Caminhada de Filomena reúne centenas de fiéis no sítio Pereiros, em Mauriti

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O testemunho da mauritiense Maria Filomena de Lacerda, que, em vida, muito dedicou-se à oração e serviço à Igreja, fê-la conhecida em toda a região como aquela cuja vivência nos perpassa a imagem de uma mulher temente a Deus, que viveu em intimidade com Pai Celestial através dos piedosos exercícios de oração e zelo pelas coisas sagradas.
Ocorre que em um dado momento de sua vida Filomena passa a enfrentar dias amargurados ao saber que o esposo mantinha um relacionamento extra-conjugal com outra mulher, embora conservando-se, em todo tempo, fiel ao matrimônio, à Santa Igreja e a vida de oração, o que frutificou nela a paciência ante sofrimento que lhe acompanhara.
O que Filomena não esperava, no entanto, era que o cônjuge viesse a atentar contra a sua vida. Numa fatídica madrugada, quando o mês de julho contava 21 dias no ano 1975, seu esposo, acompanhado da amante, abordam-na na residência do casal e, juntos, (o esposo e a amante) ceifam a vida de Filomena.
É por isso que, anualmente, centenas de fiéis acorrem ao local da tragédia para rezarem em sufrágio de sua alma. Lá, no último domingo (14/07), sob o local onde era a casa em que Filomena viveu com o esposo, dispõe uma pequena ermida onde fiéis esmeram em orná-la com flores, velas e pedidos de súplicas ou agradecimentos na certeza que Filomena, por meio de seu testemunho, estando assentada à morada celeste, intercede a Deus em favor daqueles suplicam por seu intermédio. Há também um mural com inúmeras fotos em reconhecimento de pessoas que alcançam alguma graça.
É o que conta a Dona Ana Lúcia. Ao ser diagnosticada com um câncer, em 2017, recorreu a cura à medicina. Contudo, as orações foram fundamentais para que, hoje, ela possa afirmar não ter mais nenhuma sequela da doença. E essa cura é atribuída também a intercessão de Filomena por meio das orações que os seus confiaram a ela. Tanto que, nesta manhã, depois da missa, um terço foi rezado por ela em agradecimento.
 
“Graças a Deus eu fui curada desse C.A, sem sequelas, sem nada. Hoje eu estou aqui contando a história e eu vim por testemunho porque a Marta [a amiga que esta ao seu lado] também orou por mim, pediu a Filomena por mim e hoje eu vim agradecer a essa graça”, contou.
Caminhada 
 
