A alegria de ser fiel naquilo que nos foi confiado

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HOMILIA DO 33º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO A

DIA MUNDIAL DOS POBRES

A ALEGRIA DE SER FIEL NAQUILO QUE NOS FOI CONFIADO

“Muito bem, servo bom e fiel!  Vem participar da minha alegria”!

Amados irmãos e amadas irmãs,

A Liturgia deste Domingo nos recorda a responsabilidade de ser, na vida cotidiana, testemunhas conscientes, ativas e comprometidas desse projeto de salvação/libertação que Deus Pai tem para todos os seres humanos. Por isso, podemos afirmar que é um convite para continuar a temática da vigilância e da coragem.

Novamente, o Evangelho apresenta-nos um trecho do “discurso escatológico” (cf. Mt. 24-25), no qual Mateus reflete sobre o tema da segunda vinda de Jesus e indica a atitude com que os discípulos devem esperar e preparar essa vinda. Somos, mais uma vez, apresentados a uma parábola que deseja nos ensinar os mistérios do Reino dos Deus. Nela, Mateus nos apresenta dois exemplos contrários de como esperar e se preparar para a última vinda de Jesus: um servo que se esforça para fazer frutificar os “bens” que Deus lhe confia e um discípulo que se instala no medo e na acomodação e acaba não multiplicando o que Deus lhe entrega.

A parábola fala de “talentos” que um senhor distribuiu aos servos. Um “talento” é, na verdade, uma unidade de peso e medida que corresponde a cerca de 36 quilos de prata e equivale ao salário de aproximadamente três mil dias de trabalho de um operário. Com isso, Mateus manifesta a grandeza e o valor daquilo que Deus nos confia na esperança de que nós coloquemos esses dons a serviço dos irmãos e irmãs. O dono dos talentos seria Deus, que exige fidelidade e lealdade e que não aceita situações de acomodação, hesitação e de preguiça. Os seres humanos a quem Ele confia os valores do Reino devem acolher esses dons e multiplicá-los através do serviço e da doação da vida, a fim de que o Reino seja uma realidade na vida cotidiana de toda humanidade. No Reino de Deus não existe espaço para ambiguidades ou indecisões: ou se está completamente comprometido, ou não se está. “Conheço as suas obras, sei que você não é frio nem quente. Melhor seria que você fosse frio ou quente! Assim, porque você é morno, não é frio nem quente, estou a ponto de vomitá-lo da minha boca.” (Cf: Ap. 3,15-16).

Para nos ajudar a compreender como multiplicar os dons recebidos, a Primeira Leitura, retirada do Livro dos Provérbios, apresenta como exemplo, na figura da mulher virtuosa, alguns dos valores que conduzem a vida para a felicidade e a paz. São os princípios morais da responsabilidade, do trabalho, do compromisso, da generosidade e do respeito a Deus. No entanto, apesar de os nomear como valores da mulher virtuosa, esses princípios são valores que devem ser possuídos e vividos por todos e todas que desejam viver na fidelidade os planos de Deus e corresponder à missão que Deus lhes confiou. Esses valores, vividos cotidianamente, fazem aqueles que os vivem multiplicar os dons, tornando, assim, “O seu valor maior que o das pérolas”. (Cf: Pr. 31,10).

Na Segunda Leitura, Paulo, continuando na carta aos Tessalonicenses o tema da segunda vinda de Cristo, lembra que o importante não é saber quando virá o Senhor pela segunda vez. O mais urgente é estar atento e vigilante. É viver de acordo com os ensinamentos de Jesus, testemunhar os valores evangélicos e empenhar-se ativamente na construção do Reino de Deus. Mais do que sofrer na espera ansiosa da volta do Redentor, é urgente que “não durmamos, como os outros, mas sejamos vigilantes e sóbrios” (Cf: 1Ts 5,6).

