Romaria ao Caldeirão de Santa Cruz: recordar e atualizar a experiência vivida da Palavra de Deus

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No terceiro domingo de setembro pela manhã, grande multidão vinda dos mais longínquos e diversos lugares da Diocese de Crato se reuniu no Caldeirão de Santa Cruz do Deserto, para recordar – e atualizar – a experiência vivida da Palavra de Deus, impulsionada pelo ideal de comunidade fraterna, na qual impera, apenas, o desejo de vida e dignidade para todos, conforme a exortação de Dom Gilberto Pastana, bispo diocesano. Este, presidindo a Santa Missa em altar ornamentado à frente da Capela dedicada a Santo Inácio de Loyola, também acrescentou: “É na comunidade de fé que nós devemos viver a solidariedade e a comunhão”.

Há dezoito anos, a Romaria ao Caldeirão (Comunidade liderada pelo Beato José Lourenço, brutalmente reprimida pelas forças militares em 1937, ao propor uma sociedade mais justa e humanitária), é dia santo para as Comunidades de Base. Agricultores, familiares, sindicalistas, membros de movimentos e pastorais sociais, religiosas e leigos percorrem a longa estrada de chão batido (que faz a ligação entre a cidade do Crato e o Caldeirão) sob um farto sol de setembro, com temperaturas beirando quarenta graus.

Este ano, a romaria foi marcada por uma simbologia de esperança e preservação ambiental, com mudas de árvores nativas, como Angico e Pau D’arco, sendo plantadas no momento em que todo o povo entoava o “Glória”.

“Trabalhando a temática ‘Guardar e Cultivar a Criação’ surgiu à motivação, para que nós pudéssemos ao reflorestamento do Caldeirão. Também aqui está sendo estudada a possibilidade de aqui ser uma área de preservação ambiental. E nós queremos fazer do Caldeirão uma grande sombra, para acolher os romeiros e fortalecer este espaço, como espaço de preservação e acolhida”, explicou o coordenador diocesano de Pastoral, Padre Vileci Vidal. Ele, ao lado dos padres Tarcísio de Sales (de Santa Fé), José Ricardo e Luis Carlos (de Ponta da Serra, respectivamente), concelebrou a Eucaristia.

Em memória ao bombardeio à comunidade religiosa do Caldeirão e também para lançar uma mensagem de esperança e paz, “bombas do bem” revestidas de sementes nativas foram distribuídas entre os participantes.

A romaria, que recorda a vida em comum, fraterna, também foi tomada como mote para discutir questões sociais, sobretudo, as que dizem respeito à convivência com o semiárido. Os “gritos do Caldeirão”, liderados pelo artista João do Crato, ao final da celebração eucarística, ecoaram a atual conjuntura, que tem ignorado as demandas dos trabalhadores.

Para a jovem estudante Mariana Tavares, ir ao Caldeirão é fazer um exercício verdadeiro de comunidade. “E é disto que o país está precisando: terra e trabalho para todos. Mas, para isso, as pessoas devem se unir”, disse ela.

Valéria Tavares, representante do Grupo de Valorização Negra do Cariri, GRUNEC, que acredita ser possível fortalecer as lutas através da organização comunitária, religiosamente, cumpre a promessa que fez pelo sobrinho doente, e assiste, perto da Cruz de madeira, toda a celebração, buscando fortalecer o espírito, sobretudo, enquanto movimento [social], na vida das pessoas, na vivência da palavra.

Para renovar as esperanças

Na homilia da Missa, Dom Gilberto recordou que o Caldeirão “traz um sinal muito forte de uma presença de resistência, modelo de testemunho e de sinal para todos aqueles que querem, também hoje, dar a sua vida na construção de uma sociedade fraterna e igualitária”.

Padre Vileci, um dos organizadores da romaria, explicou que a comunidade, liderada pelo Beato José Lourenço, era composta por milhares de camponeses que trabalhavam coletivamente e dividindo o lucro. O nome “Santa Cruz do Deserto” vem dos rituais ao dia da Santa Cruz. “O beato, além de organizar a vida social, era também o líder religioso. Oficiava, todas as noites, as novenas, festas, ofícios e as pregações sobre o caminho do amor e da retidão a ser seguido pelos homens do rebanho de Deus”, afirmou o padre.

 

Por: Jornalista Patrícia Mirelly

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