SOLENIDADE DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO APARECIDA

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APARECEU NAS ÁGUAS BRASILEIRAS UM GRANDE SINAL DO CÉU

                     “Sua mãe disse aos que estavam servindo: ‘Fazei o que Ele vos disser’. (Jo.2,5)

         A solenidade de hoje, embora realizada no estado de São Paulo, faz com que todos os olhos e corações, de diferentes recantos do nosso país, se voltem para o santuário de Aparecida tornando todas as nossas dioceses e paróquias uma única comunidade reunida. São os filhos e filhas que contemplam a casa da Mãe. A Imagem de Nossa Senhora Aparecida recorda ao povo brasileiro a presença da Mãe do Senhor na história da salvação e sua ação materna e consoladora, experimentada em 1717, por três pobres pescadores, no alvorecer de nossa história nacional. Em Caná, Maria intercede e Deus traz vinho em abundância, no Brasil, Maria consegue peixe para saciar a fomes dos filhos.

         A primeira leitura (Est. 5,1b-2; 7,2b-3) nos apresenta o trecho de um dos poucos livros do Antigo Testamento que carregam o nome e ação de uma mulher: o Livro de Ester. Através da sua perspectiva, a obra apresenta o surgimento da festa judaica de “Purim” e a atuação da rainha Ester que intercede pelo seu povo e o livra do extermínio em meio a uma grande perseguição. A rainha vai ao encontro do rei com as suas duas únicas posses: sua humilde beleza e sua confiança em Deus. O rei se encanta com sua beleza e lhe oferece até mesmo a metade do reino. Mas se surpreende ainda mais com o seu coração. A jovem rainha não almeja bens materiais ou prestígio social. Ela esquece de si mesma e pede proteção à vida do seu povo que estava sendo vítima de um invejoso conselheiro chamado Amã. A ação da rainha Ester revela um coração que transborda amor e altruísmo característicos daqueles que fazem da fé no Deus único o seu caminho de vida. Compreendamos a diferença do coração que se confia a Deus. No banquete do tirano rei Herodes, uma moça o encanta, recebe uma proposta semelhante e pede a cabeça de um inocente profeta (Mc.6, 14-29); Ester se preocupa mais com a vida do seu povo do que com a sua própria vida. Nesta solenidade, o texto bíblico nos ajuda a compreender que na figura da rainha Ester, compreendemos o papel e a missão de Maria na vida da Igreja: uma verdadeira intercessora. Da mesma forma que Ester, Nossa Senhora Aparecida representa um sinal de intercessão pelo povo brasileiro, vítima de tantos desmandos sociais e irresponsabilidades políticas.

         Na segunda leitura (Ap. 12,1.5.13a.15-16a) o livro do Apocalipse narra um futuro acontecimento que traz as características das teofanias bíblicas: transformações na terra e no céu, relâmpagos, vozes, trovões, terremotos e tempestade de granizo. E meio a estes fatos surge um grande sinal no céu descrito como uma mulher gloriosa, vestida com o sol, tendo a lua sob os pés e na cabeça, uma coroa de 12 estrelas. Ela está grávida e grita com dores de parto, pois se prepara para dar à luz o Messias. Surge também um dragão que persegue a mulher, atacando-a com um caudaloso rio. O dragão representava na época o império romano em sua perseguição aos cristãos. A ação de Deus que faz a terra engolir o rio protegendo a mulher, revela a fé dos cristãos que acreditavam que as perseguições do império romano contra os cristãos iriam cessar. A Igreja aprendeu a ver na mulher misteriosa do Apocalipse tanto a Mãe de Deus como a si mesma, pois assim como Maria gerou o Filho de Deus no ventre, a Igreja gera Cristo pelo anúncio do Evangelho e pelo Batismo. Desse modo, a Mãe de Jesus, permanece como parte da comunidade cristã que espera e acredita que o sofrimento e injustiça por fim acabarão.

No Evangelho (Jo. 2,1-11) é narrado um momento festivo: um casamento que tem como convidados Jesus, seus discípulos e também sua mãe. Todavia em meio a tantas alegrias, um momento de preocupação surge: o vinho, essencial para a festa, começa a faltar. O evangelista João nos oferece assim uma rica catequese.

O vinho, cuja falta preocupa, é o símbolo da alegria do amor, da amizade, da aliança restabelecida entre Deus e os homens. O vinho é sinal também do sangue com o qual o Filho de Deus selará a sua aliança nupcial e definitiva com a humanidade. O vinho das Bodas de Caná se torna também símbolo da maior de todas as graças concedidas por Deus: Nosso Senhor Jesus Cristo. Ele é a primeira das graças que Maria trouxe. Tendo Jesus a humanidade tem tudo, pois quem possui Cristo na vida, nada lhe falta.

A ação de Maria ao dialogar com Jesus tem um importante ensinamento. Ela na verdade não dirige nenhum pedido a Ele; Não faz nenhuma exigência, não sugere um sinal ou milagre. Pronuncia apenas uma frase: “Eles não têm mais vinho”. Com esta atitude Maria ensina a rezar. Pois, interceder e rezar não significa dizer a Deus o que ele tem que fazer. Ela nos ensina a entregar tudo nas mãos do Senhor e deixar que Ele decida o que é melhor para nós ao invés de colocar nossa vontade acima de tudo. Sua frase dita aos que serviam na festa só fortalece ainda mais o ato de rezar: “fazei o que Ele vos disser”. As vezes em nossas orações falamos demais, reclamamos, murmuramos insatisfeitos. E enquanto balbuciamos nossas murmurações, não silenciamos para ouvir Deus nos falar. O discípulo deve estar sempre atento para ouvir e praticar o que o Mestre pedir ou ordenar.

O Sinal das Bodas de Caná é o primeiro milagre com o qual Jesus manifesta publicamente sua glória e com o qual Ele se revela como o Esposo messiânico, vindo ao encontro do seu povo para selar uma nova e eterna Aliança de amor. Hoje, vemos Maria como Mãe que pede e que intercede pelos filhos junto ao Filho. Aprendemos a bondade e a generosidade de Maria, mas também a humildade em aceitar a vontade de Deus. Um dia no amanhecer do mar da Galiléia, Jesus faz Pedro colher uma pesca frutuosa. Um dia no amanhecer do Rio Paraíba, Maria, com uma milagrosa e abundante pesca, recorda e ensina a três humildes filhos que seu Filho divino é amor e providência.

Que Nossa Senhora da Conceição Aparecida, Mãe dos Peregrinos, nos acompanhe em nosso caminho de fé e de missão. Que como Mãe vele por nossa conversão, nos ensine a ser vinho bom, imitando-a na sua atitude de humildade, solicitude e de amor. Encerremos invocando-a com as palavras da antífona: “À Vossa proteção recorremos, Santa Mãe de Deus. Não desprezeis as nossas súplicas em nossas necessidades, mas livrai-nos sempre de todos os perigos, ó Virgem gloriosa e bendita. Amém”.

Pe. Paulo Sérgio Silva.

Paróquia Nossa Senhora da Conceição – Farias Brito.

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