29º Domingo do Tempo Comum: Rezar com escuta, perseverar no amor

Compartilhe:

O Filho do Homem, quando vier, será que ainda vai encontrar fé sobre a terra?” (Lc.18, 8)

Continuamos acompanhando Jesus no caminho para Jerusalém ao mesmo tempo em que somos formados pelassuas palavras para viver os valores do Reino de Deus como discípulos missionários. Se no domingo anterior o Senhor nos ensinou a importância da gratidão, nesta semana, ele nos convida a estreitar os laços com Deus através da oração permanente, confiante e insistente. A oração é um diálogo entre duas pessoas que se amam, já dizia Santa Tereza D’Ávila.  Quando lemos sua Palavra, Deus nos fala, quando rezamos somos nós que falamos a Ele. Somente com esta prática dialogal amadurecemos a fé para conhecer os planos divinos, aceitar os seus momentosde silêncio e permanecer acreditando em seu amor.

Na primeira leitura (Ex 17,8-13) somos apresentados a um dos acontecimentos vividos pelo povo de Israel em meio a travessia do deserto em busca da Terra Prometida. Estes acontecimentos foram moldando a fé israelita à medida que eles perceberam a permanente providência de Deus os auxiliando. Os amalecitas que atacam Israel simbolizam os perigos da travessia em busca da terra. Enquanto Josué e o exército combatem os inimigos, Moisés e os sacerdotes sobem ao monte para rezar. Se Moisés ergue as mãos e reza, Israel começa a vencer; mas se Moisés se cansa e baixa as mãos, o inimigo começa a triunfar. Os sacerdotes então servem como sustentáculos para que Moisés permaneça em oração até o fim da batalha. Com a narração deste fato, o autor do livro deseja ensinar ou recordar ao povo de Israel que todas as vitórias são resultado da presença de Deus. A sua libertação do Egito, sua segurança na travessia do deserto, suas vitórias sobre os inimigos, etc. tudo isto não é resultado de esforço humano, mas sinal da ação divina. O povo eleito deve continuar reconhecendo a importância da fé e da confiança em Deus e permanecer dialogando com Ele na oração.

Na segunda leitura (2Tm 3,14-4,2), continuamos acompanhando as exortações fraternas e pastorais que São Paulo dirige ao seu amigo Timóteo. Suas exortações são necessárias e oportunas para nós que vivemos marcados pelo pensamento moderno que clama para si o direito de anular a Verdade com seu característico individualismo e subjetivismo. O Apóstolo lembra a seu amigo que ele se tornou um sucessor legítimo dos Apóstolos e que por isto deve permanecer fiel à verdadeira doutrina aprendida na infância com sua família e depois com a Tradição e a Escritura. A recomendação de Paulo significa que a nossa fé deve ser entendida à luz das Escrituras. Ele lembra ainda que sendo a Palavra a fonte para educar os cristãos, os discípulos devem usá-la para ensinar, persuadir, corrigir e formar a luz da justiça divina. E para terminar, Timóteo, como responsável pela comunidade, deve proclamar a Palavra mesmo quando a comunidade não quiser ouvi-la epor isto ele deve desenvolver uma necessária pedagogia pastoral unindo a doutrina com a paciência. Estamos também permanecendo fiel a Tradição que recebemos dos Apóstolos? Ou seguimos falsos salvadores que apenas despertam fanatismos e violência?

O Evangelho (Lc 18,1-8) nos apresenta mais uma parábola pedagógica com a qual Jesus ensina os valores do Reino de Deus e busca levar os discípulos a maturidade da fé. A história traz elementos comuns para o povo da época de Jesus e também do nosso tempo. Uma viúva injustiçada e um juiz presunçoso que se achava acima do bem do mal a ponto de não temer a Deus nem se importar com as pessoas. Apesar da arrogância do juiz, a viúva insiste de tal modo na busca pela justiça que ele acaba se deixando vencer, não pelo desejo de retidão, mas por causa dos constantes aborrecimentos.

O que Jesus deseja nos ensinar? Será que Ele está comparando Deus Pai com este juiz frio, injusto e indiferente ao sofrimento alheio? De modo algum! A parábola convida aos ouvintes a perceber que Deus não fica insensível diante do sofrimento da humanidade ou se ausenta de nossa vida. É como se Jesus nos dissesse: se até um juiz egocêntrico, faz justiça diante da insistência de uma pobre viúva, quanto mais o Pai do céu saberá fazer justiça aos que lhe pedem alguma coisa. Os discípulosdevem então descobrir a profundidade do amor de Deus e quais os caminhos que cada um é chamado a percorrer em seu plano de salvífico. E esta descoberta somente pode ser contemplada através da oração, em um diálogo contínuo, confiante e perseverante com Deus.

Na época que Lucas escreveu o seu evangelho havia uma constante preocupação sobre a demora para o retorno de Jesus (parusia). Depois de sua ascensão, muitas comunidades fizeram desta espera o centro de sua vida eclesial. Com a lentidão do retorno de Cristo, muitas pessoas desistiam da fé. Por isto, a pergunta que Jesus faz no final a respeito da fé no fim dos tempos. Se paramos para ouvir sua Palavra e até ouvir o seu silêncio, compreenderemos que Deus age no seu tempo e conforme seus desígnios, cabe a nós perseverar na vivência do Evangelho e aceitar com docilidade a liberdade divina.

Não esqueçamos. Esta é uma parábola sobre a necessidade de rezar. A oração como diálogo, onde mesmo no silêncio, ouvimos mais do que falamos. A oração não é uma fórmula mágica e automática para fazer Deus obedecer a nossos desejos imediatos ou vontades e caprichos. Mais do que ditar fatos e cobranças, a oração deve ser escuta para compreensão do projeto de Deus e também do seu misterioso agir que enquanto realiza este projeto vai ao mesmo tempo transformando ou moldando nossos corações com a sua Graça. É por meio destediálogo que insistimos em nos entregar confiantemente em suas mãos e não desistimos de alcançar a plena comunhão com seu amor.

Pe. Paulo Sérgio Silva

Paróquia Nossa Senhora da Conceição

Posts Relacionados

Facebook

Instagram

Últimos Posts