23° Domingo do Tempo Comum – Discípulo: Renuncia do mundo, opção pelo Reino de Deus

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Qualquer um de vós, se não renunciar tudo o que tem, não pode ser meu discípulo.” (Lc. 14, 33)

Já tomamos consciência do que significa ser batizado e tornar-se cristão? Fizemos um vislumbre das exigências e decidimos mesmo assim construir com Cristo o Reino de Deus? A liturgia de hoje nos convida a sentar ao lado de Jesus e tomar consciência do quanto é exigente o caminho de construção do “Reino”. Desde que nascemos nossa liberdade exige de nós muita prudência e sensatez para realizar o discernimento dos muitos caminhos colocados diante de nosso coração. Escolher e permanecer no caminho do Reino é optar por uma estrada árdua com necessárias pausas para refazer as forças e também realizar escolhas que muitas vezes exigem renúncias para que a vida possa permanecer como doação.

Na Primeira leitura (Sb. 9,13-18) o autor sagrado nos convida a refletir sobre a constante incerteza da vida humana chamada a livremente construir seu caminho e sua história. Para ele, somente a Sabedoria pode verdadeiramente nos auxiliar a bem escolher nossos caminhos. Mas o que é sabedoria? o Livro da Sabedoria é resultado do encontro da mentalidade filosófica grega com a espiritualidade judaica. Os gregos enxergavam a sabedoria como acúmulo de conhecimento resultado de conceitos abstratos, os judeus a viam como a capacidade de escolher o Bem que resultava no agir bem e para o bem. Sendo assim, para o autor, ainda que o conhecimento empírico e abstrato seja de grande valor, ele não pode rivalizar ou substituir o conhecimento vindo diretamente da inspiração divina. Somente essa sabedoria que é um dom divino faz o ser humano compreender tudo, fazer o que agrada a Deus e ser feliz. Em Jesus Cristo, os cristãos compreenderam que a sabedoria cristã consiste em optar radicalmente o valor fundamental, mesmo se isso exigir uma escolha dolorosa contra o pensamento do mundo.

A segunda leitura (Fm 9b-10.12-17) nos apresenta um escrito muito pessoal do Apóstolo Paulo. Ele escreve para Filêmon que foi convertido a Cristo graças ao seu ministério. O Apóstolo já está preso e ao seu lado na prisão está o escravo “Onésimo”. Paulo pede que Filêmon receba Onésimo não mais como um escravo fugitivo e ladrão, mas como um irmão na fé. Paulo apela para a sensibilidade para transformar a relação de patrão/escravo que havia entre eles em uma nova relação de fraternidade e amizade. As comoventes palavras de Paulo lembram a Filêmon que o seguimento de Jesus exige atitudes novas e radicais nas relações humanas. Pelo batismo, Filêmon e Onésimo são agora irmãos na fé e no Espírito. Ao recordar que o amor é o valor fundamental para o cristão, ensina que somente ele permite descobrir e aceitar a igualdade de todos que são filhos do mesmo Pai e irmãos em Cristo.

O Evangelho (Lc 14,25-33) nos apresenta Jesus diante de uma multidão animada e entusiasmada com sua fama. Sem se deixar levar pelo emocional, Jesus revela para eles que segui-lo é muito mais do que ver milagres ou escutar belas palavras. Ser discípulo significa abandonar seus próprios interesses (emprego, desejos, família, etc.), dar prioridade ao anúncio do Evangelho e tomar a cruz como gesto de amor e doação. Sendo assim, quem escuta o chamado para ser discípulo deve pensar seriamente sobre a resposta, e antes de responder, avaliar se tem forças para viver a proposta de Jesus até o final.

Jesus ensina que entrar na sua missão é dar continuidade ao projeto do Reino. O seu seguimento exige rupturas e uma transformação radical na maneira de viver e de conviver. Por isto a pessoa deve refletir sobre o que está assumindo. O seguimento deve ser planejado, semelhante a alguém que planeja construir uma torre ou aum rei que entra em guerra contra seu adversário. Estas duas parábolas são um convite ao discernimento, a prudência e sensatez. Seguir Jesus exige conhecimento das próprias capacidades e uma vontade abundante de renunciar.

Em nossos dias cada vez mais percebemos que muitas pessoas procuram a comunidade cristã por costume, influência familiar ou por apelo estético a cerimônia religiosa. Sem construir muros ou cercas, devemos ter a coragem de Jesus Cristo e fazer nossa sociedade atual perceber que a opção pelo batismo e pela fé se trata de uma opção séria e exigente. Muito mais que um mero rito é uma escolha que só faz sentido fazer se estivermos dispostos a viver a radicalidade do Reino que é a proposta de Jesus.

Pe. Paulo Sérgio Silva

Paróquia Nossa Senhora da Conceição

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