Por que, na Semana Santa, cobrimos as imagens do santos?

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A aposentada Maria Alves, 68 anos, não sabe dizer por que cobre os santos da parede de sua casa, no bairro Mutirão, em Crato. Sabe, no entanto, que esse era um costume da mãe, que foi passado pela vó.

Na sexta-feira, que antecede a Semana Santa, ela toma um ônibus e vai ao centro da cidade atrás de tecido roxo, mesma cor litúrgica usada pela Igreja neste período, sinal de penitência. E compra “mais de metro”. Se, por acaso, vier a faltar “pano”, ela “vira os santos pro lado da parede”. Os da sala e os do quarto, gesto que se repete desde que se casara, há cinquenta anos.

A filha, observando o costume, também quis segui-lo. E todo dia, às seis da manhã, as duas põem-se na “beirada da cama”, para rezar o Terço e o Ofício de Nossa Senhora. No domingo de Páscoa, ao som de vivas e aleluias, retiram o pano e “desviram” os quadros com as imagens, mas continuam a rezar o Terço e o Ofício.

Padre George de Brito, mestre em Teologia Dogmática, e pároco da Paróquia Sagrado Coração de Jesus, em Crato, explica que tal prática é chamada “Velatio”. A palavra é proveniente do latim e significa “velação” ou “cobrimento”. É feita no sábado, véspera do 5º Domingo da Quaresma. Está indicada, de modo obrigatório, no Missal do Papa Pio V, no rito extraordinário, também conhecido como a “celebração da Missa em latim”. No rito atual, conforme o Missal do Papa Paulo VI, essa indicação deve ser conservada nas igrejas que têm o costume de cobrir as imagens.

“Antigamente os padres, conforme o Missal de Pio V, cobriam as imagens com véu roxo, para indicar que toda a atenção do templo santo deve estar voltada para o Altar do Senhor, onde se celebra a Eucaristia, onde acontece a consagração do Pão e do Vinho, a oferenda, por excelência, ao Senhor”, explica Padre George.

Ainda de acordo com ele, atualmente essa prática não é obrigatória, mas há uma indicação de que se conserve o costume (pelo menos nas igrejas que já o seguia desde muito), para tornar o ambiente mais sóbrio. A intenção é fazer com que a assembleia “aprecie o evento salvífico que acontece, de modo sacramental, diante dos nossos olhos, a consagração do Pão e do Vinho”.

Velatio na Igreja Catedral de Crato. Foto: Patrícia Mirelly

Padre George pondera que a intenção é deixar o ambiente sóbrio, não sombrio. “Não é para as imagens se tornarem algo assustador, um fantasma. Não. É um ‘cobrir’ as imagens, para que as pessoas não tenham outras distinções, não venham a se distrair quando o mistério estiver sendo celebrado, fazendo com que haja inteira comunhão entre o sacerdote e a comunidade que estão celebrando aquele mistério”.

Já as famílias, que também observam o “velatio”, fazem-no com a mesma intenção: evitar que o olhar se desvie do Cristo Cordeiro, imolado e sacrificado. “O povo apenas pegou aquilo que acontecia na Igreja e levou para a sua casa. Não é, propriamente, sinal de luto, é sinal de tentar viver – experimentar  – o mistério que acontece com Jesus Cristo”, conclui o Padre.

Luci Belém, paroquiana da Sagrada Família, em Crato, não cobre os santos de sua devoção, mas recorda que este também era um costume da mãe e da avó. Para manter os preceitos da Semana Santa, ela procura fazer outros tipos de penitências, próprios deste período – e mesmo antes, na Quaresma, durante os quarenta dias que antecedem a Páscoa.

“Eu não cubro os santos da minha casa, mas, para mim, esta é uma semana diferente, em que a gente procurar ‘se observar’ mais. Não é uma semana de tristeza, é uma semana de reflexão sobre como temos vivido e que práticas a gente precisa deixar de lado”, considera.

Por: Patrícia Mirelly especial para a editoria “Formação”

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