2º Domingo do Advento (Ano A): Preparai o caminho do Senhor, endireitai os vossos corações!

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Convertei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo” (Mt. 3,1-12)

Como acolher a presença de Deus em nossa vida? De que modo podemos nos preparar para tão importante visita? Apresentando o último dos profetas, João Batista, a liturgia deste domingo deseja nos ajudar a responder esta pergunta uma vez que traz um inegável apelo ao reencontro do homem com Deus e à conversão. É, pois, tempo de nos despir dos valores mundanos, passageiros e individualistas que muitas vezes tomam conta do nosso coração e realizar uma mudança em nossa mentalidade para que os valores fundamentais que alicerçam e guiam a nossa vida sejam os valores do “Reino”. Deus está sempre disposto a oferecer aos seres humanos um mundo novo de justiça e de paz, no entanto esse mundo apenas se tornará uma realidade concreta quando o homem aceitar reestruturar o seu coração, conduzindo-o por meio dos valores divinos.

Para nos ajudar a compreender a missão de João Batista, a primeira leitura (Is. 11,1-10) nos fala do profeta Isaías que na época do Exílio garante ao povo escravizado que Deus é fiel a sua Aliança e que deseja reconduzir o Povo de volta à terra da liberdade e da paz. O profeta Isaías apresenta um servo enviado de Deus, da descendência do Rei Davi, sobre quem repousa a plenitude do Espírito de Deus com todos os seus dons. Este oráculo reforça o anúncio feito no domingo anterior e revela que a missão deste “rebento” será construir um reino de justiça e de paz sem fim. Se no oráculo anterior (Is.2,1-5) a transformação das armas (instrumentos de morte) em ferramentas de trabalho (instrumentos da vida) anunciava o advento de um mundo de paz universal entre a humanidade, este novo oráculo revela que a vinda do Messias iniciará uma transformação que atingirá também o relacionamento do ser humano com a natureza, por isto surgem as imagens dos animais convivendo harmonicamente entre si e com os humanos. As divisões, os conflitos e mortes cessarão. Ao Povo Eleito, como modelo para todas as nações, todavia, é pedido que abandone o seu orgulho, desobediência, egoísmo e autossuficiência e aceite ser renovado e transformados pelos desígnios de Deus.

Na segunda leitura (Rm.15,4-9) apontando para a segunda vinda de Jesus (que a teologia chama de a Parusia) Paulo, através do seu escrito aos Romanos, nos convida a manter a atitude de vigilância, vivendo cotidianamente os ensinamentos de Jesus, transformando o mundo e construindo o Reino. O Apóstolo reforça o convite feito pelo oráculo de Isaías (primeira leitura). Tendo a Palavra de Deus na centralidade e o Filho Unigênito como modelo de humanidade, Paulo exorta-nos a viver em concórdia, solidariedade e harmonia em nossas comunidades. Uma vez batizados e tendo recebido os valores do Reino através do anúncio do Evangelho, os cristãos se tornam o rosto visível de Cristo no meio da humanidade. Assim sendo, devemos dar testemunho de fraternidade, unidade, amor, partilha e convivência pacífica. Este tempo nos recorda que vivemos a esperança de um futuro que deve ser conquistado já aqui nesta terra, por meio da prática da fé e com amor, que são dons de Deus ofertado a humanidade.

No Evangelho (Mt.3,1-12) nos é proposto a meditação de versículos do terceiro capítulo da obra de São Mateus. Nele, o evangelista Mateus introduz os motivos fundamentais do seu Evangelho. Trata-se, de apresentar uma “Boa Notícia” (“Evangelho”) aos cristãos perseguidos e com dúvidas na fé. Qual é essa “Boa Notícia” que revigorará a fé dos cristãos? É a certeza de que Jesus é o Emanuel (“o Deus-conosco”), o Messias que se encarnou na história para nos ensinar o caminho da justiça. Por meio destes dois títulos conferidos a Jesus Cristo, Mateus revela a Missão e a Identidade de Jesus.

