HOMILIA DO 28º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO A

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FELIZES OS CONVIDADOS PARA O BANQUETE DO REINO

O Reino dos Céus é como a história do rei que preparou a festa de casamento do seu filho” (Mt. 22,2)

Amados (as) irmãos e irmãs!

            Depois de três semanas nos apresentando parábolas que manifestam o Reino de Deus como uma realidade que nasce do convite de Deus e da resposta do ser humano, a liturgia deste Domingo usa imagem do “banquete” para retratar esse mundo de felicidade, de amor e de alegria sem fim que Deus oferece a todos os seus filhos e filhas.

            Na primeira leitura (Is. 25,6-10a), o profeta Isaías, em mais um de seus poemas, anuncia o “banquete” que um dia Deus, na sua própria casa, vai oferecer a toda Humanidade.  Para acolher o convite de Deus e participar nesse banquete se faz necessário aceitar viver em comunhão com o seu pensar e o agir divinos. Dessa comunhão surgirá, para a humanidade, a felicidade total, a vida em abundância. A bíblia usa amplamente a imagem do “banquete” como símbolo da alegria gerada pelo encontro do humano com o divino. No contexto bíblico, o “banquete” é o momento por excelência da partilha, da comunhão, da formação de uma comunidade e da instituição de laços familiares entre os convidados. Estas características fazem com ele possua uma dimensão inegavelmente religiosa, pois, celebra a comunhão do povo com Deus, e marca a criação de laços familiares entre Deus e os fiéis. As expressões usadas pelo profeta (ricas iguarias, vinho puro, pratos deliciosos etc.), indicam a abundância de vida – vida plena e feliz – com que Deus vai agraciar os seus convidados. O profeta anuncia o que chamamos de “Tempos Messiânicos”. É o anúncio do início da nova era de paz e de felicidade sem fim, dizendo que “Deus vai eliminar para sempre a morte”, e que enxugará “as lágrimas de todas as faces” e exterminará a desonra do pecado em toda a terra.

            No Evangelho meditado hoje (Mt 22,1-14), continuamos em Jerusalém, nos dias que antecedem a Morte e Ressurreição de Jesus. Os líderes religiosos aumentam as calúnias, ofensas e perseguição a Jesus. Eles permanecem nas suas certezas e seguranças e decidem que a proposta de Jesus não vem de Deus, por isso, rejeitam o Reino que ele anuncia. O Mestre então conta-lhes outra parábola ainda com a esperança de alcançar-lhes o coração. A imagem do banquete, usada tanto pelo profeta Isaías como pelo próprio Jesus Cristo, nos recorda que Deus tem um projeto de vida, que deseja oferecer a todos os seres humanos, sem exceção e sem exclusão de ninguém.

O Evangelho sugere-nos que é preciso estar atento e não deixar o convite de Deus passar por nós sem uma resposta. Os interesses e conquistas mundanas não devem distrair-nos. A opção que fizemos no dia do nosso batismo não pode ser palavra momentânea, mas expressão de um compromisso sério, que deve ser vivido de forma coerente. Afinal o Apóstolo nos exorta a “não receber a graça de Deus em vão.” (cf: II Coríntios 6, 1-2). Esta advertência permanece sendo necessária também em nosso tempo. A cada dia estamos mais “ocupados” com nossos planos individuais e afazeres. E isto faz com que tenhamos a cada dia menos tempo para colaborar na missão da Igreja e anunciar o Evangelho. Estamos sempre muito ocupados como o mundo virtual e efêmero das redes sociais e pouco disponíveis para viver no hoje concreto com a família e com a nossa comunidade eclesial.

            A parábola manifesta ainda outra situação gravíssima. Recusar o convite era uma ofensa direta a honra de quem promovia o banquete. Todavia, é apresentado um agravante. De modo semelhante aos “vinhateiros homicidas” da parábola anterior, os convidados indignos não só rejeitam o convite e desprezam o rei, como também matam os seus servos. O Rei então envia mais servos para convidar a todos que sejam encontrados em todo e qualquer lugar. O sentido da parábola é claro: Deus é o rei que convidou Israel para o banquete do encontro, que manifesta a chegada dos tempos messiânicos. Os sacerdotes, os escribas, os doutores da Lei recusaram o convite e preferiram ficar com seus esquemas de autossalvação e seus preconceitos que levavam a exclusão. Então, Deus convidou para a festa do Messias os pecadores que – na perspectiva dos líderes religiosos –, estavam afastados e excluídos da comunhão com Deus e do Reino.

