HOMILIA DO 27º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO A

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NOSSA MISSÃO É PRODUZIR FRUTOS DE SANTIDADE PARA O REINO DE DEUS

Ocupai-vos com tudo que é verdadeiro, respeitável, justo, puro, amável, honroso, tudo que é virtude ou de qualquer modo meça louvor.” (Fl. 4,8)

Amados irmãos e amadas irmãs!

            Ao longo destas três semanas acompanhamos Jesus Cristo formando seus discípulos missionários através de parábolas que possuem como intuito apresentar o Reino de Deus mediante a imagem da vinha. Estas três parábolas desejam apresentar a atitude rebelde que levou Israel a rejeitar o plano salvador que Deus apresentou por meio do seu Filho, Jesus Cristo. A primeira parábola nos falou da infinita misericórdia de Deus que a todos convida para servir no seu Reino (Mt. 20,1-6 -Parábola dos Trabalhadores da Última hora). A segunda nos falou de dois filhos convidados a trabalhar nesta vinha e quais as respostas que eles ofereceram (Mt. 21,28-32-Parábola dos Dois Filhos). Neste domingo, em pleno Mês Missionário, novamente uma parábola catequética, irá usar a imagem da vinha para falar de um povo que escuta o clamor do amor de Deus e que se coloca ao seu serviço.

Não há muitos “mistérios” para serem desvendados nesta parábola: A “vinha” é Israel – o Povo de Deus. O dono da “vinha” é Deus. Os “vinhateiros” são os líderes religiosos judaicos – os responsáveis de zelar a “vinha” fazer com que ela produzisse frutos bons. Os “servos” enviados pelo “senhor” são, evidentemente, os profetas e juízes que tantas vezes foram perseguidos, espancados, apedrejados e mortos. O “filho” morto “fora da vinha” é Jesus, assassinado fora dos muros de Jerusalém.

            O Evangelho (Mt. 21,33-43) nos coloca novamente diante de Jesus envolvido em mais uma polêmica com os grupos religiosos que rejeitaram seu plano redentor. Assim, ele retoma a imagem da vinha enquanto critica os líderes judaicos que tomaram posse do povo de Deus, mas se recusaram a oferecer a Deus os seus frutos pastorais. Jesus anuncia que a vinha vai ser-lhes retirada e vai ser confiada a trabalhadores que produzam e que entreguem a Deus os frutos que Ele espera.

            Na primeira leitura (Is. 5,1-7), somos apresentados a uma parábola ou cântico narrado pelo profeta Isaías que se utiliza também da imagem da vinha para falar da infidelidade do povo de Israel para com a Aliança. Na cultura judaica, a vinha é um símbolo do amor. E o profeta utiliza desta imagem para apresentar todos os esforços de Deus para alcançar o sempre rebelde povo de Israel.

 O “cântico da vinha” foi escrito em uma época de relativa tranquilidade, pois o povo se encontrava num clima de paz generalizada. Todavia, o profeta enxerga uma realidade diferente. A falsa paz esconde grandes injustiças. Os poderosos exploram os mais fracos, os juízes se corromperam, os donos de terras gananciosos se apropriaram dos bens dos mais pobres, os governantes oprimem os súditos, as mulheres ricas de Jerusalém vivem no luxo. No âmbito religioso, o culto florescia numa abundância de práticas de piedade e de solenes manifestações religiosas, no entanto, todo o culto é incoerente e mentiroso, pois não é resultado de uma verdadeira adesão aos planos de Deus, mas sim de tentativa de enganar as consciências e da pretensão de “comprar” o silêncio de Deus. A canção do profeta começa poética e comovedora e aos poucos se transforma em uma desilusão que grita por justiça. Deus é o “vinhateiro” e Israel é a “vinha”. Foi Deus quem trouxe de longe (do Egito) essas videiras escolhidas, e as plantou numa terra fértil (a terra de Canaã). Ele enviou empregado para protegê-la (profetas, juízes e sacerdotes), removeu dessa terra as pedras (os inimigos de Israel). Ele cuidou e amou a sua vinha. Como é que o povo respondeu ao zelo de Deus? O Povo produziu frutos contrário àquilo que Deus esperava: os poderosos cometem injustiças, os juízes não fazem justiça aos pobres e indefesos, os grandes derramam o sangue do inocente, os órfãos e as viúvas são maltratados e ninguém os defende. O profeta então anuncia que o amor de Deus pretende criar no coração do seu Povo uma vida nova que leve o amor ao irmão. Deus nos ama e espera que nos deixemos transformar pelo seu Amor e amemos os outros.

