1º Domingo da Quaresma: guiados pelo Espírito, caminhemos com Jesus nos desertos da vida

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“Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão, e, no deserto, ele era guiado pelo Espírito.”

Ao longo da nossa peregrinação Quaresmal, a Palavra de Deus ao relatar anos do povo de Israel no deserto, de Moisés e Elias no monte e os dias de Jesus no deserto, questiona nossas opções de vida e ao apresentar as “tentações” que nos afastam dos caminhos do Reino, nos convida a confiar plenamente em Deus. Através daqueles que auxiliados pela graça divina venceram as tentações, somos convidados no tempo presente a renovar nossa féem Jesus Cristo, por meio dos exercícios quaresmais.

Na primeira leitura (Dt. 26,4-10) Moisés faz uma recordação das ações realizadas por Deus em favor do seu povo eleito ao longo da história. E Israel oferece agradecido os primeiros frutos da colheita em ato de adoração. Nesta recordação tanto o povo de Israel quanto nós somos convidados a rejeitar “os falsos deuses” e as suas seduções e a depositar em Deus a nossa plena confiança e fé. É preciso afastar-se da atitude de orgulho e da auto-suficiência que somente conduzem a desgraça e amorte.

Na segunda leitura (Rm. 10,8-13) São Paulo exorta-nos a fugir da atitude arrogante de querer “tomar posse” dasalvação que Deus nos oferece, pois, a graça salvadora não é fruto de uma conquista humana, mas um dom gratuito de Deus. O Apóstolo afirma que nos é exigida então uma fé que não se reduza a uma confiança superficial em Jesus, mas sim crer naquilo que Ele é de fato e de verdade: o Redentor. Se faz necessário, pois, “converter-se” a Jesus, reconhecendo como o “Senhor” e acolher no coração a salvação que, em seu Filho, Deus propõe a humanidade.

O Evangelho (Lc. 4,1-13) nos coloca diante dos inícios da missão de Jesus. Nas tentações em meio ao deserto é apresentado o horizonte que vislumbrará durante toda a sua vida e missão. Se trata de uma catequese sobre as escolhas livres de Jesus. Nas tentações da gula(materialismo), da ambição (poder/domínio), da vaidade e presunção (sucesso/êxito fácil) são apresentadas as seduções primordiais do pecado e do mal: o Ter, o Poder e o Ser. Jesus, em meio a debilidade física e espiritual,rejeitou livremente os caminhos do egoísmo, do autoritarismo e do espetáculo, para viver uma vida de partilha, de serviço e de simplicidade.

Depois de 40 dias de renúncias e jejuns como Cristo resistiu as seduções do maligno? Mantendo-se com a plenitude do Espírito de Deus, tendo a consciência de que não estava sozinho e revivendo toda a história do seu povo. O ato de manter-se em comunhão com Deus Pai nãoé apenas uma decisão por Ele, mas por toda humanidade.  Assim como o povo de Israel no deserto, Jesus experimentou a fome, e mesmo compreendendo a necessidade do alimento, reconheceu que a vontade do Pai era essencial e isto o sustentou. A carência do alimento é seguida pelo pensamento de que possuir/tomar/dominar todos reinos poderia suprir esta fome, mas o custo é alto demais. O preço por esta tentação é rejeitar Deus. É construir novamente o bezerro de ouro; é adorar a satanás.  A fé no Pai que já fez tanto pela humanidade ao longo da história é mais fundamental que a honradez efêmera advinda das grandezas materiais. A última tentação é a mais sedutora, refinada e cruel e tem como intuito levar Jesus a esquecer do que Ele é essencialmente: Filho de Deus. Assim como aconteceu com Adão e Eva e com o povo no deserto, Jesus Cristo é levado a desconfiar do amor divino e tentar Deus. No entanto, Jesus não esquece em quem colocou a sua confiança. Em suas respostas Jesus parece rezar o salmo 90 que meditamos hoje também na nossa liturgia da Palavra.

O diabo se retira para voltar “no tempo oportuno” que é a hora da Cruz. Será lá, no abandono da Cruz, onde será feita a maior e mais silenciosa tentação. E mesmo sentindo-se abandonado na sua comunhão plena com o Pai e com o Espírito, Jesus escolherá “entregar” o espírito ao Pai.

Pensemos também em quantos irmãos e irmãs abandonam sua fé em Deus por causa da fome que nosso egoísmo impõe aos pobres e necessitados! Quantos se deixar seduzir pelo desejo de posse material por ter o trabalho e a dignidade negados! Quantos se ajoelham diante dos poderosos por medo da violência e dos horrores e desolação impostos pela guerra!

A partir deste domingo acompanharemos Jesus pelos caminhos da Galileia, indo ao encontro daqueles que experimentam a realidade de sentir-se como ovelhas em pastor. Anunciaremos a chegada do Reino com Ele na sua confiança plena no Pai? Ou cairemos ante o peso das tentações e O abandonaremos pelo caminho ao longo da história?

Pe. Paulo Sérgio Silva

Paróquia Nossa Senhora da Conceição – Farias Brito.

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