MAIO: PÁSCOA, PENTECOSTES E MÊS MARIANO*

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Tradicionalmente tem-se celebrado o mês de maio com um tom mariano. Porém ultimamente parece haver razões para se questionar este caráter mariano de maio: estamos em pleno Tempo Pascal, o tempo forte por excelência do ano cristão, e a atenção não pode ser dispersada, este Tempo Pascal chega a plenitude com Pentecostes, quando o Ressuscitado nos dá seu melhor Dom, o Espírito Santo. Tampouco haveria de dispersar a atenção deste mistério tão intimamente unido à Páscoa; além do mais, o Papa Paulo VI, em sua exortação Marialis Cultus, deu à Igreja a consideração de que o tempo mariano por excelência é do Advento e Natal.

Quer dizer que o mês de maio perde de tudo sua orientação mariana? Não deveria ser assim! A tradição marca nossa sensibilidade e não se pode abandonar impunemente os costumes que tem ajudado o povo cristão a viver sua fé. Além do mais, a recordação da Virgem em maio não tem porque dispersar-nos da celebração da Páscoa de Cristo e de seu Espírito. Assim como no Advento e Natal a Virgem dirige nossa atenção a Cristo no mistério de sua Encarnação, assim na Quaresma e Páscoa a mesma Virgem pode ser a melhor mestra para que olhemos a Cristo e vivamos o mistério de sua morte e ressurreição, assim como a doação do Espírito à Igreja. Ela que esteve maternalmente presente na espera e no nascimento de Jesus, esteve também em sua morte e ressurreição. O que deveríamos saber fazer é conjugar todas estas dimensões.

Maria é a que melhor viveu a Páscoa de Cristo. Se há alguém que tem assimilado este mistério tem sido ela. Ela que esteve ao pé da Cruz. Ela que se alegrou mais que ninguém da vitória de seu Filho. Ela que esperou o Espírito junto com a comunidade. Ela que seria, em sua Assunção, a primeira a obter ao máximo em seu corpo e alma a Páscoa de seu Filho. (Continua na próxima edição).

É verdade que os evangelhos não nos falam de nenhuma aparição de Jesus à sua Mãe, porém dizem que estava junto à cruz e no cenáculo no dia de Pentecostes. Os textos litúrgicos sim é que tem decidido a cantar esta alegria pascal da Mãe. Um das antífonas melhores da Páscoa é a Regina Coeli (Rainha do Céu). Nos unimos, nela, a alegria da Mãe do Ressuscitado: alegra-te Rainha do céu, alegra-te, porque o Senhor está ressuscitado de verdade.

Unir, em maio, os dois pensamentos não nos causa dificuldades. Não nos dificulta. Ao contrário, nos ajuda a centrarmos na vida nova do Cristo. Porque Maria é o maior êxito de Cristo, o melhor fruto de sua Páscoa.

Maria é a que melhor deixou-se encher do Espírito. Já na Anunciação havia decido sobre ela o Espírito, fazendo-a Mãe. Agora ela está presente com os demais discípulos, esperando e recebendo em plenitude o Espírito. Nossa Senhora do Pentecostes. Nossa Senhora plena do Espírito. Por isso é também a primeira cristã, o membro mais dedicado da comunidade eclesial, comunidade de Cristo e do Espírito Santo. Ela que melhor soube viver o evangelho, como consequência da Páscoa.

Por tudo isto, ao recordar Maria no contexto da Páscoa pode trazer-nos benefícios para nossa vida de fé.

Maria não diminui a centralidade de Cristo e seu Espírito, mas ao contrário, ela nos dá o melhor exemplo de resposta a esta centralidade e se converte na melhor mestra para viver a Páscoa e Pentecostes. Está cheia dos dons de Cristo e do Espírito e pode ajudar-nos a ficarmos cheios deles.

Maio e Páscoa. Maio e Pentecostes. A Virgem e Cristo. A Virgem e o Espírito. Admirável conjunção da iniciativa de Deus e da resposta humana. Santa Maria de Pentecostes. A Virgem, Mãe do Ressuscitado. A Virgem, primeira crente. A primeira que foi salva pela Páscoa de Jesus. A mais intimamente associada à vida nova da Páscoa. A Virgem dócil ao Espírito. Modelo de vida no Espírito. Roga por nós!

Não será supérfluo lembrar algumas sugestões práticas nesta direção: revisar o repertório de cantos marianos e eleger, sobretudo os mais pascais, que tenham a Cristo ou o Espírito como protagonistas; valorizar nas Vésperas o canto do Magnificat, um verdadeiro hino pascal que Lucas põe nos lábios da Virgem; cantar a antífona mariana no final das Completas (ou das Vésperas); valorizar a reza do Rosário, escolhendo os mistérios gloriosos, acompanhados de alguma leitura bíblica adequada; cantar a Reina Coeli (Rainha do Céu), por exemplo antes da comida, nas comunidades religiosas.

*Por José Aldazábal (Teólogo)

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