            No seu tempo, Jesus afirma que Jerusalém continua com a mesma infidelidade à Aliança que Isaías havia denunciado. Contudo, esta infidelidade ultrapassa todos os limites: não apenas a injustiça e corrupção continuam guiando a vida da cidade e oprimindo os mais fracos, mas levarão os líderes a perseguirem e matarem o “filho” do dono da vinha na esperança de roubar definitivamente a vinha que lhes fora confiada para dar bons frutos.  Eles rejeitaram a Pedra Angular que mantém a firmeza e fecundidade da vinha.  Diante disto, Mateus, afirma que “o Reino de Deus vos será tirado e será entregue a um povo que produzirá frutos”. (vers. 43)

            Longe de se resumir a uma mera crítica aos grupos religiosos que rejeitaram a missão de Jesus Cristo, Mateus deseja alertar seus irmãos de fé a não cair na mesma recusa. O evangelista percebe que os fiéis da sua comunidade esqueceram o entusiasmo da conversão e se instalaram em um cristianismo fácil, sem exigência, descomprometido e acomodado. Assim, com a parábola, ele exorta os seus irmãos da comunidade para que despertando do comodismo e do mau testemunho, vivam a fé coerentemente e passem a dar frutos próprios do Reino, vivendo fielmente as propostas de Jesus.

            Para nos ajudar a entender que frutos são os que Deus espera que produzamos, na segunda leitura (Fl. 4,6-9), Paulo exorta os cristãos filipenses e a todos os que fazem parte da “vinha de Deus” a viver na alegria, na amabilidade e na serenidade, respeitando o que é verdadeiro, nobre, puro, justo e digno. São esses os frutos do Reino de Deus. Nesta carta, escrita a uma comunidade cristã fincada no coração da Grécia – berço da filosofia, ética e moral –, São Paulo informa que os valores filosóficos sãos os mesmos anunciados pelo Evangelho, logo os cristãos devem ser, antes de tudo, testemunhas dos verdadeiros valores humanos.

            A lição fundamental da liturgia da Palavra é a da coerência com que vivemos o nosso compromisso com Deus e com o seu Reino. Como terra fértil e zelada pelo agricultor, de nós, seu Povo, Deus espera e exige frutos de amor, de paz, de justiça, de bondade e de misericórdia. A Vinha é a nossa missão. Deus a confiou a nós porque acredita que produziremos bons frutos. Deus não obriga ninguém a aceitar a sua proposta de salvação, entretanto uma vez que aceitamos trabalhar na sua “vinha”, temos de produzir frutos de amor, de serviço, de doação, de justiça, de paz, de tolerância, de partilha. Deus nunca estará disposto aceitar situações falsas, incoerentes ou mentirosas, pois exige coerência, verdade e compromisso. Para viver nossa fé de forma genuína precisamos permanecer alicerçados na Pedra Angular, Jesus Cristo. Como nos recorda Santa Tereza D’Ávila: “caminhando com os olhos fixos em Jesus Cristo

            A Igreja como resultado da vida das primeiras comunidades cristãs, é constituída por homens e mulheres que se comprometeram com o Reino e que trabalham na vinha do Senhor. Necessitamos, pois, produzir frutos bons e testemunhar gestos concretos de amor, de acolhimento, de compreensão, de misericórdia, de partilha, de serviço, o Reino que Jesus Cristo veio propor. Devemos fazer com que nossas liturgias solenes, nossos movimentos e pastorais que celebram a Ressurreição do Senhor, estejam ligados a vida cotidiana. Devemos urgentemente perceber que aquilo que celebramos no domingo é o que nós vivemos ao longo da semana e que aquilo que vivemos no cotidiano é o que deve nos levar a buscar a casa de Deus para louvar e agradecer o que sua graça nos deu a capacidade de realizar. Estamos com este domingo, vivendo as orientações do Mês Missionário, por isto, se faz tão necessário acompanhar nossa vida de oração com gestos concretos que expressem estes frutos do Reino de Deus. Realizar a Missão é cuidar da vinha que nos foi confiada e ver ela produzir frutos de santidade e de testemunho.

            Encerremos nossa partilha com o salmo, a expressão da oração do povo de Deus: “Dai-nos vida e louvaremos vosso nome! Convertei-nos, ó Senhor Deus do universo e sobre nós iluminai a vossa face! Se voltardes para nós, seremos salvos!

Pe. Paulo Sérgio Silva

Paróquia Nossa Senhora da Conceição – Farias Brito.

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