Realizar a Missão é cuidar da vinha e vê-la produzir frutos de santidade e de testemunho

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HOMILIA DO 27º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO A

Amados irmãos e amadas irmãs!

Ao longo destas três semanas, acompanhamos Jesus Cristo formando seus discípulos missionários através de parábolas que possuem como intuito apresentar o Reino de Deus mediante a imagem da vinha. A primeira parábola, falou-nos da infinita misericórdia de Deus que a todos convida para servir no seu Reino. A segunda, sobre dois filhos convidados a trabalhar nesta vinha e as respostas dadas por casa um. Neste domingo, em que iniciamos o Mês Missionário, novamente uma parábola catequética irá usar a imagem da vinha para falar a um povo que aceita o desafio do amor de Deus e que se coloca a serviço d’Ele. Desse Povo, Deus espera e exige frutos de amor, de paz, de justiça, de bondade e de misericórdia. A Vinha é a nossa missão. Deus a confiou a nós, porque acredita que produziremos bons frutos.

O Evangelho nos traz novamente Jesus envolvido em mais uma polêmica com os grupos religiosos que rejeitam Seu plano redentor. Assim, Ele retoma à imagem da vinha enquanto critica os líderes judaicos que tomaram posse do povo de Deus, mas se recusaram a oferecer-Lhe frutos. Jesus anuncia que a vinha vai ser retirada deles e vai ser confiada a trabalhadores que produzirem e que entregarem os frutos esperados.

Na Primeira Leitura, somos apresentados a uma parábola ou cântico narrado pelo profeta Isaías que também utiliza a imagem da vinha para falar da infidelidade do povo de Israel para com a Aliança. O “cântico da vinha” foi escrito em uma época de relativa tranquilidade, pois o povo se encontrava num clima de paz generalizada. Todavia, o profeta enxerga uma realidade diferente. A falsa paz esconde grandes injustiças. Os poderosos exploram os mais fracos, os juízes se corrompem, os donos de terras gananciosos se apropriam dos bens dos mais pobres, os governantes oprimem os súditos e as mulheres ricas de Jerusalém vivem no luxo.

No âmbito religioso, o culto florescia numa abundância de práticas de piedade e de solenes manifestações religiosas, apenas na aparência. Por trás, eram incoerentes e mentirosos, pois não eram resultados de uma verdadeira adesão aos planos de Deus, mas sim de tentativas de enganar as consciências e da pretensão de “comprar” o silêncio de Deus.

A canção do profeta começa poética e comovedora e, aos poucos, transforma-se em uma desilusão que grita por justiça. Deus é o “vinhateiro” e Israel é a “vinha”. Foi Deus quem trouxe de longe (do Egito) essas videiras escolhidas, que as plantou numa terra fértil (a terra de Canaã), que enviou empregados para protege-la (profetas, juízes e sacerdotes), que removeu dessas terras as pedras (os inimigos de Israel), que cuidou e que amou a sua vinha. E como o povo respondeu ao zelo de Deus? Produzindo frutos contrários àquilo que Deus esperava: os poderosos cometendo injustiças, os juízes não fazendo justiça ao pobre, os grandes derramando o sangue do inocente, os órfãos e as viúvas maltratados e sem ninguém que os defenda. O profeta, então, anuncia que o amor de Deus pretende criar no coração do seu Povo uma vida nova que leve o amor ao irmão. Deus nos ama para que nos deixemos transformar pelo amor e amemos os outros.

No seu tempo, Jesus afirma que Jerusalém continua com a mesma infidelidade à Aliança que Isaías havia denunciado. Contudo, essa infidelidade ultrapassa todos os limites: não apenas a injustiça e a corrupção continuam guiando a vida da cidade e oprimindo os mais fracos, como levam os líderes a perseguirem e matarem o “filho” do dono da vinha na esperança de roubar definitivamente a vinha que lhes fora confiada para dar bons frutos.  Eles rejeitaram a Pedra Angular que mantém a firmeza e a fecundidade da vinha. Diante disto, Mateus afirma que “o Reino de Deus vos será tirado e será entregue a um povo que produzirá frutos”. (vers. 43)

Longe de se resumir a uma mera crítica aos grupos religiosos que rejeitaram a missão de Jesus Cristo, Mateus deseja alertar seus irmãos de fé a não caírem na mesma recusa. O evangelista percebe que os fiéis da sua comunidade esqueceram o entusiasmo da conversão e se instalaram em um cristianismo fácil, sem exigência, descomprometido e acomodado. Assim, com a parábola, ele exorta os seus irmãos da comunidade para que, despertando do comodismo e do mau testemunho, vivam a fé coerentemente e passem a dar frutos próprios do Reino, vivendo fielmente as propostas de Jesus.

Para ajudar a entender que frutos Deus espera que produzamos, na Segunda Leitura, Paulo exorta os cristãos filipenses e a todos os que fazem parte da “vinha de Deus” a viverem na alegria, na amabilidade e na serenidade, respeitando o que é verdadeiro, nobre, puro, justo e digno. São esses os frutos do Reino de Deus.

A lição fundamental da Liturgia da Palavra é a da coerência com que vivemos o nosso compromisso com Deus e com o Reino. Deus não obriga ninguém a aceitar a Sua proposta de salvação. Entretanto, uma vez que aceitamos trabalhar na Sua “vinha”, temos de produzir frutos de amor, de serviço, de doação, de justiça, de paz, de tolerância, de partilha. Deus nunca estará disposto aceitar situações falsas, incoerentes ou mentirosas, pois exige coerência, verdade e compromisso. Para viver nossa fé de forma genuína, precisamos permanecer alicerçados na Pedra Angular, tal como nos recorda Santa Teresa d’Ávila: “Caminhando com os olhos fixos em Jesus Cristo”

A Igreja, como resultado da vida das primeiras comunidades cristãs, é constituída por homens e mulheres que se comprometem com o Reino e que trabalham na vinha do Senhor. Necessitamos, pois, produzir frutos bons e testemunhar gestos concretos de amor, de acolhimento, de compreensão, de misericórdia, de partilha e de serviço, o Reino que Jesus Cristo veio propor.

Dessa forma, devemos fazer com que nossas liturgias solenes, nossos movimentos e pastorais, celebrando a ressurreição do Senhor, estejam ligados à vida cotidiana. Devemos urgentemente perceber que aquilo que celebramos no domingo é o que nós vivemos ao longo da semana e que aquilo que vivemos no cotidiano é o que deve nos levar a buscar à Casa de Deus, para louvar e agradecemos o que a Sua graça nos deu a capacidade de realizar.

Com este domingo, abrimos o Mês Missionário. Por isso, faz-se tão necessário acompanhar a nossa vida de oração com gestos concretos que expressem estes frutos do Reino de Deus. Realizar a Missão é cuidar da vinha que nos foi confiada e vê-la produzir frutos de santidade e de testemunho.

Encerremos, pois, nossa partilha com o Salmo, a expressão da oração do povo de Deus: “Dai-nos vida e louvaremos vosso nome! Convertei-nos, ó Senhor Deus do universo e sobre nós iluminai a vossa face! Se voltardes para nós, seremos salvos!”

 

Pe. Paulo Sérgio Silva

Paróquia São Sebastião, Mangabeira, distrito de Lavras – CE

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