O local onde Filomena sofreu o assassinato fica no sítio Pereiros, que dista 5 km do centro Mauriti-CE. Em busca de lá os fiéis saem da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, em caminhada, anualmente, sob o alvorecer do segundo domingo de julho (mês da tragédia). O horário marcado para a saída é sempre às cinco da manhã.
Neste domingo, peregrinos dos mais variados recantos do município de Mauriti fizeram o percurso. É nele que eles veem despontar os primeiros raios de sol que anunciam o dia. Sob a aurora que precede o amanhecer, que favorece a piedade e oração, meditam mistérios do Santo Rosário, devoção que Filomena guardava com grande zelo.
A caminhada, este ano, registrou seu 9° ano de realização. Ela acontece desde 2011, quando Franciscana (in memorian), irmã de Filomena, levou a sugestão ao padre Antônio Luís do Nascimento, administrador paroquial de Mauriti na época. Sob o seu consentimento, foi firmado o compromisso de realizar tal peregrinação.
Santa Missa 
A programação para este dia culmina com a Celebração da Eucaristia em sufrágio da alma de Filomena. Padre Fernandes José, pároco de Mauriti-CE, presidiu a Missa na ermida que foi construída sob o local onde fora a residência de Filomena e do esposo. Concelebrou o padre Valdir Gomes (filho de Mauriti), assistidos pelo diácono José Santana Barbosa.
“A liturgia da palavra de Deus veio nos recordar essa verdade que anda um pouco escassa: a palavra compaixão; misericórdia. É interessante porque estamos usando tanto para falar de Jesus Misericordioso, mas não estamos, ultimamente, agindo com tanta misericórdia como deveríamos agir. Não estamos tendo sentimento de tanta compaixão como deveríamos ter. O Evangelho está nas entrelinhas de ‘fazer o bem sem olhar a quem’. A parábola que Jesus Cristo acaba de nos contar no Evangelho (Lc 10 , 25-37) demonstra essa realidade. Esse homem, que foi pego pelos assaltantes, espancado, saqueado, tiraram o que ele tinha não só financeiramente, mas a sua dignidade, o seu respeito. Foi ferido como pessoa; jogado à beira da estrada. O Evangelista de hoje tem essa preocupação de passar esses detalhes. Se eles passam despercebidos aos nossos olhos, seríamos incapazes de compreender qual a verdadeira mensagem que Jesus Cristo quer nos passar. Ele ficou impossibilitado de andar, de fazer o que estava fazendo que, com certeza, era uma peregrinação. Passaram muitos outros, mas somente um samaritano tem a atitude de parar e cuidar daquele homem. Tem uma atitude de compaixão, de misericórdia. Ele não procura saber o que ia fazer, se tinha posse, quem ele era. Ele simplesmente acolhe esse homem e pratica a misericórdia. Ele vive a compaixão porque sofre com aquele homem”, refletiu.
 A partir desta reflexão inicial padre Fernandes explica a diferença entre os sentimentos de pena e misericórdia.
“Ele [o samaritano] não tem pena, porque a pena é um sentimento passivo, ‘eu não me envolvo com o sofrimento daquela pessoa’. Compaixão, não, ‘eu estou com aquela pessoa; me coloco no lugar dela’, e é assim que age o samaritano.” , explica.
“É nisso que consiste o mérito de ser cristão. A diferença do ser cristão é agir com o próximo sem próximo sem buscar quem é esse próximo. Agir porque ele precisa; necessita”, disse.
Para saber mais
Filomena era uma mulher religiosa e temente a Deus. Estudou no colégio das Filhas de Santa Teresa, em Crato-CE. Em um de seus períodos de férias, conhece aquele que, futuramente, seria seu esposo. Encantada pelo amor matrimonial, casa-se. No entanto, o esposo busca outra relação amorosa fora do casamento. Filomena soubera de tudo, mas conformava-se não abandonando a relação, mas confiando na providência divina o seu sofrimento.
“(…) até o presente momento momento vou vivendo como Deus quer. Não tenho mesmo assunto para bem me explicar. Digo-vos, assim, o meu calvário. Não como a torre de Babel, mas, por Maria Santíssima, – Mãe de Jesus e nossa Mãe, porque também é Mãe da Igreja, que somos todos nós – mãe, pela confiança que tenho em Nossa Senhora, acredito mesmo que tudo quanto vai se passando em minha pobre vida é permitido por Deus”, escreve a sua mãe, dois meses antes da tragédia.
Aqueles que chegaram a conheceram relatam a vivência de fé tida por Filomena.
“Gostavam de andar de branco, com o ‘tercinho’ na mão e ‘fita do coração de Jesus’ [a fita dos membros do Apostolado da Oração]. Andava rezando”, disse dona Letícia de Oliveira, que mora no sítio Apanha Peixe há 50 anos, e que conheceu Filomena. A comunidade de dona Letícia é a que fica antes do sítio Pereiros, onde Filomena morou e foi assassinada, e que dá acesso do sítio de Filomena a cidade de Mauriti, especificamente, à Igreja Matriz, para onde Filomena sempre ia.
O diácono José Santana diz que o que a comunidade, hoje, pode observar no testemunho de Filomena é que vale a pena viver com ela viveu: “amando o Evangelho, a Deus sobre todas as coisas e o próximo como a si mesmo e deixando-se conduzir por Deus para ser instrumento em suas mãos na ação missionária da Igreja. Foi catequista! Através do seu testemunho, continua a evangelizar dando esse testemunho de vida, fé, piedade e de amor a Deus sobre todas as coisas”, disse ele, que faz parte da comissão organizadora da Caminhada.
Após a Missa, houve um café partilhado.
Por Pastoral de Comunicação – PASCOM
 
 

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