26° Domingo do Tempo Comum: celebrar o que vivemos e viver o que celebramos

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Amados irmãs e amadas irmãs!

Neste domingo, continuamos com a temática das Parábolas do Reino. Se na semana passada fomos apresentados à decisão compassiva de Deus que, em sua infinita misericórdia, a todos convida para trabalhar no seu Reino de paz e amor, hoje a parábola fala da decisão de cada ser humano a este convite, diante do qual podemos assumir dois caminhos: dizer “sim” e colaborar, de modo autêntico e verdadeiro, ou escolher caminhos de egoísmo, de indiferença, de falsidade e recusar o compromisso que nos é pedido.

A Palavra de Deus, neste sentido, exorta-nos a comprometimento sério e coerente, que requer um esforço leal na construção de um mundo novo, de justiça, de fraternidade e de paz. O Evangelho situa-nos em Jerusalém, já perto do final da missão de Jesus, que foi recebido com louvores pela multidão (Mt. 21,1-11). Mas esse entusiasmo aos poucos foi substituído por uma recusa ou insatisfação diante do projeto apresentado.

Os líderes religiosos, por exemplo, questionam Jesus sobre a “autoridade” dEle, que, por sua vez, indaga-os sobre a origem do Batismo pregado por João Batista. Diante do silêncio ou recusa em respondê-lo, Jesus adverte que se continuarem de coração fechado, nunca compreenderão a forma como Deus escolheu salvar a humanidade. É quando Jesus apresenta três parábolas num convite à reflexão sobre o fechamento que os impede de viver as alegrias do Reino de Deus.

A parábola dos dois filhos aponta duas atitudes diversas ante as propostas de Deus. O primeiro filho foi convidado pelo pai para trabalhar “na vinha”. O filho recusa de imediato. No contexto familiar da Palestina do tempo de Jesus, a resposta causaria ao pai vergonha e acabaria com a sua autoridade e honra diante dos familiares, dos amigos e dos vizinhos. Mas o primeiro filho acaba por se arrepender e vai trabalhar na vinha (vers. 28-29). O segundo filho, diante do mesmo convite, respondeu: “sim, senhor, eu vou”. Ele oferece uma resposta satisfatória, que não desrespeita a honra paterna. Foi, então, considerado por todos como um filho exemplar. No entanto, não foi trabalhar na vinha. A parábola ensina que, no olhar de Deus, o que importa não é quem se comportou bem apenas para manter a aparência. Mas, de acordo com a lógica divina, o importante é cumprir, realmente, a vontade do Pai. No Reino, não bastam palavras bonitas ou boas intenções ditas apenas da boca para fora, é preciso uma resposta decisiva e coerente aos desafios e às propostas do Pai.

Diante dessa urgência, na Primeira Leitura (Ez 18, 25-28), o profeta Ezequiel convida os israelitas, no cativeiro da Babilônia, a comprometerem-se de forma séria e coerente com Deus, sem desculpas ou justificativas. Cada fiel deve tomar consciência do resultado do seu compromisso com Deus e assumir, com coerência, a sua adesão à Aliança novamente oferecida a Israel. Cada um precisa descobrir que, diante das escolhas erradas e da insistência de permanecer no caminho do mal, enfrentará as consequências. No entanto, se decidir abandonar os caminhos de egoísmo e de pecado, decidindo-se por Deus e pelos valores do seu Reino, encontrará a vida e a liberdade almejada.

Assim, São Paulo, em um notável hino de louvor cristológico, lembra na Segunda Leitura (Fl 2, que os cristãos são chamados por Deus a seguir Jesus e a viver na entrega total ao Pai e aos Seus planos redentores. Ao nos convocar para ter “os mesmos sentimentos e a mesma caridade” que nosso Redentor e a viver “numa só alma e num só coração”, Ele nos lembra de que, mesmo divididos pela diversidade de línguas e culturas, somos todos membros de um mesmo corpo e de uma só família. Por isso, não devemos nortear nossa vida em comunidade alimentados “por rivalidade nem por vanglória; mas, com humildade”.

Aos olhos de quem não adentrou na dinâmica do Reino e não aceita que a misericórdia divina se volte para buscar os perdidos ou pecadores, Jesus foi um rebelde. O cristão deve ter como exemplo esse Cristo, servo sofredor e humilde, que fez da Sua vida um caminho de acolhida para quem deseja recomeçar. Voltemos à parábola. Ela responde àqueles que acusavam Jesus de acolher os pecadores e os excluídos, isto é, aqueles que, aparentemente, disseram não a Deus em algum momento de sua vida. Jesus manifesta em Suas palavras e na Sua vida que na perspectiva de Deus não interessam as convenções externas, mas a atitude interior. O que honra a Deus não é o mero cumprimento de ritos externos para aparentar bondade, mas quem cumpre verdadeiramente a Sua vontade. Os ritos celebrados devem ser acompanhados pela verdade do coração. Os fariseus celebravam ritos escrupulosamente, mas se recusavam a praticar a misericórdia para com aqueles que já estavam condenados aos olhos de quem não conhece o coração de Deus. Nós devemos celebrar o que vivemos e viver o que celebramos, como nos recorda uma parte do Rito da Ordenação Sacerdotal: “Toma consciência do que virás a fazer; imita o que virás a realizar, e conforma a tua vida com o mistério da Cruz do Senhor.”

Reflitamos: O que é que significa dizer “sim” a Deus? Será que é ser batizado ou crismado? Será que é ser casado na igreja? É fazer parte de alguma pastoral ou movimento na paróquia? É ter feito votos em um instituto religioso? É ir todos os dias à missa? 

Obviamente, tudo isso expressa nosso “sim” a Deus. Por outro lado, é preciso que esse “sim inicial” se confirme, depois, no modo como vivemos a dignidade do sacramento do Batismo ou da Confirmação em um verdadeiro esforço permanente, trabalhando na vinha do Pai. Nunca serão suficientes apenas palavras e declarações de boas intenções. É justo e necessário viver, dia a dia, os valores do Evangelho e seguir Jesus no caminho de amor que Ele percorreu e assim construir, através gestos concretos, um mundo de justiça, de bondade, de solidariedade, de perdão, de paz.

Encerremos com o Salmo deste domingo: “O Senhor é piedade e retidão e reconduz ao bom caminho os pecadores. Ele dirige os humildes na justiça, e, aos pobres, Ele ensina seu caminho (vers. 8-9) Mostrai-me, ó Senhor, vossos caminhos e fazei-me conhecer a vossa estrada. Porque sois o Deus da minha salvação; em Vós espero, ó Senhor, todos os dias! (vers. 4 -5)”.

Por: Padre Paulo Sérgio Silva

Pároco da Paróquia São Sebastião, em Mangabeira, distrito de Lavras – CE

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