“Mas tínhamos de fazer uma festa e alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi reencontrado”
Nesta quarta parada de nossa peregrinação em direção a Jerusalém somos chamados a viver o “Domingo Laetere” (Domingo da Alegria). Esta pausa para viver a alegria em meio a observância quaresmal, convida-nos a descobrir o Deus misericordioso que se empenha em reconduzir-nos a uma vida de comunhão com Ele. Sua Palavra o apresenta com a imagem de um Pai que ama com amor eterno e infinito e que por isto está sempre pacientemente à nossa espera, pronto para nos acolher no calor de um abraço quando decidimos retornar a sua vida. Ao contrário do que podemos pensar, a quaresma não possui como característica a tristeza, o sofrimento e a penúria como mera recordação do pecado, pois se trata de uma preparação para celebrar a ação de Deus em favor do ser humano.
Na primeira leitura (Js. 5,9a.10-12), no início do Livro de Josué, contemplamos os primeiros momentos do povo de Israel ao entrar na Terra Prometida. Enquanto realiza o Rito da Circuncisão, o povo entende que são chamados a uma conversão comunitária, sinal de um princípio de vida nova na terra que lhes trará felicidade, liberdade, paz e comunhão com Deus. O tema central aqui é a Vida Nova que se inicia para o Povo de Deus. Este recomeço para o povo eleito é marcado pela celebração da Pascoa em uma terra onde serão livres da escravidão. Todavia, para que esta condição seja perene será sempre necessário permanecer na fidelidade a Aliança feita com Deus. Sendo assim, somos convidados, a uma experiência semelhante. É preciso rejeitar a sedutora da escravidão do pecado e caminhar em direção à vida nova, de liberdade e de paz oferecida pelo Reino de Deus que é o centro e a essência da missão de Jesus Cristo.
Na segunda leitura (2Cor. 5, 17-21), o Apóstolo Paulo, olhando para além da entrada na Terra Prometida, recorda que o grande dom de Deus se realiza não em um lugar, mas em uma pessoa: Jesus Cristo. Ao se deixar abraçar pela redenção em Cristo, a humanidade não entra em uma nova terra, mas em nova condição: a filiação divina. Adentramos na comunhão com ele por seu amor e perdão. Não se trata de um lugar, mas de uma experiência de fé. Acolhendo a oferta de amor que Deus nos faz através do seu Filho Jesus seremos transformados/transfigurados em criaturas novas porque seremos definitivamente reconciliados com Deus e com os irmãos e irmãs.
Todo o capítulo 15 do evangelho segundo Lucas (Lc. 15, 1-3.11-32) é na verdade uma catequese dedicada ao ensinamento sobre a misericórdia. A motivação da parábola anunciado é oferecer uma resposta meditativa aos fariseus que se escandalizavam com a atitude acolhedora de Jesus em relação aos pecadores públicos. Em respostas a estas críticas, Lucas apresenta uma catequese sobre a bondade e o amor de um Deus que quer estender a mão a todos sem excluir e marginalizar ninguém. Nesta parábola compreendemos que o amor de Deus é constituído de Misericórdia e não e que, portanto, não segue os ditames da justiça humana baseada na lógica racional.
Embora a parábola seja denominada como “o filho pródigo”, o personagem central é o Pai. Este que ama de forma gratuita, com um amor fiel e eterno e respeita as decisões e escolhas dos filhos mesmo quando são fruto de erros, irresponsabilidade e da rebeldia. Um amor que permanece fiel e inalterado apesar da rejeição do filho mais novo e da amargura do filho mais velho. Este amor e sua amplitude são simbolizados na paciência para com o rancoroso filho mais velho, na acolhida festiva ao retorno do filho mais novo, no anel que representa autoridade e na sandália que representa o homem livre. A alegria que permeia a liturgia de hoje não é, portanto, a do filho que retorna, mas na verdade a alegria do pai que reencontra seu filho vivo e salvo.
A parábola do “pai bondoso e misericordioso” é a imagem de Deus que respeita nossas decisões e nossa liberdade mesmo quando a usamos para buscar a felicidade onde só há desolação, penúria e morte. É o Deus que nos ama infinita e incansavelmente e espera nosso regresso. É este amor que promove o reencontro, a acolhida e a reintegração a sua família divina.
A parábola nos faz um convite para nos revestirmos de cada personagem, mas sobretudo, olhar a todos através do olhar do Pai. Agimos muitas vezes como o filho mais novo, ingrato, insolente, teimoso, egoísta, orgulhoso e autossuficiente ou como o filho mais velho, rancoroso, amargurado e incapaz de compaixão. Enquanto caminhamos “neste vale de lágrimas” devemos buscar ao menos agir como o empregado que convida o irmão mais velho para se aproximar da festa e se alegrar. Então, no anoitecer de nossa vida, talvez já maduros espiritualmente e com a “estatura do Cristo” (Ef. 4,13), contemplaremos o mundo com o olhar misericordioso do Pai.
Pe. Paulo Sérgio Silva
Paróquia Nossa Senhora da Conceição – Farias Brito.





