fruto que revela a qualidade da árvore) o autor sagrado nos ensina que o tempo de convívio e a escuta das palavras revelam a verdade ou a mentira que há no íntimo de cada coração.
Na segunda leitura, a princípio podemos pensar que a conclusão da catequese do Apóstolo Paulo sobre a Ressurreição não possui ligação com o tema da liturgia deste domingo. Todavia, ao percebermos que a ressurreição é a verdade suprema do amor de Deus pela humanidade, podemos então concluir que viver e testemunhar com verdade, sinceridade e coerência o seguimento a Jesus é o meio para que essa vida plena que Deus nos reserva seja conhecida por toda a humanidade. A mentira e a falsidade conduzem a morte. A verdade conduz a vida plena. Em um mundo cada vez mais perdido na prática da mentira e notícias falsas, a audaciosa atitude de anunciar Cristo ressuscitado, por meio de uma vida cristã coerente, revigora nossa fé e nos ajuda a construir comunidades novas, que caminham na esperança da vida eterna.
As palavras que ouvimos no Evangelho de hoje provavelmente fazem parte dos ensinamentos realizados como apelo a conversão dos fariseus e dos próprios discípulos de Jesus. Os fariseus estudavam cuidadosamente as leis e observavam seus mínimos detalhes. Apesar disto não entendiam que o propósito da lei era a salvação em Deus. A eles faltava o conhecimento do amor e da misericórdia divina que originou a Lei. A cegueira afirmada por Jesus é aquela de quem ainda não descobriu suas próprias sombras e defeitos porque está focado demais em apontar os erros alheios.
Vivemos em uma sociedade atual onde milhares de pessoas nas redes sociais se apresentam como “guias” (influencers digitais, coachs, escritores de autoajuda) que muitas vezes só estão interessados em enriquecer materialmente. A luz das leituras, o Evangelho indica os preceitos para discernir o verdadeiro do falso: o verdadeiro “mestre” é aquele apresenta a proposta de Jesus, com o seu testemunho de comunhão, união, fraternidade e diálogo. O falso “mestre” manifesta intolerância, hipocrisia, autoritarismo divisões e conflitos.
Jesus utiliza-se de palavras duras e que causam impacto. Hipócrita!! São aqueles que estão sempre apontando falha dos outros para condenar, mas se negam a ver os seus próprios erros e falhas. Hipócrita é aquele que fala mal dos outros sem se perguntar se aquilo que detesta dos outros (vaidade, egoísmo, avareza, frieza, falsidade, violência) não está dentro do seu próprio coração.
O verdadeiro discípulo de Jesus é aquele que dá bons fruto não apenas em palavras, mas também em obras de misericórdia. Para isto, se faz necessário um caminhar íntimo ao coração de Jesus que é manso e humilde, afim de que sua graça nos ajude a abrir o nosso coração ao bem e a caridade, para que a nossa vida interior não se converta em uma árvore seca e de frutos amargos. Que a sabedoria do Filho de Deus nos ensine a tirar a trave que carregamos em nossos olhos, a fim de termos condições de ajudar os nossos irmãos e irmãs a tirarem o cisco de seus olhos.
Pe. Paulo Sérgio Silva
Paróquia Nossa Senhora da Conceição – Farias Brito.