            A segunda parte da parábola narra um acontecimento que sempre me constrangeu. Quando eu era criança, ao ler esta parábola, sempre me inquietou a atitude do rei para com um homem em meio a alegria da festa. Um convidado que foi encontrado dentro do banquete sem usar a roupa adequada acabou sendo expulso. Meu infante coração acabava indagando: Diante de todo esforço do rei para ver o salão de festa cheio de pessoas para alegrar a festa de casamento do filho, por que o Rei age assim? Ele não convidou a todos? Esta parte da parábola constitui uma advertência, um aviso, para aqueles que aceitando o convite de Deus para a festa do Reino, acolheram e se decidiram pela proposta de Jesus e receberam o Batismo. Mateus lembra assim aos cristãos do século I, e a nós também, que a roupa exigida pelo rei como condição para permanência na festa é a prática dos ensinamentos de Jesus Cristo, isto é, a coerência na vivência da fé cristã. Quem foi batizado respondeu ao convite ao “banquete” do Reino. No entanto, se se recusar a vestir o traje do amor, da partilha, do serviço, da misericórdia, do dom da vida e continuar vestindo egoísmo, arrogância, orgulho, injustiça e corrupção, não pode permanecer na festa da comunhão com Deus. Deus chamou todos os homens e mulheres para participarem no “banquete”. Todavia, embora todos sejam admitidos e somente permanecerão aqueles que respondendo ao convite e mudarem completamente a sua vida para adequá-la ao plano salvífico de Deus. Assim, aprendemos que no reino dos Céus há espaço para “todos”, mas não para “tudo”. É algo que percebemos também na parábola da “porta estreita” (Mt. 7,13-14). É preciso entender que na história humana existem situações que são incompatíveis com os valores do Reino. Deus a todos convida, no entanto, para permanecer em sua graça, se faz necessário ter a disposição de coração para abandonar tudo que não condiz com os planos de Deus.

            Como exemplo disto tempos a segunda leitura (Fl. 4,12-14.19-20) onde São Paulo escreve aos filipenses pela prática da caridade expressa na ajuda que eles enviaram ao próprio apóstolo e as comunidades mais pobres. Com este gesto concreto, a comunidade cristã de Filipos, manifesta que é uma comunidade generosa e solidária, com a vivência do amor e em empenhada em testemunhar o Evangelho diante de todos os homens.

            Jesus falou certa vez que “a quem muito é dado, muito será cobrado” (Lc. 12,48). A nós cristãos foi dada a plenitude da Graça, logo a responsabilidade nossa é maior. Como convidados que acolheram o convite para o banquete, devemos oferecer o melhor testemunho e vivência da fé possível. Não pensemos que por termos respondido sim por meio do Batismo, podemos viver fora dos ensinamentos do Evangelho como se o Batismo fosse uma garantia de que nossos pecados ou erros não terão consequência na vida agora ou no nosso futuro. A todos os seres humanos basta-lhes aceitar o convite de Deus para ter acesso a essa festa de vida eterna. No entanto, aceitar o convite de Deus significa renunciar ao egoísmo, ao orgulho e conduzir a vida em harmonia com os valores de Deus. Aceitar o convite de Deus implica dar prioridade ao amor, testemunhando os valores do Reino que Jesus ensinou e viveu. Implica construir, já aqui, “novos céus e uma nova terra, nos quais habitará a justiça”. (2Pe. 3,13)) Uma nova terra de justiça, de solidariedade, de partilha, de amor.

            No dia do nosso Batismo, aceitamos o convite de Deus e comprometemo-nos com Ele. No Batismo fizemos uma escolha, uma opção que deve ser decisiva, confiante e alegre. Esta decisão não pode ser incoerente, inconstante e volúvel. Deve ser permanente e manifestada diariamente em nossos pensamentos, palavras, atos e ações.

Encerremos com o salmo que meditamos hoje na liturgia: “Felicidade e todo bem hão de seguir-me por toda a minha vida. E na casa do Senhor habitarei pelos temos infinitos”. Amém.

Pe. Paulo Sérgio Silva

Paróquia Nossa Senhora da Conceição – Farias Brito.

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