“Avança para as águas mais profundas, e lançais vossas redes para a pesca.”
A liturgia deste domingo nos convida acompanhar Jesus à medida que ele vai adentrando na história humana e convidando a humanidade a ter a coragem de avançar para as águas mais profundas do plano da salvação. Enquanto percorre o caminho da missão, Ele nos chama a ser colaboradores e refletir sobre a nossa vocação cristã tendo como modelo as vocações do profeta Isaías e dos apóstolos Pedro e Paulo. Os três ao discernirem o chamado de Deus sentem-se indignos de tão importante missão. Assim como eles, também nós nos sentimos desafiados e incapazes, todavia é preciso lembrar que Deus tem seus próprios critérios para chamar aqueles que escolheu para construir a barca da Igreja e permanecer lançando as redes da evangelização.
Na primeira leitura, encontramos a narração da vocação do profeta Isaías. Enquanto realiza um ato de adoração no Templo, Isaías se vê arrebatado e experimenta a presença onipotente de Deus inacessível. Em sua humildade, ele sente-se indigno e impuro. Deus o purifica. E apesar do medo inicial, Isaías prontamente se oferece a Deus como instrumento. Responder a Deus significa deixar-se moldar por Ele em um caminho de purificação. E ao oferece-se mesmo sem saber ainda qual a missão que lhe vai ser confiada, o profeta manifesta a sua disponibilidade absoluta para o serviço de Deus. Assim compreendemos que cada um de nós, como batizados, temos uma vocação e que de muitas formas Deus entrou, entra ou entrará na nossa vida. E ao nos chamar para a missão, espera de nós disponibilidade e coragem para segui-lo.
Na segunda leitura o apóstolo Paulo ao refletir sobre a ressurreição nos revela a essência da vocação de todo discípulo: anunciar ao mundo o mistério do amor de Deus manifestado na vida e na ressurreição do seu Filho, Jesus Cristo. Ao descrever um esboço de uma profissão de fé, ele recorda que o Senhor ressuscitado se manifestou aos apóstolos e a muitos outros discípulos. Não se trata apenas de um fato histórico que ultrapassa a compreensão da razão, mas de um encontro com uma pessoa que mudou radicalmente a vida de todos que fizeram esta experiência. Através do encontro com o Senhor ressuscitado no caminho de Damasco, Saulo se deixou alcançar pela Graça de Deus e se tornou Paulo, o maior anunciador do Evangelho de todos os tempo.
No Evangelho, Lucas narra o crescimento da missão de Jesus. Se anteriormente Jesus realizava suas ações sozinho, agora junta-se a Ele, Pedro e seus companheiros pescadores. São muitos os elementos narrados por Lucas: a terra, o lago/mar, o céu aberto, a multidão faminta da Palavra de Deus, as pessoas nomeadas, a pregação, o trabalho infrutífero, o fracasso, a presença do Filho de Deus na barca e na vida de um homem pecador, a escuta, a confiança, a obediência, a pesca abundante, o medo, a admiração, o tempo presente que anuncia já o tempo futuro e a decisão de deixar tudo que muda suas vidas.
Neste quadro narrativo, reconhecemos o caminho que os cristãos são chamados a percorrer. Compreendemos que para nos tornarmos instrumentos frutuosos nas mãos de Deus, uma condição se faz necessária: abertura para permanecer na escuta e na obediência para seguir com generosidade e disponibilidade, a Palavra do Senhor. Assim como aconteceu com Pedro que levanta uma objeção inicial diante do pedido para lançar as redes depois de uma noite de pesca infrutífera, muitas vezes acontecerá que a Palavra não esteja conforme os nossos planos e vontades. Permaneceremos errados e enganados se decidirmos agir baseados apenas nos nossos conhecimentos! É justo e necessário antes de tudo obedecer à Palavra de Deus.
Nas águas profundas do mar da nossa vida e da missão da Igreja encontramos muitos desafios: guerras, violências, imoralidades, perseguição, mentiras anunciadas como verdade, divulgação de falsas doutrinas, fome, indiferenças ante o sofrimento, etc. Perante tais ameaças, não podemos desistir, ficar indiferentes ou acomodados. Fomos chamados a ser “pescadores de homens”, temos por missão combater o mal, a injustiça, o egoísmo, a miséria, isto é, tudo o que impede a humanidade de viver com dignidade, paz e felicidade.
Rezemos para que em cada missa, nós nos alimentemos com a Eucaristia, com a oração e com a Palavra de Deus que a Santa Igreja proclama, para que como comunidade cristã nos sintamos convidados a realizar uma intensa experiência de Deus e permaneçamos colaborando na missão salvadora e libertadora de Jesus Cristo.
Pe. Paulo Sérgio Silva
Paróquia Nossa Senhora da Conceição – Farias Brito.