Mateus inicia seu Evangelho centralizando a reflexão em João Batista, o colocando como modelo de discípulo para todos os cristãos. A missão profética de João Batista, a sua pregação enérgica e incisiva, a reação provocada nos ouvintes, o seu modo de viver e o mais importante, o seu testemunho sobre o Cristo, tudo isto retira nosso olhar de João e nos conduz a Jesus, pois toda a vida dele foi voltada para preparar-se para o encontro com o Messias. João Batista convida o povo de Israel e também toda a humanidade a acolher o salvador, pois compreende que a missão do Redentor será oferecer a todos os seres humanos, o Espírito de Deus que gera vida nova alimentada pela vivência do amor, liberdade e da justiça. No entanto, só receberá esta vida nova quem se atrever a percorrer o audacioso caminho da conversão que realiza a verdadeira mudança de vida e de mentalidade.

A figura do Precursor desperta em nós muitas indagações. Afinal, qual é a missão de João? É ser a “voz que grita no deserto” conduzindo aqueles que querem saciar sua sede de salvação no oceano da misericórdia e justiça divinas. É ser o “mensageiro” que prepara o caminho para o “Messias”, o “Filho de Deus”. Qual o conteúdo de sua pregação? Reconduzir o povo de Israel a justiça e santidade desejadas por Deus e essenciais para acolher o Messias. Esta santidade se realizará através de um caminho de purificação e de conversão. Por que ele batiza? Por que a humanidade precisa se lavar/purificar das injustiças das quais encontra-se “encardida”. Assim entendemos que o “batismo de penitência” anunciado por João Batista, não é ainda o “Sacramento” cristão, mas é um “batismo de conversão”. Este rito purificatório representa um convite à mudança radical de vida, de comportamento, de mentalidade. Quais são os vales e montanhas que precisam de ser nivelados, os caminhos que precisam de ser endireitados para que Deus venha ao nosso encontro? Para os Padres da Igreja, o convite para nivelar os vales e rebaixar as montanhas, se refere, na verdade, ao apelo que João Batista também irá fazer para que o ser humano se afaste e abandone tudo o que impede de viver verdadeiramente a vontade de Deus.

Por que a pregação de João é feita no deserto se na cidade é onde se encontra o povo? Sendo o “deserto” o lugar onde o Povo de Deus encontrou o seu Povo, logo é o lugar da purificação e da conversão por excelência. Sendo assim, a vinda do Messias é um novo êxodo. O deserto é extremo contrário do Jardim do Éden; é lugar de escassez e míngua. É o lugar propício para reconhecer Deus como único bem. Foi no deserto que os israelitas abandonaram a mentalidade de escravos e acolheram a vida de pessoas livres. Foi no deserto que eles deixaram a vivência de egoísmo e encontraram sua identidade de Povo Eleito, vivendo a partilha e solidariedade. A pregação de João lembra aos israelitas (e a nós também) a necessidade de voltar ao “deserto” para ser novamente encontrado e liberto por Deus. No entanto, no modo incisivo e duro pelo qual realiza sua missão, a proposta que João faz demonstra que não é mais um mero e repetitivo convite à conversão, mas sim o último e definitivo apelo de Deus ao seu Povo. Afinal não se trata de mais um juiz, sacerdote, profeta ou rei que exorta o povo a mudar e se converter. É o próprio Deus que vem em direção a humanidade, se tornando um de nós pela Encarnação do seu Filho Unigênito.

O que é que dificulta percorrer o caminho que Deus nos propõe? O que nos impede de nascer para uma vida nova? Os bens materiais? A posição social? O comodismo? O medo? O pecado? A frieza espiritual? O desânimo? O Advento é o tempo favorável para limparmos nossos corações, de tal modo que este Deus que nasceu por nós para redimir e libertar o mundo, permaneça realizando esta salvação através de nossa vida e nosso testemunho.

Encerremos com esta exortação do profeta Isaías: “Buscai ao SENHOR enquanto se pode encontrá-lo, invocai-o, enquanto está perto. Que o malvado abandone o seu mau caminho, que o homem perverso mude seus pensamentos e se converta; cada um se volte para o SENHOR, que vai ter compaixão; retorne para o nosso Deus, que é grandioso é em perdoar”. (Isaías 55, 6-7)

Pe. Paulo Sérgio Silva.

Paróquia Nossa Senhora da Conceição – Farias Brito.

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