Solenidade da Assunção de Maria: Bem-aventurada é Maria porque acreditou na Misericórdia de Deus

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 “Porque o Todo-Poderoso fez grandes coisas em meu favor. O seu nome é Santo” (Lc.1,49).

 Iniciamos a semana de Oração pela Vocação a Vida Consagrada e Religiosa ao mesmo tempo que festejamos a Solenidade da Assunção de Nossa Senhora. Maria une na sua vida a vocação matrimonial e a vida consagrada. Assumiu as duas vocações sem menosprezar nenhuma: foi esposa exemplar e ao mesmo tempo consagrou inteiramente sua vida através da castidade, humildade, pobreza e obediência. Assim pelo seu exemplo compreendemos não apenas que a vocação a vida consagrada exige abertura e docilidade a voz divina, acolhida aos seus apelos, doação, coragem e força para enfrentar as dores e os sacrifícios, mas também que estas renúncias e sacrifícios feitos em oblação trazem alegria a vida doada e consagrada.

Trazemos na memória e no coração a proclamação do dogma por Pio XII em 1º de novembro de 1950. A Constituição Apostólica Munificentissimus Deus afirma: “A imaculada Mãe de Deus, a sempre virgem Maria, terminado o curso da vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória celestial”. A solenidade de hoje deseja nos revelar que aquilo que Deus realizou em Maria é a conclusão de tudo que Ele deseja realizar com e em toda a humanidade. Deste modo, compreendemos que na conclusão da vida e missão de Maria realizou-se o que acontecerá conosco caso também participemos da vida de Jesus e sejamos discípulos fiéis. Tendo realizada plenamente a vontade divina em sua vida, ela foi ressuscitada por Deus, ou seja, foi assumida de corpo e alma, em sua totalidade, por Ele.

A primeira leitura (Ap.11,19a; 12,1.3-6a.10ab) narra a visão da abertura do santuário de Deus no céu. Essas visões repletas de fenômenos naturais eram comuns também nas teofanias[1] no Antigo Testamento. A Mulher mencionada, na Tradição, tanto pode ser a representação de Maria como da própria Igreja, pois Maria gerou a Jesus Cristo e a Igreja gera os discípulos de Jesus por meio do sacramento do Batismo. O dragão que a persegue representa não apenas o diabo, mas todo e qualquer ser que se oponha a salvação e busca destruir os planos de Deus para a humanidade. A ação de Deus que protege o seu Filho do ataque do dragão revela que o poder do mal nunca terá a última palavra. Com a figura do Filho que ocupa seu lugar no trono no céu, compreendemos e reconhecemos que, no seguimento de Jesus e na pessoa de Maria, a nova humanidade já é acolhida junto de Deus.

Na segunda leitura (1Cor. 15,20-27a), o Apóstolo afirma que ser cristão significa acreditar que Cristo ressuscitou verdadeiramente dos mortos. Toda a nossa fé se baseia nesta verdade fundamental. No contexto da solenidade, a assunção é entendida como antecipação da ressurreição final dos fiéis, que serão ressuscitados em Cristo. Ao ser glorificada por Deus, Maria não é transformada em um anjo, não é separada de nossa natureza, mas é unida ainda mais intimamente a nossa humanidade. Como primeira cristã, tornou-se, assim, a primeira na fé a ser elevada à glória do céu em corpo e alma, graça oferecida e alcançada pela Ressurreição de Jesus. Maria, como Mãe e discípula, seguira nosso Mestre fielmente durante toda a sua vida, assim é justo e necessário, que ela tenha entrado com Ele na vida eterna na Casa do Pai.

O Evangelho (Lc.1-39-56) nos apresenta o encontro de duas mães que se preparam para trazer vida nova ao mundo: um filho traz a renovação da esperança da promessa messiânica. O outro Filho é a esperança encarnada; é o próprio Deus feito Homem. Somos convidados a entoar dois cânticos: o cântico Isabel lembra os louvores da profetiza Débora diante de uma vitória (Jz.5,24) e também a matriarca Judite que agiu para salvar seu povo (Jt.13,18). E o Magnificat: É o cântico da esperança que relembra a oração de Ana, mãe do profeta e sacerdote, Samuel (1Sm. 2, 1-10) e também o salmo 113. Maria, jubilosa pela salvação que se aproxima nela e com ele, dá voz ao Povo de Deus, em peregrinação aqui na Terra, que mesmo experimentando a luta cotidiana entre a vida e a morte, entre o bem e o mal, permanece crendo na Ressurreição de Cristo e na vitória do Amor Divino.

Acompanhar nossa Mãe em seu cântico é reconhecer que Deus fez grandes coisas em Maria e com Maria. Concebida sem pecado e unindo sua liberdade plenamente a Graça, permanecendo fiel a Deus e ao seu projeto de salvação, Maria transformou sua vida em comunhão perfeita e eterna com a Trindade Santíssima. A sua assunção é efeito desta vida toda entregue a Deus. Nela, Deus realizou em plenitude tudo aquilo que desejou para a humanidade.

Maria elevada ao céu pela Graça de Deus, permanece com o coração unido a humanidade. O Papa Francisco, rezando sobre a Assunção de Maria, fala: “Maria, a mãe que cuidou de Jesus, agora cuida com carinho e preocupação materna deste mundo ferido. Assim como chorou, com o coração trespassado, a morte de Jesus, assim também agora se compadece do sofrimento dos pobres crucificados e das criaturas deste mundo exterminadas pelo poder humano. Ela vive, com Jesus, completamente transfigurada, e todas as criaturas cantam sua beleza” (Laudato Si’, n. 241).

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[1] Teofania é uma manifestação visível do próprio Deus. A palavra teofania tem origem na combinação de duas palavras gregas, theos, que significa “Deus”, e phainein, que significa “mostrar” ou “manifestar”. Portanto, literalmente teofania significa “manifestação de Deus”.

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Pe. Paulo Sérgio Silva

Paróquia Nossa Senhora da Conceição – Farias Brito

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