Mateus escreve essa parábola também com a motivação de preparar bem sua comunidade para a segunda vinda do Senhor Jesus, no final dos tempos. A vinda do Senhor é uma certeza mesmo que não se saiba nem o dia ou a hora em que irá se realizar. Como professamos no Credo, quando voltar, Ele julgará conforme o comportamento praticado na sua ausência. Assim, na parábola, o “senhor” é Jesus que, antes de ascender ao Céu, entregou bens de valor incalculável aos seus “servos” (os discípulos missionários). Os “bens” são os dons que Deus Pai, através de Jesus Cristo e do Espírito Santo, ofereceu aos seres humanos. Como exemplo desses dons, podemos citar a Palavra de Deus, os valores do Evangelho, o serviço aos irmãos, o amor que se doa até à morte, a partilha, a misericórdia, a fraternidade, os carismas e ministérios que ajudam a construir a comunidade do Reino.

A parábola apresenta como modelos os dois servos que entenderam o valor e a importância dos “bens” e, por isso, se preocuparam em investir, não se acomodando por causa da preguiça, da rotina ou do medo. Todavia, condena e repreende o servo que entregou intactos os bens que recebeu. Ele, por causa do medo, não quis correr riscos. Como discípulos missionários, estamos fazendo frutificar os dons que Deus nos deu? Estamos seguindo a exortação do Apóstolo Pedro, que nos aconselha: “Cada um coloque à disposição dos outros o dom que recebeu”? E, ainda: “Se alguém tem o dom de falar, proceda como com palavras de Deus. Se alguém tem o dom do serviço, exerça-o como capacidade proporcionada por Deus; que em todas as coisas, Deus seja glorificado”? (1Pe 4,10).

Cristo passou no mundo fazendo o bem e se doando pela humanidade. Nós, cristãos, somos o “corpo de Cristo”. Uma vez que nos identificamos com Cristo, temos a grave responsabilidade de O testemunhar e de deixar que, através de nós, Ele continue a amar os seres humanos que caminham ao nosso lado pelos caminhos do mundo. Os dois “servos” da parábola, que fizeram frutificar os “bens”, lutaram, esforçaram-se, arriscaram-se. Todos os dias e em todos os lugares, como cristãos, somos convidados a ter a ousadia e a coragem de arriscar. Não aceitar a injustiça e lutar contra ela. Não pactuar com o egoísmo, o orgulho, a prepotência. Não podemos silenciar os valores do Evangelho em troca de algum agrado vindo dos poderosos. Todavia, assim como o terceiro servo, infelizmente há cristãos que desistem por medo ou conveniência. Desistem de participar da construção de um mundo melhor. Limitam-se a cumprir as regras ou se escondem no comodismo. Vivem sem força, sem vontade, sem coragem de ir mais além e até decidem compactuar com a injustiça e a corrupção apenas porque recebem um emprego, um benefício, enquanto os outros sofrem, são perseguidos e humilhados.

Deus não impõe nada. À nossa frente são colocadas as escolhas e decisões. São elas que nos aproximam de Deus ou nos afastam do seu Reino de amor. Como decidimos agir e viver isso, sim, será decisivo no final de nossa vida. A partir do que vivemos, ouviremos no entardecer de nossa vida: “Vinde, servo bom e fiel” ou “Afastai-vos de mim, servo infiel! Deus não se guarda nem se poupa para nos reconduzir ao bom caminho. Como filhos e discípulos, ajamos do mesmo modo, ofertemos nossa vida generosamente, pois ela é o maior dom que Deus nos ofertou.

Encerremos meditando e rezando o Salmo: “Será assim abençoado todo homem que teme o senhor. O Senhor te abençoe de Sião, cada dia de tua Vida”.

Padre Paulo Sérgio Silva

Pároco da Paróquia São Sebastião, em Mangabeira, distrito de Lavras – CE, e professor no Seminário Diocesano São José, em Crato-CE.

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